 |
Fonte: Relatórios e Contas da Benfica SAD, Porto SAD e Sporting SAD (CMVM) |
Benfica: A Benfica SAD aumentou a sua facturação face a 2013/2014, subindo dos 184,7M€ para os 186,0M€, tendo os custos igualmente subido dos 170,5M€ para os 178,9M€, devido à aquisição do Benfica Stars Fund e aumento dos gastos com transações de jogadores. O lucro em 2014/2015 situou-se no 7,1M€.
Seguindo as boas práticas de gestão, a Benfica SAD tem mantido os proveitos operacionais próximos dos custos operacionais (102,0M€ vs 106,5M€), e os proveitos com a venda de jogadores (78,8M€) permitiu cobrir o investimento em jogadores + custos com a transacção de jogadores (43,9M€), e também os custos financeiros e custos de investimentos (28,8M€). Esta época, com a aquisição do Benfica Stars Fund existiram custos de investimento "líquidos" a rondar os 6M€ que estão considerados nesta última rúbrica.
Uma SAD em Portugal tem de vender sempre jogadores para pagar as contratações e os custos com os juros da Banca, e é isso que o Benfica tem feito. A Benfica SAD obteve 78,8M€ essencialmente com proveitos nas transacções de Enzo Perez, Bernardo Silva, João Cancelo, Oblak, Markovic e Cardozo. As vendas de Ivan Cavaleiro e de Lima só serão registadas em 2015/2016. Tal como já escrevi há alguns dias a Benfica SAD tem de começar a ser mais criteriosa nas Contratações que realiza, investindo apenas nas posições-chave da equipa titular, e dessa forma poderá evitar investir em "suplentes/emprestados" caros e dispendiosos.
Em termos de Activo e de Passivo, o Benfica tem a sua situação equilibrada com um Activo de 430,2M€ e Passivo de 429,6M€, sem ter necessidade de recorrer aos VMOC's como a Sporting SAD fez, ou sem recorrer a Interesses sem Controlo como aconteceu com a Porto SAD. Os 2 rivais tiveram de recorrer a aumentos de capital das SAD's, nos últimos meses, para cobrir prejuízos que têm vindo a acumular.
Porto: A Porto SAD viu a sua situação financeira e patrimonial agravar-se imenso nos últimos meses, devido aos prejuízos das últimas épocas. Sem o Aumento de Capital da SAD poderia ter corrido o risco de ficar de fora das Competições Europeias, devido aos prejuízos acumulados. Em 2014/2015, a Porto SAD vendeu muitos mais jogadores do que na época passada e essa política ajudou a inverter a situação da Porto SAD, que apresentou 186,8M€ de proveitos e 166,8M€ de custos.
No entanto os 20M€ de lucro só foram possíveis porque a Porto SAD, de uma forma pouco transparente, anunciou a 1 hora da "época" terminar um princípio de acordo para a transacção de Jackson Martinez, por 35M€, mas essa transferência só foi oficializada pelo Atlético de Madrid 2 semanas após o exercício económico 2014/2015 ter terminado. Sem essa operação a Porto SAD teria tido tido prejuízos superiores a 10M€.
Em termos de Proveitos Operacionais, a Porto SAD alcançou 93,6M€ e teve Custos Operacionais de 110,3M€, tendo um saldo negativo "crónico", mas esse saldo ainda é mais negativo do que aparenta ser porque a Porto SAD registou nesta época o prémio de participação na Champions League que normalmente registava no final da época passada, já que costumava fazer o registo no exercício económico em que o apuramento acontecia.
A Porto SAD na época 2014/2015 gastou 70M€ de custos de pessoal, tal como já tinha sido previsto que aconteceria nas análises anteriores, o que originou um aumento de 20M€ nos custos de pessoal em apenas 1 época.
Em termos de Venda de Jogadores a situação também não estava "famosa". Segundo o orçamento previsional do início da época, a Porto SAD necessitava de 66M€ de mais-valias com venda de jogadores para equilibrar as suas contas e tiveram de registar a venda de Danilo nos últimos dias de Março, para equilibrar o orçamento dos Primeiros 9 meses do ano, e também anunciaram a transferência de Jackson Martinez a 1 hora de terminar o exercício de 2014/2015 e conseguiram dessa forma "salvar" as contas nos últimos momentos da época terminar. Mais uma vez confirmou-se o que tinha anunciado há 6 meses, ao prever a venda de Jackson e de Danilo. A venda de Alex Sandro só será considerada em 2015/2016.
Em termos de Activo e de Passivo, a Porto SAD tinha capitais próprios negativos que apenas foram resolvidos com a incorporação de 47% da EuroAntas (detentora do Estádio do Dragão) nas contas da Porto SAD, tendo o Porto realizado a consolidação segundo o método integral, considerando 100% dos Activos e 100% dos Passivos dessa empresa, eliminando operações intra-grupo e considerando os Interesses Sem Controlo (58,3M€) que dizem respeito ao Porto Clube.
