Esqueçam Rui Vitória. Rui Vitória seria sempre uma peça
menor desta engrenagem, alguém que seria sempre capaz de ganhar como qualquer
outro treinador quando tem um grande plantel, alguém cujas fragilidades seriam
sempre postas a nu com um plantel mediano em que tivesse de ser ele a fazer a
diferença. E no momento que se vive hoje, infelizmente para Rui Vitória, é esse
o caso, e será sempre ele a pagar por fragilidades que não são só dele.
Alguns virão também com discursos de circunstância, do
que somos Tetra e coiso e tal, de que não podemos ganhar sempre, de que às
vezes a bola bate no poste e entra e em outras bate no poste e sai, como se
seja isso que esteja em causa no Benfica há muito tempo, como se o problema não
seja bem mais profundo.
Que o Benfica não vai ganhar sempre sei eu, sabemos todos.
Que ir a Rio Ave e sermos eliminados da Taça de Portugal é um desaire que pode
sempre acontecer e um cenário que também ninguém vê como impensável, é óbvio também. Pode
acontecer, porque o Rio Ave é uma boa equipa e Taça é Taça.
Mas o
problema é de fundo, é de base... há muito tempo... E as vitórias, os Tetras e
as Tretas, têm disfarçado as fragilidades e os erros.
A divergência
meus amigos é essa: Entre aqueles que se agarram aos resultados recentes para
provar com isso que a gestão do futebol do Benfica é exemplar, e outros que vêm
os erros a acontecer, que vêm a perigosa atração pelo abismo, e a esses nem as
vitórias toldam a visão e a inteligência.
A gestão do futebol do Benfica tem sido tudo menos
exemplar, meus caros, por muitas vitórias que se tenham somado num passado
recente.
Poderia o Benfica fazer melhor com outro treinador?
Provavelmente poderia. Mas não seria muito melhor, se fosse este o plantel, se
fosse este o modelo de gestão, de acreditar que com meia dúzia de Svillares e
uma equipa de tostões se pode competir no campeonato dos milhões e almejar coisas grandes.
O lançamento
de um miúdo de 17 anos no futebol sénior num jogo de Liga dos Campeões contra o
Manchester United, diz tudo! Nem seria preciso dizer mais nada quanto ao nível
de ilusão e negação em que tanta gente dentro do Benfica vive neste momento.
Este é o
Benfica do, dizem os “sabedores”, da gestão exemplar, do Benfica que respira
saúde financeira. E o primeiro problema de base começa aqui: o clube líder no
panorama financeiro em Portugal (dizem os sabedores), tem de ter a melhor
equipa, o melhor plantel, os melhores jogadores! Ponto! E o Benfica não tem nem acha ter condições para o ter.
E agora
pergunto: Não o tem circunstancialmente? Não o tem porque teve um ano mau na
escolha dos melões? Não. Não tem porque este é uma ideia que esta Direção quer
fazer vingar, uma linha de gestão que esta Direção suporta e na qual acredita.
Não fui eu
que o disse: Que as contratações acabaram, que os reforços estão cá dentro, que
o futuro do Benfica são os Rubens Dias e os Svillares! Problema de base! E com
um problema como este, que só podia dar os resultados a que se assiste neste
momento, o presente é o que se vê mas o futuro não se adivinha muito mais
risonho. Repito: Problema de base!
Eu acho piada ao discurso do Supra Sumo Presidente LFV
que faz gestão a longo prazo. Nós vemo-lo na TV a falar da Academia, e dos miúdos
que serão lançados este ano, no próximo e no seguinte, e caramba, a malta até
acredita que no Benfica nada é feito em cima do joelho.
Alguém já o
ouviu ter o mesmo tipo de discurso para as vendas? Dizer que este ano vende-se
o A, que o B e o C têm de ficar pelo menos dois anos, que o D será vendido no
mínimo daqui a três? Aqui nada! Porque no caso das vendas, elas são feitas a
monte assim que cheira a dinheiro, sejam quais forem as consequências para a
equipa.
A verdade meus amigos, por muito que muitos queiram
negar, é que a prioridade de LFV no Benfica, há muito que não é a equipa de
futebol! E isto é uma evidência tão grande, que negá-la é de uma cegueira
completa.
A prioridade
é vender o que há para vender e... acreditar na sorte, e que no caso do
Benfica, mais do que sorte é muitas vezes milagres.
Podia lembrar
aqui as vendas de Javi e Witsel em simultâneo no último dia do mercado, podia
lembrar a saga do fica não fica de Cardozo depois da final do Jamor e da
situação em que tal colocou Jorge Jesus, podia lembrar o ano em que o Benfica
vende os avançados que tinha e esteve várias jornadas do campeonato sem
avançado, contratando depois Jonas já em Setembro mas... sem poder jogar Liga
dos Campeões.
Podia lembrar
todas as vendas de jogadores importantes em Janeiro, de Matic ou Enzo por
exemplo, em épocas em que se lutava por conquistar tudo, e perguntar: que outro
grande clube da europa o faz?
Ou ver as borradas deste ano, mas aí, estão à vista de todos,
é mesmo preciso lembrar o amadorismo? É sequer possível negar a incompetência de
quem pensa o futebol do Benfica?
O Presidente do Tetra é um chavão! Prefiro lembrar o
treinador que para mim revolucionou o futebol do Benfica, que o pensou com
cabeça, tronco e membros, e criou as condições para o Tetra, e esse foi Jorge
Jesus. E nos primeiros 2/3 anos sim, LFV esteve com JJ e foi parte integrante
desse projeto.
Mas a partir daí o divórcio sentiu-se, como se sentiu que
o treinador defendia um caminho e o Presidente defendia um caminho oposto. Os
resultados estão à vista.
E não meus
amigos, vou repetir que aqui não se trata de ainda andar a chorar a saída de
Jorge Jesus. Para mim é apenas o que Jorge Jesus representa, e para mim
representa aquilo em que também acredito, de que o caminho que LFV defende é o
caminho para a mediocridade.
Porque Jorge
Jesus não sai do Benfica POR SUA INICIATIVA para o Sporting por ser estupido. Ninguém vai de cavalo para burro por ser idiota! Sai porque percebe o caminho que o Benfica levava, porque percebe que para si
no Benfica seria sempre cada vez mais exigência e menos condições para atingir
os fins. Sai porque percebe que o caminho que o Benfica queria seguir não lhe
dava condições para substanciar a sua ambição.
E os resultados estão à vista. Liga dos Campeões a zeros,
época desastrosa até ao momento que apenas um campeonato carregado de equipas medíocres
disfarça, plantel mediano e onde jogadores a valer 30 milhões nem vê-los. Vamos
vender quem este ano meus amigos?
Será que
diminuir os custos à custa da competitividade da equipa é mesmo a solução? Vamos
contabilizar o quanto já se perdeu este ano em termos de receitas e prestígio e
quiçá... futuros patrocínios?
A sério que
ainda vamos continuar a discutir o Benfica na base do problema circunstancial?
Ou vamos todos tentar ser mais inteligentes e perceber que o problema é de base
e tem nome, e que se chama Luís Filipe Vieira?