Começando onde o Shadows acabou num texto anterior,
concordo, ir à Emirates para fazer estas figuras, é melhor andar por torneios
mais modestos jogando contra equipas mais modestas.
Ou vamos para competir e prestigiar o clube, ou então é melhor não ir. Isto não é só a derrota pesada que se traz para casa. É a má
imagem que se deixa de um clube Tetra-Campeão Nacional e recordista de vendas
milionárias nos últimos anos.
E perdemos copiosamente, diga-se, com um Arsenal a meio
gaz com muitas das suas estrelas de fora MAS...
De um ponto de vista egoísta,
esta é uma derrota em que também se ganha muito... Ganha-se a real dimensão num
teste a sério das fragilidades do Benfica neste momento, fragilidades essas,
diga-se, que não apareceram hoje. Hoje foi apenas a confirmação do que já se
sabia.
E sem querer fazer aqui uma análise profunda aos
problemas da equipa, queria focar apenas duas ou três ideias:
A primeira é que não critico Rui Vitória por ter apostado
em Buta no jogo de hoje. Rui Vitória desconfiou que Buta podia ser carta importante
no Benfica deste ano em face de alguns sinais positivos em jogos anteriores e
quis testá-lo num jogo a sério. Buta falhou, variadíssimas vezes diga-se, e é
justo dizer que a certa altura perdeu também o sangue frio.
Buta morreu? Não creio! Pode estar ali um jogador de
futuro mas, não para ser o lateral direito titular que o Benfica precisa
neste momento. Isso julgo que Rui Vitória terá percebido hoje.
Eliseu. Dá para jogar em Portugal? Dá! Estou contente que
tenha ficado mais um ano? Estou. Mas Eliseu não dá para jogos deste nível. Em Portugal,
o uso (às vezes abusivo) do físico ainda disfarça algumas das suas lacunas técnicas mas, contra
grandes equipas, contra adversários não só bons tecnicamente mas também fortes
fisicamente, Eliseu afunda-se com alguma facilidade.
Os centrais. Luisão continua a ser o melhor a larga
distância dos outros. E isto diz bem dos reais problemas da equipa.
O Benfica perde por causa da defesa? Também mas, não só.
É justo lembrar que já o ano passado o Benfica sofreu várias derrotas pesadas
contra adversários de nível médio-alto. E lembrar também que em alguns desses
jogos houve vislumbre de desnorte. Hoje foi só mais um sinal de uma doença
antiga.
O Benfica é uma equipa com dificuldade em jogar sem bola,
com pouquíssimos jogadores com real capacidade de choque ou de fazer marcação em cima, com
alguns jogadores que fisicamente já têm algumas limitações, e uma equipa que
perde por larguíssima margem em quilos e em centímetros para várias equipas de
alto nível.
Não chega ter uns Cervis ou uns Zivkovics ou uns
Grimaldos ou uns Rafas muito bons com a bola no pé, mas que, quando não a têm,
e especialmente contra adversários mais fortes, estão muitas vezes a lutar uma
luta de pesos plumas contra pesos pesados em que mal conseguem cheirar a bola.
Ainda hoje se viu, e mais uma vez, que mesmo alguns jogadores
“medianos” do Arsenal se comparados com o talento individual de alguns dos
nossos jogadores, em termos físicos os nossos continuam a perder 10-0 e a bola é sempre deles.
E também não é Pizzi ou Sálvio seguramente que vêm equilibrar
esta luta dos quilos e dos centímetros (apesar do seu inegável
talento). Contra adversários deste nível o Benfica nunca ganha as segundas bolas.
Rúben Dias no meio não é precisamente assumir que faltam quilos e centímetros e capacidade de choque?
Rúben Dias no meio não é precisamente assumir que faltam quilos e centímetros e capacidade de choque?
É esta análise que faço o desancar num Benfica
Tetra-Campeão Nacional?! De maneira nenhuma. Não duvido que o Benfica irá ser
este ano mais uma vez um sério candidato ao título nacional, especialmente
reforçando-se em alguns lugares como julgo que agora será inegável acontecer,
num campeonato onde joga quase sempre no meio campo adversário contra
adversários muitíssimo mais fracos e sem grande capacidade de pressão no nosso
meio campo.
Daquilo que já duvido mais é da capacidade real do
Benfica em competir a um nível de Liga dos Campeões .
Talvez os Benfiquistas esperassem nesta altura que o
Benfica se tivesse aproximado mais ainda da nata do futebol europeu. Este jogo
hoje com o Arsenal e outros de um passado recente dão, a mim pelo menos, a
sensação que as diferenças se acentuaram e que em vez de nos aproximarmos ficámos
mais longe.
Em mim fica a sensação de um Benfica com capacidade para
marcar um golo contra qualquer equipa do mundo mas, sem grande capacidade de
segurar uma vantagem assim o adversário acelere um bocadinho.
E isto nunca são sintomas de uma grande equipa.