Importante: Do silêncio dos inocentes(ou talvez não) ao milagre financeiro(ou talvez não)

O chairman da Nissan foi recentemente afastado das suas funções no gigante japonês após, alegadamente, ter declarado rendimentos ao fisco substancialmente inferiores ao devido e, adicionalmente, ter utilizado para benefício pessoal ativos do grupo. 

De nada lhe valeu ser um dos gestores mais carismáticos e bem-sucedidos da atualidade, em particular na indústria automóvel. A administração da Nissan demorou 4 dias a tomar a decisão de afastar o gestor.

Vem este episódio a propósito daquilo a que temos assistido no nosso Benfica. 

Foram precisos vários meses de avanços e retrocessos comunicacionais para um assessor da SAD acusado de crimes graves de corrupção ser afastado das suas funções. 

Por outro lado, estamos à espera de perceber qual a posição do clube e da SAD relativamente às recentes notícias sobre a alegada utilização de recursos da SAD por parte de um dos seus administradores, num contexto pouco claro que indicia a possibilidade de terem sido cometidos vários ilícitos.

Em vez de defender intransigentemente a reputação do clube e, por inerência, de toda a família benfiquista, a atual liderança opta por uma estratégia de silêncio … uma estratégia que apenas pode beneficiar interesses instalados pouco claros, mas nunca a instituição Benfica. 

Revela ainda esta estratégia uma falta de respeito pelos benfiquistas em geral e pelos sócios do clube e acionistas da SAD em particular. Não pode ser ignorado o legítimo interesse destes em obter informação sobre as circunstâncias que envolvem episódios de inusitada gravidade que mancham a reputação centenária do Benfica e o seu ativo mais valioso: a marca. 

O milagre financeiro do Benfica e da SAD tem sido sistematicamente invocado pela atual liderança em eventos e documentos públicos (incluindo, naturalmente, os relatórios e contas). Crescimento significativo das receitas, resultados positivos, fim da situação de falência técnica, redução do passivo… 

Contudo, a realidade subjacente é sempre relativa e este mito do milagre financeiro é apenas uma interpretação possível da realidade. A realidade pode (e deve) ser abordada através de outras abordagens alternativas. Este exercício intelectual também engrandece o Benfica e fomenta a cultura de rigor de que nunca nos podemos afastar.

O crescimento das receitas do Benfica é positivo, mas como se compara o mesmo com o crescimento das receitas dos principais clubes do futebol mundial?

Como se pode constatar pelo quadro acima, no período compreendido entre 2010 e 2017 o crescimento das receitas do Benfica ficou bastante aquém do crescimento dos principais clubes (daqueles com que nos queremos comparar). 

Pode-se, assim, concluir que, neste particular, o milagre financeiro da atual liderança nos afastou ainda mais de onde queremos e devemos estar – do topo do futebol mundial. 

Os resultados positivos e a melhoria dos capitais próprios são consequências naturais do potencial do Benfica. 

O nosso clube tem o privilégio de ter uma das marcas com maior notoriedade no mundo do futebol. Fazer pior é difícil. 

Fazer melhor é uma necessidade se queremos (como devemos) estar no topo do futebol mundial. Para tal é imprescindível mais ambição e abandonar os interesses pessoais em detrimento dos valores mais altos que o Benfica representa. É ainda necessário maior eficiência operacional. Algo que não se tem visto nos últimos anos. 

A rubrica de fornecimentos e serviços externos é um exemplo paradigmático desta ausência de eficiência operacional.

Em 9 anos esta rubrica apresenta um aumento de quase 20 milhões de euros. Se considerarmos apenas o período posterior à incorporação no perímetro de consolidação da SAD da Benfica Estádio, o aumento é, ainda assim, de 14 milhões de euros. 

E o que dizer dos trabalhos especializados? Um aumento de 7 milhões de euros em 9 anos, montante este que daria para reter algumas das joias da coroa do futebol de formação do Benfica. Como se explica o aumento destes gastos ocorrido em 2017 (2,6 milhões de euros e 43%)? E, calcule-se, ainda aumentou mais 1 milhão de euros em 2018! As 180 páginas dos relatórios e contas nada explicam sobre este comportamento, no mínimo, preocupante. 

A rubrica de gastos com o pessoal é outro exemplo paradigmático desta ausência de eficiência operacional. O potencial competitivo do plantel não tem aumentado… aliás, tem diminuído consideravelmente. Contudo, os gastos com o pessoal evidenciam um crescimento acentuado ao longo dos últimos 9 anos (exceção feita ao ano de 2018).

Quando comparamos este crescimento com os dados do licenciamento da UEFA, constatamos que o aumento de 61% registado de 2010 a 2016 excede substancialmente o aumento médio de 42% dos clubes licenciados no mesmo período (últimos dados disponíveis). 

Se é para gastarmos desta maneira, então temos a obrigação de contratar e reter talentos. Não conseguir fazer isso é incompetência! 

Não é com silêncios envergonhados e com mitos de pés de barro que o Benfica se torna no MAIOR E MELHOR CLUBE DO MUNDO. É com respeito pelos valores do clube, pelos benfiquistas e pela sociedade em geral. 

É com audácia e uma cultura de exigência extrema e de permanente insatisfação. 

É com competência em prol do Benfica e não em favor de interesses próprios e de outras entidades … e já se percebeu que este não é o caminho trilhado pela atual direção do Benfica e administração da SAD.