Sporting: A Sporting SAD facturou quase metade da Benfica SAD e da Porto SAD e gastou menos de metade da Benfica SAD e da Porto SAD, apresentado 100,5M€ de proveitos e 81,2M€ de custos.
Para estes resultados, muito contribuíram 5 situações GRAVES e pouco TRANSPARENTES, que terei de voltar a analisar:
1ª situação (Caso Rojo/Doyen): Para esses resultados muito contribuiu o registo a 100% da venda do Rojo, e novamente reafirmo que é pouco compreensível como é que os auditores da Pwc (pricewaterhousecoopers) permitiram registar a totalidade da mais-valia do Rojo, sem a realização de uma provisão, tendo em conta o litígio da Doyen com o Sporting no TAS (Tribunal Arbitral do Desporto). Só nesta operação existem mais de 15,75M€ de proveitos questionáveis, que por norma não deveriam ter sido registados da forma que o foram. A Doyen só recebeu 3M€ e reclama pelo menos 18,75M€ + juros de mora.
2ª situação (Caso BES/BCP): Para o resultado positivo apresentado, a Sporting SAD está a beneficiar de um perdão de juros atribuído pelo NovoBanco e Millenium Bcp, que terá rondado os 10M€/Ano a 15M€/Ano, além de proveitos financeiros considerados devido à "reestruturação" com a banca, que superaram os 10M€ registados em 2014/2015.
Ou seja, sem a influência destas 2 situações "anormais" (Caso "Rojo/Doyen" e Caso "BES/BCP"), os Resultados com Atletas deveriam ter sido agravados em 15M€ e os Resultados Financeiros deveriam ter sido agravados em mais de 20M€. Ou seja, a Sporting SAD teria facturado cerca de 75M€ e teria tido custos a superar os 90M€, apresentado mais de 15M€ de prejuízos em 2014/2015, em vez dos 19,3M€ de lucros apresentados.
Em 2015/2016 poderá acontecer exactamente o contrário. Não poderão considerar os mais de 10M€ de proveitos financeiros "anormais" por causa da reestruturação, e se perderem o caso Doyen, em vez de terem os 15M€ de proveitos registados em 2014/2015, poderão ter 15M€ de custos "extra" registados em 2015/2016. Quanto ao perdão de juros, parece que essa situação de "concorrência desleal" está para durar.
Ao nível dos Activos e Passivos, surgem outras 3 situações igualmente "graves" face às 2 situações que referi anteriormente sobre os Proveitos e Custos (caso Rojo e caso BES).
3ª situação (VMOC's): A Sporting SAD teve de recorrer a uma reestruturação financeira que envolveu um aumento de capital da SAD, passagem da SPM para a SAD (empresa detentora dos direitos de superfície do Estádio de Alvalade), e recorreu a 127,9M€ de VMOC's, que são obrigações (financiamento) que serão obrigatoriamente convertidas em acções dentro de menos de 1 Ano (1ª emissão) e 10 Anos (2ª emissão). Quanto às VMOC's das 2 uma: ou o Sporting dentro de 3 meses arranja 55M€ "brutos" e 47,9M€ "líquidos" (1ª emissão de VMOC's) e dentro de 10 Anos arranja 80M€ (2ª emissão de VMOC's) para adquirir as duas emissões de VMOC's, ou então a Sporting SAD passará a ser detida maioritáriamente pela Banca, ou por "investidores externos", no espaço de 3 meses ou de 10 anos. Apesar de as VMOC's não serem registadas contabilisticamente como Passivo, na prática são responsabilidades que o Sporting terá de assumir se quiser manter o controlo maioritário da SAD.
4ª situação (Direitos de Superfície): Com base na informação do R&C, sabe-se que o Sporting "valorizou" os direitos de superfície do Estádio de Alvalade em 208,9M€ "brutos" e 146,1M€ "líquidos", e passou-os para a Sporting SAD! Esta é uma mera operação de "cosmética" para tornar mais bonito o R&C da SAD, já que se trata de uma operação intra-grupo, sem qualquer reflexo no R&C Consolidado do Grupo Sporting.
5ª situação (Ocultação de Passivo em outras entidades do Grupo Sporting - Clube e SGPS): Tal como avisei, em 1ª Mão e em "Exclusivo", neste Blog há mais de 1 ano, a situação do Grupo Sporting é muito "grave". Essa situação foi confirmada pelo próprio Presidente do Sporting, Bruno de Carvalho, na AG do Sporting realizada a 28 de Junho de 2015:
174,7M€ de Activo consolidado
487,1M€ de Passivo consolidado
(312,5M€) de capital próprio negativo
... e Prejuízos acumulados de 357,5M€
(situação a 30 de Junho de 2013)
Considerando as 5 situações relativas ao Sporting: 1) "Caso Rojo", 2) "Caso BES", 3) VMOC's que poderão levar à venda do Sporting à Banca ou a Investidores Externos, 4) Operação de "cosmética" com os direitos de superfície do Estádio de Alvalade, 5) Ocultação de Passivo em outras entidades do Grupo Sporting (Clube e SGPS), é fácil de perceber a "péssima" situação em que o Grupo Empresarial do Sporting se encontra.