A demissão inesperada (para os mais distraídos) de Luis Nazaré é mais um episódio muito grave no processo em curso de apropriação do Sport Lisboa e Benfica.
Relembro a todos que a Assembleia Geral, e portanto o seu presidente, são o garante da legalidade no clube, da defesa dos direitos dos sócios e da fiscalização por todos os meios possíveis dos atos do clube.
Luis Nazaré anunciou, pelas suas próprias palavras, o que levou a esta demissão:
"A razão é a insuperável incompatibilidade de posições com a Direcção acerca do formato e do sistema de sufrágio da próxima Assembleia Geral do Clube. Face ao actual contexto, só o modelo digital assegura as normas sanitárias e a participação alargada dos sócios do Sport Lisboa e Benfica – é este o meu entendimento."
Fica evidente que Luis Nazaré teria um modelo para a AG de Junho, que seria a votação do orçamento através do site do SL Benfica, com o acesso pessoal que todos nós sócios temos.
Na altura gravíssima que o mundo vive, seria a única via aceitável, que evita os ajuntamentos e abre a todos os sócios a possibilidade de apreciarem o orçamento e propostas em casa e depois demonstrarem ou não a sua aprovação.
Visto isto, quer dizer que segundo Luis Filipe Vieira o modelo será o ajuntamento de pessoas numa AG presencial, com todos os riscos que isso acarreta.
Vão assegurar a distância entre sócios? E se o número de sócios que comparecerem exceder o número de lugar vagos para que esse distanciamento se cumpra?
O que leva Luis Filipe Vieira a temer o voto dos benfiquistas através do seu acesso invidivual ao site do SL Benfica?
Se nas eleições Vieira tem defendido o voto electrónico através do sistema que ele próprio mandou instalar na Luz, porque não aceita que os sócios se pronunciem sobre o orçamento no site, com o seu acesso individual? É por não ser utilizado o "seu" sistema de voto electrónico?
A resposta não é complexa. Luis Filipe Vieira quer ter uma vitória retumbante nesta votação para se reforçar para as eleições de Outubro.
Luis Filipe Vieira não quer correr o risco de perder ou ter uma votação renhida devido ao elevado número de sócios que poderiam votar no orçamento no conforto do seu lar. Isto porque muito provavelmente essa votação refletirá a performance da equipa de futebol.
LUIS FILIPE VIEIRA TEME A OPINIÃO DOS BENFIQUISTAS.
A não ser que, e muito me surpreenderia, o sucessor de Luis Nazaré demonstre a mesma fibra, temo pela democracia no clube. Temo que estejamos à beira do fim do Sport Lisboa e Benfica democrático e a entrar numa espécie de ditadura, num vieirismo à imagem do FC Porto.
A demissão de Luis Nazaré é muito grave porque:
1) O presidente da AG só se demitiria em última instância
2) Para isto acontecer, significa que a democracia e as pressões internas que a ameaçam são muito superiores ao que julgamos
3) Pelo peso institucional e prestígio reconhecido a Luis Nazaré
4) Porque o faz a poucos meses de um ato eleitoral
O Sport Lisboa e Benfica vive um processo de apropriação há muito tempo, à boa maneira da Coreia do Norte e das ditaduras.
A propaganda através de meios pagos pelo "estado benfiquista", ou seja, o próprio clube, e torno da imagem do presidente "santificando" a sua acção e retirando-o de qualquer situação que prejudique a sua imagem criando inimigos internos e externos para esse efeito.
A apropriação da BTV como meio principal dessa propaganda com personagens de terceira categoria e apropriadas a esse papel à cabeça, como Pedro Guerra, António Bernardo, José Manuel Antunes, entre outros com muitas ligações passadas aos clubes rivais.
A interdição da presença na BTV de qualquer voz crítica à gestão do clube, instrumentalizando o canal como meio de ataque a muitos benfiquistas.
Por isso é que na próxima segunda-feira Luis Filipe Vieira, à imagem de qualquer ditadura ou democracia tipo Rússia, vai dar uma palestra controlada na BTV às 21h. Provavelmente será no Museu ou com uma plateia de convidados nas costas.
Os efeitos da abolição da limitação de mandatos no SL Benfica está aí. Luis Filipe Vieira julga-se dono do SL Benfica e por isso até mesmo quem seria o garante da legalidade não viu qualquer alternativa senão afastar-se para não ser conotado com o desaparecimento da democracia no clube.
Assim como na Coreia do Norte, na China, na Venezuela, na Rússia ou em Cuba, a figura do líder supremo não pode ser contestada, contrariada e deve poder exercer todos os poderes existentes, mesmo aqueles que a Constituição (Estatutos) não lhe confere.
Quem não viu qualquer problema na OPA, quem não vê qualquer problema no rodopio de jogadores agenciados ou negociados por Jorge Mendes, quem não vê nenhum problema na subserviência de Luis Filipe Vieira a Jorge Nuno Pinto da Costa também não verá na demissão de Luis Nazaré um problema.
Pelo contrário, baterão palmas efusivas ao grande líder Supremo, que mais uma vez vê o seu poder reforçado e com caminho aberto a se eternizar.
Só que desta vez isso não vai acontecer, caro Vieira.