Rui Vitória: Mais uma noite falhada

Começar pelo bom:

Rui Vitória aposta na formação encarnada sem medos, e foi esse, aliás, o propósito com que chegou.

Rui Vitória tem um discurso simpático, humilde, sempre respeitador para com a entidade patronal, facto esse que não tendo grande relevo (porque essa deveria ser a norma), no Benfica ganha mais relevo quando muitos o comparam com o discurso completamente antagónico do treinador anterior, discurso esse que a mim, diga-se, nunca incomodou por aí além (ou pelo menos não era o mais importante).

O mau:

Esse mesmo discurso, cheio de lugares comuns, que só funciona quando a equipa ganha. Quando a equipa perde é um discurso manso, sem murros na mesa, valorizando a posse de bola e os remates à baliza como se o resultado fosse o que menos importa. Pior que isso: Quando se lhe pede um sintoma da doença, o refúgio em lugares comuns faz passar muitas vezes a ideia de que não faz a p*ta da ideia de onde vem o problema.

O desnorte nas contratações:

Quando as duas contratações milionárias da época foram Ferreyra e Castillo, e o titular é Seferovic que o ano passado era o terceiro avançado da equipa, até atrás de um Jimenez que tão bom era no Benfica que teve de ser recambiado para o Wolverampton, estamos conversados quanto à ilusão de qualquer plano que Rui Vitória ainda possa ter para este Benfica! E já nem falo de Jonas e do sai não sai, para se perceber que RV deve estar neste momento completamente perdido em relação ao que fazer na frente de ataque.

Na defesa, contratam-se os dois melhores centrais do campeonato argentino, mas esses dois melhores não são melhores do que Rúben Dias nem Jardel. Ou seja, gastou-se o dinheiro na mesma mas o melhor continua a ser o que já havia, e que mais uma vez tão má conta de si deu o ano passado.

O guarda-redes melhorou mas... muito maus sinais ontem. No segundo golo estava mal colocado na baliza e podia ter feito melhor se não estivesse tão em cima do primeiro poste sem razão aparente, e no primeiro o excesso de confiança traiu-o. Não quis barreira e levou com um míssil. Não serviu para o matar no Benfica mas serviu para suscitar dúvidas nos adeptos.

No meio, continuem os Benfiquistas a culpar os Pizzis e os Sálvios e os Gabrieis, e toda a gente menos... o Fejsa, como se o Fejsa esteja em grande forma ou seja alguém que contribui minimamente para o jogo atacante do Benfica. Já sei que nesta luta estou sozinho mas anseio por um jogador diferente no seu lugar, que pode não ser o Gabriel mas que também pode ser, para que muitos Benfiquistas vejam finalmente a luz e percebam que Fejsa é muitas vezes o problema do Benfica quando toda a gente está entretida a culpar todos os outros.

A tática! Seja contra que equipa for, o meio campo do Benfica não segura a bola nem faz 5 passos seguidos. Fejsa está fora desse jogo de posse, porque fica cá atrás a ver o jogo. Os outros dois no miolo, não têm sozinhos capacidade de manter essa posse, até porque estão quase sempre em inferioridade numérica. Quando colocam a bola nos alas, lá vai o Cervi ou o Rafa em vertigem no 1X1 (porque não sabem jogar de outra maneira) e a bola perde-se irremediavelmente. Quando passam o 1X1 e chegam à linha, cruzamentos por alto não sabem fazer e fazem passes para trás que é mais seguro, jogada que os adversários já perceberam e interceptam todas! O meio campo do Benfica é patético contra boas equipas, e mesmo com equipas medianíssimas passa muitas vezes por dificuldades.

Indo ao jogo de Chaves, ok, podíamos ter ganho. Tivemos até oportunidades de matar o jogo e torna-lo fácil mas... Nunca dominámos a partida, nem sequer o meio campo... Essa é que é a verdade, sendo óbvio que entre equipas tão desniveladas vai haver momentos em que o individual vai fazer a diferença - como aconteceu - , não tanto a tática ou o plano de jogo!

Mas a preparação do jogo contra o Bayern a semana passada é de bradar aos céus. Uma equipa que vinha de 7 (!!) derrotas seguidas na Champions (passaram a ser 8!), que não ganha um jogo ao Porto que seja, que não tem meio campo com características de segurar a bola nem pausar o jogo, entra num jogo daqueles a jogar de peito aberto a pressionar o Bayern na sua área e a partir a equipa logo de início?! É de amador! É de quem quer mostrar ser um Golias quando não passa de um gatinho!

Aos 20 minutos de jogo já tínhamos a equipa com os bofes de fora com tanta correria à toa. O Bayern a gerir o jogo como quis, sem suar muito, sabendo que contra o embuste daquele Benfica, marcaria sempre que quisesse, e foi o que aconteceu. Foram dois, podiam ter sido mais.

Rui Vitória ao fim de três anos ainda não percebeu que para jogar Liga dos Campeões tem de ser humilde, perceber as suas forças e fraquezas nesta altura, e primeiramente preocupar-se em defender bem, e só depois em explorar as armas da velocidade e da saída rápida que tem nos seus alas para matar os jogos num contra golpe.

Esta mania que Rui Vitória tem de entrar em todos os jogos da Liga dos Campeões de peito aberto é suicida e algo que os adversários agradecem solenemente.

O positivo quanto ao futuro:

Rui Vitória quer João Félix para dar ao Benfica mais jogo interior. Krovinovic também pode ajudar na posse da bola. RV parece saber que a cura passa por aí.

O negativo:

Estas duas entradas vão obrigar a mexidas em vacas sagradas, e bem sabemos como para Rui Vitória sempre foi difícil mexer em certos nomes. Mais o risco de ser Jonas a condicionar toda a estratégia.