Rui Vitória
esteve por cima
O Benfica fez um grande jogo em Alvalade? Longe disso.
Tivesse o Benfica perdido essa partida, e mesmo tendo em conta que a nível de
meio campo o Benfica até teve algum ascendente, por aqui haveriam muitos a
questionar-se como é que uma equipa que quer ser campeã vai a Alvalade e não
permite uma defesa a Rui Patrício.
Mas dito isto é justo reconhecer que tendo as defesas de
ambas as equipas sido superiores aos ataques das mesmas, no meio, onde se
esperava que o Sporting fosse mais forte e conseguisse desenvolver o jogo como
mais gosta, o Benfica raramente lhes deu essa hipótese.
Muito raramente o Sporting fez três passes seguidos sem
perder a bola, é certo que também raramente o Benfica o fez, mas fica a
sensação de que taticamente Rui Vitória sabia como anular o Sporting, o que não
deixa de ser uma grande notícia para todos.
Pizzi
Fez um grande jogo num jogo grande. Muitas vezes acusado
de só faz grandes jogos em jogos pequenos, em Alvalade Pizzi desmontou essa
teoria. Grande jogo a nível tático, físico e mental, com entrega, atitude,
liderança, cabeça levantada, sempre a ler o jogo de cima e a “procurar” fazer a
equipa jogar.
Se há dias em que é criticado com alguma justiça, também
é justo reconhecer que há três anos atrás muito poucos adivinhariam que um dia
Pizzi poderia ser o esteio do meio campo encarnado, que é aquilo que é hoje,
goste-se ou não se goste do estilo.
A acontecer este ano o Tetra Campeonato, é justo
reconhecer, há muito de Pizzi.
O Discurso
Rui Vitória tem melhorado imenso na área de comunicação,
e hoje já se pode dizer que temos treinador para dar murros na mesa e para ter,
a espaços largos, um discurso à Benfica.
Grande conferência de imprensa pós-jogo, a mostrar que
longe vão os tempos em que o fio condutor dessas conferências era ditado pelos
jornalistas.
Luís Filipe Vieira também, grande intervenção no pós
jogo. Não vou aqui discutir tanto aquilo que foi dito (aqui há coisas com que
concordo mais e outras menos), mas o tom, a serenidade e a personalidade com
que falou. Foi de líder, e em tantos momentos no passado LFV não tinha
capacidade para fazer transparecer (pelo menos aos olhos de quem não o conhece e apenas o ouve
na TV) essa liderança.
Os Alas
Como disse acima, a nível de meio campo, o Benfica anulou
quase sempre aquelas que eram as grandes armas do Sporting. Mas também é
verdade que com a bola no pé, revelámos quase sempre grande falta de
imaginação.
Individualmente não houve arte para criar superioridade
no 1X1, a nível coletivo não houve arte para ultrapassar o meio campo do
Sporting, e a solução passou quase sempre por chutões para Mitroglou ou para as
costas dos laterais do Sporting, à espera de uma correria de um ala encarnado
que conseguisse chegar à linha de fundo.
E aqui, deixo apenas algumas ideias para discussão,
porque sinceramente não tenho ideia formada sobre este assunto, apenas algumas
dúvidas:
O Benfica não tem UM ala em forma neste momento, aliás,
arrisco-me a dizer, há muito tempo. Sabendo que é nas alas que, EM TEORIA, o
Benfica tem a arte, questiono-me de facto se sou eu que acho que temos Robbens
e Riberys e se calhar só temos Sabrys, ou se de facto temos Robbens e Riberys
mas o jogo coletivo de Rui Vitória os faz parecer como Sabrys.
Continuo a achar que o Benfica tem arte na frente para fazer muito mais do ponto de vista ofensivo, para ser capaz de criar desequilíbrios coletivamente
sem ter de ser sempre por fazer os alas correr a 100 à hora e tentar
ultrapassar o opositor no 1X1.
Eu, que tantas vezes aplaudi a contratação de Rafa este
ano, não percebo por exemplo este apagão. Ok, podem-me dizer, em contra ataque
no Braga era mais fácil e no Benfica em ataque continuado há menos espaço. Mas
nem em jogos Grandes no Benfica, em que temos a oportunidade de jogar em contra
ataque e com espaço tem havido Rafa.
É difícil entender como é que no Braga, em jogos grandes,
em que Rafa concentrava sozinho toda a atenção da defesa adversária e mesmo
assim era capaz de ser um perigo constante, e agora no Benfica, onde em teoria tem
até a vantagem das defesas adversárias não poderem dar-se ao luxo de se
preocupar apenas com ele, Rafa estar tão pouco em jogo e com tantas decisões
erradas. Problema de mentalidade? Talvez.
Mas quem diz Rafa, diz Cervi, diz Zivkovic, diz Sálvio, e
não digo Carrilho porque para mim este está há muito tempo a mais. É que Rafa
ainda o vejo ser substituído, chegar ao banco e atirar as caneleiras ao chão,
sinal que está descontente com aquilo que produziu e que quer mais. Carrilho dá
a sensação que não está nem aí, que ganhar ou perder, jogar muito ou pouco, passa-lhe completamente ao lado.
Riberys ou Sabrys?! Fica pois a dúvida no ar. Fica a
dúvida se é Rui Vitória que não tem ovos para ganhar com um pouquinho mais de nota artística, ou se os tem e não conseguiu ainda "olear" as omoletes para criar um jogo coletivo mais letal do ponto de vista ofensivo que ponha os seus "artistas" mais em jogo. E fica a dúvida que tenho se este é um Benfica a jogar nos limites
que a “matéria” disponível permite, ou se é um Benfica, que com outro
treinador, alguém diria uma frase do género de que “Comigo esta equipa tem de jogar pelo menos o dobro.”