Um Benfica a fazer tudo para chegar ao Penta? Não me parece!

Janeiro de 2018

(Record) E como foi feita a preparação nesta época?

(Rui Vitória) Olhámos para a formação da equipa de outra maneira. Vou concretizar. Para lateral-direito, tínhamos o André Almeida, que no ano anterior até tinha jogado mais do que o Nélson Semedo. Para centrais, tínhamos um Jardel que acreditávamos que, nesta época, iria estar ainda melhor, porque as lesões não o iriam apoquentar dois anos seguidos. Era um jogador que estaria em condições de dar resposta. Ou seja, colmatávamos logo, de certa forma, a saída do Lindelöf. Na baliza, tínhamos o Júlio César, que era um guarda-redes valiosíssimo. Tínhamos era um Ederson, que é de topo mundial. O Júlio também é, mas já com uma idade diferente. De qualquer forma, acreditávamos que o Júlio poderia fazer perfeitamente esta transição. Na frente, para o lugar do Guedes, temos os alas que agora temos, e a reposição poderia ser de forma mais ou menos natural. Onde é que é pode haver aqui eventualmente alguma desconfiança na formação do plantei? A questão é que estes jogadores não entraram logo a segurar a equipa, a estabilizá-la.

(Record) Quer concretizar?

(Rui Vitória) O Júlio César, infelizmente, começou com lesões. O Jardel também. O André Almeida já estava lesionado e nem fez a Emirates Cup. Isto, naturalmente, não deu a estabilidade de que precisávamos para que depois, ao longo do ano, fôssemos acrescentando valor com os novos jogadores que passámos a ter. A fase de adaptação passaria. Reparem: dos jogadores de que falámos que foram vendidos, só um deles começou como titular: o Nélson Semedo. Os outros, não. Ninguém entrou na equipa na fase inicial. O Lindelöf foi a meio, o Ederson foi em Alvalade, o Renato Sanches foi num jogo em Astana , o Guedes começou a titular, depois foi irregular e voltou... São jogadores que tiveram um percurso de maturação e só depois se deu a entrada. Era isso que queríamos fazer com estes jovens que temos. No fundo, o plano era este: numa fase inicial ter uma estrutura que segurasse e, depois, a decisão de entrada destes jogadores nunca seria fruto da necessidade, mas sim de uma decisão nossa.

Resumindo, no fundo o que Rui Vitória diz é algo que até pode fazer sentido a nível de planeamento da época, só que… Como diz Rui Vitória, o planeamento saiu furado, e nada se fez para inverter a situação.

O Júlio César infelizmente começou com lesões… Mas não se contratou ninguém para o seu lugar quando se percebeu isso.

O Jardel também… E também não se foi buscar ninguém.

O André Almeida já estava lesionado e nem jogou a Emirates Cup… Mas contratou-se o Douglas para o seu lugar que também não serve.

Como diz Rui Vitória:

No fundo, o plano era este: numa fase inicial ter uma estrutura que segurasse e, depois, a decisão de entrada destes jogadores nunca seria fruto da necessidade, mas sim de uma decisão nossa.

E aqui também as palavras usadas são perigosas. Numa fase inicial ter portanto uma estrutura que segurasse? Segurasse como? Que desenrascasse? Que desse para ganhar jogos mesmo com um onze assim-assim? Isto para os jogadores do desenrasca é magnífico ouvir!

Isto não é assumir que as armas não eram as ideais, mas que com um bocado de sorte os jogadores do desenrasca segurariam o barco até os putos caloiros trazerem o acréscimo de qualidade que faltava?

Nunca nesta explicação de Rui Vitória ele dá a entender que o Benfica começou a época com um onze só por si já à altura dos pergaminhos do clube, sem ter de estar sempre a olhar para a pequenada à espera de perceber o que ia sair dali.

Voltamos ao mesmo e àquilo a que me referi no meu texto desta semana LFV a querer desmentir o que a história demonstra de forma claríssima!

Planear as épocas à volta destes miúdos caloiros é sempre perigoso, porque são melões que se abrem sem sabermos bem o que vamos encontrar. Tê-los no plantel SIM, desde que na retaguarda de um onze forte que não precise urgentemente deles para estar à altura de conquistar o que se propõe!

Este ano por exemplo, já se percebeu que o Diogo e o João estão até ver aquém do esperado, Varela tem desenrascado mas esta palavra desenrascar não serve num grande clube, salva-se o Rúben Dias, honra lhe seja feita.

Ou seja, RV assume que o plano A falhou no início de época, até porque como diz os jogadores estavam aleijados. Sabendo que estavam aleijados, não se contratou ninguém. Mas o plano B falhou também porque tirando Rùben Dias, os putos do acrescento de qualidade não estiveram até agora à altura de substituir os jogadores da transição.

Dito isto, era esperado que chegados a Janeiro, e com a época feita até ao momento a mostrar claramente que temos falhado em larga escala, houvesse a intenção de corrigir qualquer coisa. Mas nada se fez mais uma vez, nem sequer substituir Krovinovic com um jogador que pudesse render já, o único jogador que este ano foi capaz de dar alguma esperança aos adeptos do Benfica de que as coisas poderiam mudar para melhor.

Continuamos pois com o tal onze com as mesmas dificuldades vislumbradas no início de época, com algumas peças da cristaleira sem substituto à altura e que por isso não podem mesmo partir, e trouxe-se Gedson para a equipa A, mais um melão que quiçá poderá ser o acrescento de qualidade mas que também pode não ser.

É isto o Benfica à Benfica, um Benfica realmente a fazer tudo o que lhe é possível para chegar este ano ao Penta? Sinceramente, não me parece! Mas oxalá me engane!