No meu último texto “A culpa” escrevi que os
melhores planteis, e mais especificamente aqueles clubes que mais gastam em
ordenados (não tanto em aquisição de jogadores) ganham quase sempre.
Isto não é uma “tirada” minha, há estudos
sobre isso. Claro que, e isso é que dá beleza ao futebol, de vez em quando há
uma exceção à regra, que no caso da última época se chamou Atlético de Madrid.
Mas em Itália ganhou a Juventus, em França o PSG, na Alemanha o Bayern Munique,
em Inglaterra o Manchester City, na Grécia o Olimpiacos, na Holanda o Ajax, em
Portugal o Benfica. No surprises!
A essência do futebol é simples e resume-se a
isto. Nós podemos andar aqui entretidos todo o ano, a discutir a derrota em
casa contra o Carcavelinhos e a vitória fora contra o FCPorto, o roubo do
penalty aqui e a expulsão escandalosa ali, mas no fim, quem mais gastou ganha
quase sempre.
Um leitor particularmente, e com certa lógica,
perguntou: Então se isso é assim, para quê pagar 4 milhões a Jorge Jesus? Se
qualquer treinador serve, antes gastar esse dinheiro reforçando o plantel e ir
buscar um treinador mais barato.
O problema no entanto, é que eu nunca escrevi
que o treinador não era importante. O que eu escrevi (e repito, há estudos
sobre isso, não são leituras minhas), é que a qualidade do plantel é mais
decisiva.
Eu gosto de comparar o futebol à Formula 1.
Ter um bom piloto é importante, mas a qualidade do carro é que determina o
vencedor final. O piloto vale 30% do resultado, o carro vale 70%. O Daniel
Riccardo na Toro Rosso não ganhou nada, mas o Daniel Riccardo na Red Bull
colocou o campeão do mundo Vettel num canto!
Naturalmente, no futebol como na Formula 1, os
treinadores ou os pilotos não deixam de ser muito importantes. Com dois carros
iguais, o melhor piloto será em princípio o campeão do mundo.
Em
resumo, acredito muito mais na capacidade de um mau piloto ser campeão do mundo
com um carro muito melhor do que o dos outros, do que no melhor piloto do mundo
ser capaz de ser campeão do mundo conduzindo um chaço da cauda do pelotão. Mais
uma vez, isto são factos, basta ler a história.
O meu problema com os treinadores de futebol é
que são bem poucos aqueles que realmente considero capazes de fazer a diferença
num período longo, passado aqueles primeiros jogos nos quais um acréscimo
motivacional pode subitamente despertar um plantel amorfo.
Se um
bom treinador fosse sempre um bom treinador, teria resultados em todo e
qualquer clube. A história não mostra isso. Trapattoni, Mourinho, Capello,
Pellegrini, Ranieri, Lippi, só para falar da elite, todos eles têm
despedimentos no curriculum. E se têm despedimentos, falharam em certo momento
da carreira, ou pelo menos foi essa a interpretação da entidade patronal.
Agora a
pergunta impõe-se: Foram despedidos porque eram maus? Seriam esses treinadores
melhores ou piores, nos bons e nos maus momentos que tiveram nas suas
carreiras? Eu acho que não, acho que os treinadores foram sempre os mesmos, tão
bons ou tão maus como sempre foram, mas louvados ou criticados, fruto das circunstâncias
que viveram, ou não fosse o futebol um desporto onde a fronteira entre o
sucesso e o insucesso é uma linha tão ténue e que depende de tantas outras
variáveis.
Um caso flagrante da atualidade: Jurgen Klopp.
Treinador desejado pelos melhores clubes do mundo. Último lugar na Bundesliga
com o Borussia Dortmund! Seria possível isto acontecer em Portugal? Um
treinador, por muito bom que fosse, sobreviver a uma hecatombe destas?
Neste
último fim de semana, perguntaram a Klopp sobre a sua situação, e ele disse:
“Não me demito. E não admito sair do Borussia de Dortmund sem mostrar que sou
capaz de dar a volta a esta situação. É uma questão de honra.”
Um
senhor, é o que digo. Quantos treinadores do mundo têm a oportunidade de dar a
volta a más situações? Quantos treinadores não são despedidos sem essa
oportunidade de mostrarem que são capazes, apontados como as causas dos maus resultados, de tudo o que de mau acontece, e lançados à
fogueira como salvação da imagem da Direção junto dos adeptos?
Por isso, a minha opinião é que um bom
treinador, e quando se reconhece um bom treinador (há poucos no mundo na minha
opinião), é de manter, independentemente dos bons ou maus momentos que a equipa
atravesse.
Klopp
está em último lugar mas... É um bom treinador, tem os adeptos do seu lado, e
tem também os jogadores do seu lado. Reunindo estas três condições, mudar para
quê?
No
Borussia, e aqui com uma história algo similar ao Benfica, os melhores
jogadores saem todos os anos, e é natural que em certo momento, os treinadores
se ressintam dessas perdas ou que possam levar um pouco mais de tempo a
encontrar as soluções necessárias.
Como resolver então o problema do Borussia?
Com despedimento do treinador? Não resolveria nada e iriam seguramente contratar
um treinador pior. Resolve-se sim com, e aqui voltamos ao início do texto, com
bons jogadores, reforço do plantel. O treinador é bom, mas falta melhor matéria
prima. Melhores planteis, mais golos, mais vitórias, esta é quase sempre a
fórmula da felicidade nos clubes de futebol.
Levando isto agora para Jorge Jesus:
Jorge Jesus é um bom treinador? Já mostrou que
sim.
Trabalha bem as equipas tática e tecnicamente?
É uma evidência.
Sabe formar e valorizar jogadores, realizando
com isso mais valias para o clube? Está mais que provado.
Tem os adeptos do seu lado? A grande maioria tem,
de certeza absoluta.
Os jogadores continuam a correr por ele e a
deixar a pele em campo? Nunca me apercebi do contrario.
Vai ganhar sempre? Evidentemente que não, como
nenhum treinador do mundo o faz.
É o melhor treinador do mundo? Para mim não,
mas pouco me importa que ele ache que sim.
É insubstituível? Evidentemente que não, mas é
preciso cuidado. É muito mais fácil contratar um treinador pior que Jorge Jesus do que melhor, tal como é muito fácil para o Benfica ter de contratar mais 10 defesas esquerdos até encontrar um melhor que Siqueira.
Talvez fale melhor, como Quique Flores por exemplo, mas continue a achar que
David Luís deva ser defesa esquerdo.
Deve o
Benfica mudar de treinador?
Para
mim sim...
... No
dia em que a mudança for resultado de uma mudança de filosofia do clube, por
exemplo no dia em que LFV decidir que a aposta tem de ser na prata da casa e se
concluir que Jorge Jesus não é a pessoa certa para encabeçar esse projeto.
Até
lá... Fica Jorge Jesus, que o problema da falta de golos não se resolve com
substituições de treinadores mas, com a contratação de um ponta de lança que nos
coloque um pouquinho mais perto das vitórias.