Vamos falar de numeros das modalidades. Estamos a gastar para o coração?

Num momento já pós eleições onde muitos defendia o "Governo das contas certas", preocupa-me algumas decisões do SLBenfica, que mais parecem ir numa óptica de "agradar ao adepto" do que numa perspectiva racional.

Escrevo este texto a propósito de ver hoje o Pinto da Costa a puxar pelo "popularucho" e dizer que vão ter futsal, surf e futebol feminino. Mas vamos ao que interessa, o SLBenfica:

Estive no site a contar e são 21 modalidades, 26 se contarmos com o que chamam apoios institucionais. Nestas modalidades, o SLBenfica gasta cerca de 47M€ (mais 2,5M do que no ano passado) e por esta ordem de ideias, no próximo ano passam a barreira dos 50M€.

Em praticamente todas as modalidades temos masculinos e femininos. Portanto, do ponto de vista de ecletismo, o SLBenfica efectivamente confirma a sua génese como elemento potenciador da prática desportiva - eu diria - em todas as modalidades (e mais algumas). Até aqui tudo bem.

Porém, de onde vêm estes 50M tendo em conta que, na sua larguissima maioria, as modalidades não são individualmente sustentáveis: Pois vem do futebol, pois claro!

E este investimento brutal, que carrega sobre o futebol, é com que propósito? Vencer na Europa não será, porque com excepção do Barcelona no Andebol e Hoquei e o Real Madrid no Basquetebol, a maior parte dos clubes que anda nas decisões das competições Europeias não são clubes com ambições no futebol (e por outro lado têm orçamentos massivamente brutais nas modalidades). No volei entao... é tudo clubes... de volei, praticamente.

Portanto, ambições europeias não será. Só para termos uma ideia, ha dois anos o Barça tinha um orçamentos de mais de 40M so no Basquete e no Andebol gastam 8M. No volei gastam a maioria das equipas de top10 a volta de 3M...

Eu diria que o SLBenfica, porventura, deveria seleccionar as apostas nas modalidades. Manter todas as que puder mas sem ambições demasiado elevadas em geral, elegendo as duas / três onde queremos ter um projecto verdadeiramente europeu, que é onde se ganha notoriedade e se conseguem maiores apoios e patrocinios.

Eu sei que estou a escrever este texto e eu próprio acho que é dinheiro bem gasto poder ver os pavilhões cheios, etc. Mas infelizmente esse desejo apenas não paga as contas... e quando juntamos a isso investimentos milionários em jogadores do futebol profissional que não só não rendem, como ainda estao a desvalorizar e temos mais de 100M metidos em situações assim... eu confesso que começo a ficar preocupado com o facto de que o excesso de gastos começa a ser um elemento transversal a todo o clube e sem uma permissa de base de retorno e de como se financia.

A curto prazo funciona... com um titulo ou outro no futebol funciona, mas a médio prazo, com este nivel de custos e de orçamentos galopantes nas modalidades, não estaremos a:

1. limitar orçamentos, por exemplo, para reter profissionais diferenciados que estão a sair do clube para outros projectos profissionais?
2. criar um um buraco financeiro que nos obrigará depois a uma "sangria" elevadíssima e com custos de competitividade que se arrastarão por anos?

Eu talvez apostasse em duas ou três modalidades para ganhar e as demais para competir dando as melhores condições possíveis. Em nome da responsabilidade económica, não do coração porque pelo coração benfiquista até gostava de ver estes orçamentos reforçados.

Que Rui Costa se preocupa muito com o que pensam os adeptos dele, já todos sabemos. Que este investimento elevadíssimo lhe garante apoios, também sabemos. O que me preocupa é o "quem vier atrás que feche a porta".

Fica partilhada a preocupação, porque aqui no NGB, gostamos de falar antes dos factos acontecerem, porque depois é fácil ser visionário.