Este artigo é um contributo do benfiquista "Caça Gambuzinos" a quem agradecemos a disponibilidade e vontade de ajudar a debater o SL Benfica. Passará a colaborar com o NGB regularmente.
Aqui fica o texto:
O sonho molhado de qualquer adepto do Benfica é ver o Glorioso ganhar a Liga dos Campeões.
Quando era mais novo era um grande entusiasta de um jogo chamado Championship Manager (vulgo CM), no qual encarnávamos o papel de treinador. Escusado será dizer que abraçava sempre o projeto de treinar o clube do meu coração e o meu grande objetivo era a glória europeia.
Era difícil, muito difícil. Havia muitos clubes com melhores jogadores e com mais dinheiro. Mas das poucas vezes que consegui foi um prazer quase ejaculatório. Nem quero imaginar o que aconteceria caso acontecesse na “vida real”. Seria um sonho tornado realidade.
Luis Filie Vieira, amiúde e em ocasiões estratégicas, vem falar deste “sonho europeu” que, segundo ele, é possível graças ao talento que emerge anualmente no Seixal.
Muitos defendem, eu inclusive, que um plantel equilibrado deve misturar os miúdos talentosos da cantera com jogadores já tarimbados. É inegável a importância e impacto da contratação de jogadores já feitos e para render de imediato, como Aimar, Saviola, Jonas ou Julio César.
É inegável também o facto de há muitos anos não haver uma contratação sonante como as acima descritas. Fizeram falta o ano passado, quando vendemos 4 titulares e era suposto atacarmos o penta.
Mas a verdade, é que o projeto Seixal deve ser enaltecido e acarinhado, sendo sem dúvida um dos pontos fortes do “reinado” de Luis Filipe Vieira. São já vários os craques de renome que são formados na nossa academia.
Aqui fica uma breve lista:
Guarda-redes: Oblak, Ederson e Bruno Varela
Defesa Direito: João Cancelo e Nelson Semedo
Defesa Central: Ruben Dias, Lindelof, Ferro e Fábio Cardoso
Defesa Esquerdo: Mario Rui, Pedro Rebocho e Yuri Ribeiro
Médio Centro: Renato Sanches, Florentino, Gedson, André Gomes, André Horta, João Carvalho, Pepê, Alfa Semedo
Extremo: Bernardo Silva, Rony Lopes, Ivan Cavaleiro, Hélder Costa, Diogo Gonçalves
Avançado: João Félix, Nelson Oliveira, Jota e Gonçalo Guedes
Embora haja posições mais carenciadas que outras, a verdade é que sim, Vieira tem razão:
este plantel Made in Seixal, apesar de muito jovem e inexperiente, poderia ter uma palavrinha a dizer relativamente à prova milionária. Basta ver que a grande maioria é internacional A.
Portanto a primeira parte da promessa/sonho de vencer a Champions está efetivamente feita!
Só falta a outra parte, que parecendo que não, também é importante: não vender os nossos meninos mal apareça uma boa proposta e/ou chorudas comissões. Daquela lista acima já são poucos os que vestem as cores do Benfica, o que é profundamente lamentável.
É obvio que daquela lista acima há jogadores que, pelos valores que apareceram na Comunicação Social, foram bem vendidos. Mas há outros que não só saíram por valores irrisórios (16M por Oblak? 15,5M por Bernardo Silva?), como houve muitos, mas mesmo muitos, a sair cedo demais.
Já para não falar que é um crime craques internacionais, como agora o são Bernardo Silva e Cancelo, terem saído sem terem sequer tido a oportunidade de jogar e fazer parte da equipa principal.
Um clube como o Benfica, que se autoproclama como estável do ponto de vista financeiro (há bem pouco tempo o nosso presidente disse que tínhamos dinheiro para trazer Mourinho! Não temos é para arranjar um bom lateral direito) não pode, puro e simplesmente vender os seus meninos à primeira oportunidade.
Primeiro tem de dar aos benfiquistas a oportunidade de ver os putos do Seixal brilhar na luz 2/3 épocas (ou mais!), depois só os pode deixar sair mediante uma proposta verdadeiramente louca. E os
interessados que venham à Luz negociar.
Já chega ver Vieira com o seu catálogo da La Redoute andar de porta em porta a mostrar o catálogo da mercadoria para ver se algum dos clubes afiliados do Mendes lhe compra alguma coisa.
E é aqui que se vê a importância de ter benfiquistas nos órgãos de decisão do clube: um benfiquista ferranho, por exemplo, quereria a tudo o custo que o Félix fique a envergar o manto sagrado o máximo de tempo possível. Olha para o Félix e vê património do clube que urge manter. Quem não tiver este amor ao clube olha para o Félix e vê cifrões.
Não discuto a competência de Domingos Soares de Oliveira (a quem endereço, desde já, os meus parabéns pelo casamento da filha), mas a verdade é que sempre que ele fala dos jogadores do Benfica dá-me um aperto no coração. Não tem alma, nem paixão. Parece que está a falar de um valor de uma tabela de Excel.
Sabendo que é impossível agarrar craques mundiais durante toda uma carreira (acho que nenhum benfiquista pensa que o Felix vá fazer toda a carreira com o manto sagrado vestido) tem de ser possível aguentá-los até aos 21/22 anos; idade em que também já estarão mais fortes mentalmente e fisicamente para pegarem de estaca nas equipas de topo que os contratarem, em vez de andarem perdidos.
Os próprios miúdos querem ficar no Benfica mais tempo. Daquela lista acima, vários foram os que saíram um pouco a contragosto. Um clube grande e financeiramente estável não pode ter como política empurrar os grandes jogadores para fora.
É isto que, neste momento, peço a Vieira. Que honre a promessa de que, e pegando nas suas palavras, “agora há condições para segurar os jovens mais tempo” e que não nos delapide a equipa ano após ano.
Acabou o tempo do “havia para lá umas clausulas” ou de “não podíamos estragar a vida ao rapaz”.
Cá estaremos para o julgar, caso não cumpra (mais) esta promessa ou caso apareça nova luz à noite que lhe tolde o raciocínio.
Porque ao contrário do que ele pensa, apenas vamos“ter de levar com ele muitos anos” caso mostre obra feita e, essencialmente, respeito pelo emblema do Sport Lisboa e Benfica.