Um estudo mostrou que as equipas que mais gastam nos ordenados dos seus
jogadores (não tanto em transferências) são aquelas que mais ganham. O que tem
lógica. Mais ordenados significa melhores jogadores, estabilidade, continuidade
e jogadores valorizados dentro do próprio clube.
Pode claro haver exceções, um ano em que a
lógica dos números não funcione, um ano em que um Atlético de Madrid consiga
ser campeão espanhol ou um Boavista chegue a campeão português, mas a regra é
essa.
Em Inglaterra foi o City o campeão, na Holanda
o Ajax, em França o PSG, em Itália a Juventus, na Alemanha o Bayern, na Grécia o Olimpiacos. A
exceção este ano foi apenas em Espanha. As equipas que mais gastam são as que mais
ganham. Ponto final.
Por
isso, nós podemos sempre valorizar demasiado a parte emocional do futebol e
esquecer a lógica dos números, partir do princípio que enquanto há vida há
esperança, que a bola é redonda, que partimos todos com zero pontos e no
relvado são onze contra onze mas, no fim, na conclusão de tudo isto, das
guerras, dos piropos, dos penalties roubados e das quezílias clubísticas, quem
ganha é quase sempre quem mais gastou.
Num outro ponto, outra ideia que
quero deixar aqui, é que é uma ilusão achar-se que para ganharmos competições
basta fazermos bem o nosso trabalho. O futebol será sempre um jogo de forças
opostas, no qual o resultado final vai depender, não só daquilo que formos
capazes de fazer, mas também daquilo que forem ou não capazes de fazer os
nossos adversários.
Eu sei que a emoção faz esquecer tudo isto. E
sei que no final, para os adeptos o que conta é se chegámos em primeiro ou em
segundo. Mas por detrás desse aspeto emotivo está uma lógica indesmentível, e
que é o facto de às vezes não se conseguir ganhar mesmo quando se fez quase
tudo bem feito, e em outras ganhar-se quando o percurso foi marcado por erros
indesmentíveis.
Trapatoni por exemplo saiu em ombros depois de
ser campeão com 65 pontos. Jorge Jesus saiu em ombros depois de ser campeão com
74 pontos. Mas o Jorge Jesus dos 77 pontos quase saiu escorraçado, quando em
termos numéricos e objetivos, o ano dos 77 pontos foi o ano em que o Benfica
foi mais regular e mais competente.
E isto
é assim precisamente por causa da variável que não controlamos, aquela que não
depende da nossa competência, e que é a capacidade dos nossos adversários. E é
por causa disso que num ano medíocre do FCP, um dos piores Benficas da história
foi capaz de ser campeão nacional com Trapatoni, e num ano fantástico do mesmo
FCP, um quase fantástico Benfica não consegue celebrar nada com 77 pontos conquistados
e o seu treinador quase acaba despedido.
Onde quero chegar com isto tudo? Ao analisar o Benfica atual à luz
destas duas realidades. O Benfica pode até ter a necessidade de emagrecer
orçamentos, de deixar de comprar atletas de 10 milhões para começar a apostar num
mercado mais barato ou na prata da casa, hoje inexperiente mas com potencial de
futuro.
Mas o
problema é que a politica desportiva do Benfica será sempre um camaleão, e estará
sempre dependente daquilo que os seus rivais fizerem. Como anteriormente vimos,
a equipa que mais gasta e que melhores ordenados paga, ganha quase sempre.
Pode o
Benfica, numa época em que o seu grande rival FCP, coloca toda a carne no
assador, que contrata 4 ou 5 jogadores avaliados à volta dos 10 milhões (um
deles até 20!!), reduzir o seu orçamento drasticamente e manter aspirações
reais à conquista do bi-campeonato? E a resposta é que não, não pode, porque a
fazê-lo só seria campeão numa daquelas épocas raras, num ano anormal do FCP em que
a regra dos euros fosse quebrada.
Há uns anos atrás os campeonatos
disputavam-se, hoje compram-se, ou quase. Chelsea, Liverpool, United e Arsenal
já perceberam que só será possível vencer em Inglaterra com investimentos ao
nível do Man City. Em França, só o Mónaco poderá roubar o campeonato ao PSG, porque
só ele pode competir com o PSG a nível financeiro. Atrás de um louco outro louco vai!
É pois muito bonito, pegar em exemplos tipo o
do Atlético de Madrid, e fazer disso uma imagem deturpada da realidade... É
mais bonito ainda lembrar exemplos como o do Ajax, como um clube que ganha
muito internamente e que tem como politica a aposta na prata da casa.
Mas a pergunta que tem de se fazer é esta:
contra quem compete o Ajax internamente? E a resposta é, contra equipas de
orçamento inferior ao seu. A lógica dos números por isso mantém-se.
A verdade nua e crua é que se o Porto, o PSV
ou o Man City caminharem financeiramente para o precipício, Benfica, Ajax e
Chelsea não terão outra opção senão ir atrás para o mesmo precipício. Porque os
grandes clubes vivem de vitórias, que geram receitas e paixão dos adeptos. Os
grandes clubes não sobrevivem com estádios vazios, resultado da incapacidade de
disputarem a vitória nas grandes competições.
Será pois
possível ao Benfica vencer internamente de forma regular reduzindo o seu
orçamento drasticamente, optando por ser racional e rigoroso? Claro que sim, no dia em
que o FCP também o fizer, e ambos puderem competir com as mesmas armas!
Benfica
e o futuro: com emoção ou com razão? Estarão os adeptos benfiquistas dispostos
a aceitar uma politica de contenção e emagrecimento do passivo se isso
significar voltar aos atrasos de 20 pontos para o FCP? Antes de começar a
discutir qualquer outra coisa, esta é a pergunta em que todos têm de refletir.