Quando não ganhar será um pequeníssimo passo desde o Benfica ao esquecimento

Não é a primeira vez que o digo neste blog e voltarei a dizê-lo: A importância dos treinadores de futebol nas equipas está muitíssimo sobrevalorizada. Mas isto não é, obviamente assumir que qualquer Patareco serve.

O problema destas análises tantas vezes fúteis que se fazem aos treinadores de futebol é perguntar antes de mais: O que é que valorizamos num treinador quando sugerimos um certo nome.

Por exemplo, aqui há uns dias o nosso colega de blog Rolo Compressor decidiu sugerir dois nomes para técnicos do Benfica: o Ancelotti e o Pellegrini. Tudo bem, não vou obviamente discutir as suas escolhas, o que posso é questionar os critérios que tomou em conta.

Por exemplo, dentro daquele contexto que levou para tantos à troca do antigo treinador do Benfica por Rui Vitória, a aposta na formação que tinha de ser feita, no meu entender estes dois nomes sugeridos seriam logo para riscar.

Estes são nomes para grandes clubes, para grandes orçamentos, para jogadores de topo, seja em Itália, em Espanha ou na China, não são nomes para colocar em risco o seu curriculum e a sua obrigação de ganhar SEMPRE, em troca da aposta num Rúben Dias que, a dar certa, será para despachar 6 meses depois!

Podemos perguntar então se o critério é o que Ancelotti ou Pellegrini ganharam nas suas carreiras. E quando se vai a isso reparamos que, apesar de terem quase sempre os melhores planteis e treinarem quase sempre os clubes mais ricos do mundo, é bem mais aquilo que perderam do que aquilo que ganharam.

O caso do Pellegrini então é catastrófico: Até a Taça Intertoto pelo Villareal é valorizada (há um cá do burgo para quem essa nunca conta), um campeonato em Inglaterra com o plantel mais rico - DE LONGE - da Premiership (há um cá do burgo que quando ganhava era “Ganhava MAS tinha os jogadores que mais nenhum teve"), e o resto do curriculum do Pellegrini é um curriculum de QUASES...

Agora, estou a referir estes dois nomes para discutir com o Rolo Compressor as suas escolhas? Claro que não! Nada me garante que amanhã o Benfica não contrate o Pellegrini e que com ele o Benfica não ganhe 6 campeonatos seguidos...

O meu ponto é, o que é que valorizamos num treinador quando sugerimos certo nome?

Repare-se, com o nosso antigo treinador fartei-me de ouvir gente a dizer: “Ah que ganhou três títulos. Mas o problema é que também perdeu três.” Também ouvi: “Ah que ganhou o título. Mas com aqueles jogadores também eu ganhava.” E “Ah que foi campeão! Mas isso não conta porque não apostou na formação.” E depois aquela que eu gosto mais: “Até para o Vítor Pereira perdeu.” Como se o Porto daquela altura fosse o Vítor Pereira e não o Hulk, o Falcão, o James Rodriguez, o Fernando, o Danilo, o Alex Sandro ou o Ottamendi, enfim, plantéis tão ou mais fortes do que aqueles que o Benfica tinha.”

Mas volto à minha pergunta: Qual é então o critério? Qual é o treinador do MUNDO que conhecem que nunca perdeu bem mais do que ganhou? Qual é aquele que não tem na sua carreira vários despedimentos? Qual é aquele que alguma vez teve um estatuto de tal forma infalível que o colocou a salvo de más época e de apupos dos adeptos?

A verdade meus amigos, é que TODOS os treinadores, mesmo os melhores do mundo, saem quase sempre dos clubes pela porta pequena! Todos! A pergunta não pode ser portanto qual é o treinador que ganha sempre! Isso não existe! A pergunta tem de ser qual é a imagem de marca que queremos na nossa equipa e que deverá ser mantida mesmo nos anos em que não ganhemos!

  

Acho piada quando alguns hoje dizem: “Ah, a minha escolha era o Marco Silva.” Ok, mas espera lá, era o Marco Silva porquê? Porque ia ganhar sempre? Também não ia perder um dia para um qualquer Vítor Pereira? E aí iam dizer o quê? Que a sua escolha tinha sido o Rui Vitória?!

A verdade meus amigos é que é uma treta a propaganda das mudanças de fundo das Direções, os contratos de 4 e 5 anos aos treinadores que nunca se cumprem, as frases sempre espetaculares de que se contrata um novo treinador porque se vai mudar o paradigma e que agora é que é e que vamos ser imbatíveis!

Tudo treta! Projetos de Direções para treinadores raramente existem. Quando se muda, até se pode ter um qualquer sonho bonito por trás mas, bem mais do que o paradigma o que se pretende mudar é acima de tudo os estímulos emocionais da equipa, criar um novo elã ganhador que se pretende levar o mais longe possível. Mas o mais longe possível é apenas até àquele mês em que por uma crueldade qualquer do destino percamos três jogos seguidos. E aí é preciso renovar o estímulo outra vez e lá se vai o paradigma anterior para vir outro paradigma totalmente oposto e mais um “Agora é que é.”

Onde é que para mim se faz a diferença então ao nível dos treinadores? É ao nível do ADN de cada um. E esqueçam por amor da Santa que há um ADN que se sobreporá a todos os outros e que será capaz de ganhar sempre. Bons para mim são aqueles que já provaram ser capazes de ganhar com uma imagem de marca própria, imagem essa que não está disponível para ser adulterada por nenhuma Direção.

Esses são os Guardiolas, os Mourinhos, os Leonardos Jardins, os Capellos... independentemente dos gostos, quem contrata um Capello por exemplo sabe ao que vai. Podemos pedir-lhe que ganhe sempre por meio a zero mas não lhe vamos pedir para jogar bonito. Quem vai hoje contratar um Leonardo Jardim também não pode ir busca-lo sem lhe dar tempo para resistir a dois ou três maus resultados, porque trabalho de base para dar frutos amanhã não se faz em dois ou três meses.

Em Portugal até Jorge Jesus tem uma marca própria, que alguns adoram e outros odeiam (respeito isso), mas é uma marca em que Jorge Jesus confia tanto que não abdicará dela em nome de nenhuma Direção. Jorge Jesus será fiel ao que acredita até ao fim, e é isso que eu respeito, porque é isso que fica depois de todas as vitórias, depois de todas as derrotas, depois dos despedimentos que acontecem a TODOS os treinadores. E todos sabem qual é a imagem de marca de Jorge Jesus, com todas as suas forças e fragilidades!

Em suma, se há hora de Rui Vitória mostrar de uma vez por todas quem é, é agora! Mesmo que tenha que mudar tudo! Mesmo que tenha de cair, mas a cair que caia com as suas ideias.

Isto de chegar ao Benfica por exemplo sem nunca ter jogado em 4-4-2 na vida, mas passar a jogar porque é muito mais fácil aproveitar o que de bom já havia em vez de tentar ganhar com algo seu, é algo que só o deixará nas boas graças de todos os Benfiquistas até ao primeiro ano em que não ganhar. Quando não ganhar será um pequeníssimo passo desde o Benfica ao esquecimento.

Sem vitórias fica o quê de Rui Vitória no Benfica? Selo? Qual selo? Qual é o selo de Rui Vitória neste Benfica, algo a que nos possamos agarrar num ano menos bom em termos de resultados, mas algo que acreditemos poder ser replicado num ano seguinte para se traduzir em novas conquistas?

Replicar o quê?! A isso é que Rui Vitória terá de responder! E ontem já era tarde!