Djuricic colocou o dedo na ferida

Não, não sou defensor de se dar carta branca aos treinadores para desmantelarem e reformularem os planteis como querem...

Especialmente em clubes que não se chamem Real Madrid, em clubes com orçamentos limitados, num futebol em que a norma é trocar de treinador muito rapidamente, e que por isso, não há orçamentos que estiquem para os devaneios de cada treinador que chegue...

Mas há algo que para mim tem de existir sempre: é confiança no treinador que chega, e ter confiança é apresentar o plantel ao treinador que se quer contratar e perceber se esse é um plantel do agrado do treinador e com quem este queira trabalhar...

Se não, se não agrada, se o treinador quer riscar 16 nomes desse plantel e trazer 16 jogadores novos e não há dinheiro para tanta devaneio, esse treinador não serve e há que escolher outro...

Se o plantel agrada ao treinador e se se enquadra na sua filosofia de trabalho, então sim, estão reunidas as condições para o casamento dar certo...

MAS...

Enquanto o novo treinador cá estiver, entendo eu que as novas pinceladas que se queiram dar no plantel devem ir ao encontro dos desejos do treinador, ou pelo menos serem escolhas consensuais entre Direção e treinador...

No meu entender, tem de ser assim... Se os treinadores são sempre a face mais visível do fracasso desportivo e os primeiros a serem corridos ao fim de dois resultados negativos, é no mínimo justo que, dentro do possível, sejam dados ao treinador os meios para que este possa explanar no relvado as suas ideias de jogo dentro do seu modelo...

Isto seria o mesmo que pedir a um pintor que me pinte um céu estrelado em tons de azul petróleo, o pintor pedir ao dono da galeria que lhe traga uma tinta azul esverdeada mas o dono da galeria dizer. “Nada disso, eu quero esse céu estrelado mas tens de o conseguir só com tinta amarela, azul e laranja... E o pintor diz assim: “Desculpe lá, eu sou capaz de lhe pintar o céu que quer, mas não com essas cores que me quer dar.”

Isto para dizer o quê?

Eu já tinha achado realmente fascinante aquilo que Rui Gomes da Silva tinha dito, de que só na sua primeira época é que Jorge Jesus tinha tido carta branca para contratar jogadores, e que depois dos flops Éder Luís e Filipe Menezes, a Direção contratava e o treinador treinava...

E acho isto realmente fascinante porque acho errado. Aquilo que eu acho é que se o treinador não serve para escolher quem quer para o SEU modelo de jogo, então isto só prova que a Direção não confia no treinador e que a escolha deveria por isso ser outra...

Isto foi o que levou por exemplo à trapalhada Capdevilla, uma contratação da Direção, um jogador que dividiu os adeptos, que dividiu também opiniões em relação a Jorge Jesus pelos motivos de este não o utilizar, quando hoje todos percebem que, caramba, nós podemos ter a nossa opinião, mas o jogador não era do agrado do treinador, fosse lá porque razão fosse... Concorde-se ou não, é uma decisão que cabe ao treinador tomar e que, quer para o sim quer para o não, tem de se aceitar...

Capdevilla, bem, Capdevilla foi uma contratação barata e passa bem sem que se dê muito por ele, mas...

E o que dizer da entrevista de Djuricic ao jornal Dernière Heure?

Diz Djuricic:

«É preciso meter as coisas num contexto. Uma semana depois de ter chegado ao Benfica, Jesus veio ter comigo e disse-me: Não preciso de um número 10 porque jogo sem um número 10. Respondi: OK, então porque estou aqui? Na verdade, a Direção acreditava muito em mim e ele não me quis. Fui uma contratação dos dirigentes. Tornou-se complicado. Rui Costa queria-me verdadeiramente. Até me deu o número 10 que ele usou. Foi muita pressão, mas fiquei satisfeito. O clube pagou €8 milhões e deu-me um dos salários mais altos. Pensei que estava tudo reunido para ter sucesso. Escolhi o Benfica e tinha ofertas de todo o lado, Alemanha, Itália e Espanha. Pensei que seria o passo ideal para chegar ao topo. Depois, houve aquela discussão com o treinador.» 

Das duas uma: ou Jorge Jesus estava maluco e pediu à Direção um número 10 para mudar de ideias 15 dias depois…

Ou então a Direção (ou Rui Costa) apaixonou-se por Djuricic, contratou o 10 à revelia do treinador (a Direção contrata e o treinador treina), deixou na Holanda 8 milhões de euros para satisfazer o capricho do Diretor Desportivo, mas quando chegou aos treinos, o Jesus disse-lhe: “Eh pá, podes ser muita bom, um 10 bestial, mas comigo estás tramado porque eu tenho o meu sistema de jogo e não jogo com número 10!”

Culpar quem neste contexto? O treinador como parece querer fazer Djuricic?

Ou culpar a Direção por este modo de operar, que não se importa nada de gastar 8 milhões de euros num jogador que nem sequer se enquadra no modelo de jogo do treinador que tem à frente dos destinos da equipa?

E isto, claro, não é fazer a defesa de treinador nenhum em particular… Eu critico sim, o modo de operar, que pelos vistos não deve ser tão antigo como isso…

Ou alguém me quer fazer crer que foi Rui Vitória por exemplo que chegou ao pé de Rui Costa e pediu que se gastassem 9 milhões de euros pela perna esquerda do Jimenez?!

  
Anda muita gente na Luz a jogar Football Manager... e não são os treinadores.