
A centralização dos direitos televisivos é o objectivo de 99% dos clubes e dirigentes desportivos nacionais. Com isso pensam ter na mão a viabilização financeira do nosso futebol bem como assegurado o futuro das competições.
Mas só quem não conhecer os dirigentes desportivos portugueses é que pode acreditar que os fundos que chegariam de um contrato de centralização de direitos seriam utilizados para modernizar clubes e o nosso futebol.
Basta lembrar como no final dos anos 90 foi apresentada ao adepto do futebol a grande solução para os problemas financeiros dos clubes: as SAD.
Como percebemos hoje, cerca de 20 anos depois desse fenómeno "fantástico", não só as SAD não resolveram nada como continuamos a ter clubes endividados, sem capacidade de afirmação europeia, e um quadro de competições completamente desproporcional face ao país que temos.
Os dirigentes que realmente mandam do futebol português, na sua maioria, já cá andam há quase 30 anos. Alguns até mais que isso. Foram incapazes de promover o nosso campeonato como espectáculo desportivo atractivo para o público.
Temos um presidente da FPF que desaparece sempre que surgem problemas que envolvem corrupção, arbitragens ou negócios obscuros envolvendo tomadas de poder em SADs de pequenos clubes.
Não é capaz de exigir ao poder político uma legislação eficaz que combata a violência como um todo. Andar a fazer decretos-lei destinados a claques é não querer resolver este tema. Não temos uma lei ou justiça eficazes que sejam céleres em proibir que adeptos violentos ou envolvidos em confrontos sejam interditados de ir a eventos desportivos. Em Inglaterra, há adeptos que se não se apresentarem na esquadra local em hora do jogo, são imediatamente procurados e detidos para cumprir pena de prisão.
Cá em Portugal, os adeptos violentos são escolhidos pela FPF para liderar “a claque de Portugal”.
Temos um conjunto de associações de futebol que continuam dominadas pelos mesmos senhores desde final dos anos 80 do séc.XX e cujo grande objectivo é estar bem representados nos órgãos da FPF e estar perto do poder.
Ora, mediante tudo isto, há um ponto fundamental: nunca haverá centralização de direitos televisivos em Portugal sem o SL Benfica.
O que se passou com a Sport TV durante os anos em que o SLB teve na mão os seus direitos televisivos demonstra que, sem o Glorioso, não há viabilidade financeira para qualquer projecto. (Imperdoável o que Vieira fez ao devolver o poder à Sport TV).
Por isso, defendo que deve ser o SL Benfica a liderar um projecto de renovação do nosso futebol e, forçar essa mudança, introduzindo o tema da centralização dos direitos televisivos.
Para o SL Benfica partilhar o seu valor financeiro num contrato desta dimensão, então teria que se promover, antes, uma reformulação profunda dos nossos campeonatos. Reforçar a competitividade e envolver todo o país no fenómeno desportivo, como forma de puxar os jovens para o desporto.
A distribuição do dinheiro num quadro reformulado de competições visaria assim a divulgação do futebol e da prática do desporto. Como?
a) Defendo a diminuição do número de equipas na primeira divisão do campeonato para um número a rondar os 12-14.
Poderá ser estudada a formula mais adequada: 2 voltas simples ou 2 voltas, em que na segunda volta a primeira metade das equipas disputaria o título e a segunda metade disputaria a permanência. Prefiro esta segunda formula em que o interesse na competição se manteria até ao final.
b) Defendo também a criação de 3 zonas como substituição da segunda divisão. Seria uma espécie de recriação das zonas norte, centro e sul que já tivemos no passado.
Sei que há quem se oponha a esta medida por achar que assim não se está a premiar o mérito. Pelo contrário: não só se premeia o mérito como se garante o crescimento da modalidade e a distribuição uniforme pelo país dos dinheiros da centralização como forma de promover o futebol e o desporto.
Assegura que todo o país terá direito a futebol de primeira divisão e impede assim as "batotas" que levam regularmente dinheiros públicos a ajudar alguns clubes, ao invés de outros que não têm esses apoios.
Quanto às equipas das ilhas, não sei se a solução passaria por uma “zona” das ilhas mas também teria que se assegurar pelo menos uma vaga para o Portugal Insular.
Só num cenário de completa reformulação dos nossos campeonatos é que poderia aceitar uma solução de centralização de direitos televisivos. E com a salvaguarda de que o SL Benfica, em caso de as mudanças promovidas no futebol serem descontinuadas, teria a opção de recuperar os seus direitos.
O Sport Lisboa e Benfica, como clube de grandeza e abrangência nacionais, tem direitos e obrigações como resultado da sua dimensão.
Defendo que o presidente do Sport Lisboa e Benfica, seja quem for, tem na mão o futuro do futebol português.
Parece algo arrogante esta posição? Sim, até pode parecer. Mas se os clubes portugueses querem ter futuro num quadro de competições europeias cada vez com mais importância, ou se adaptam ou desaparecem.
Cabe ao SL Benfica este papel de liderança.