Bem maior a vontade do clube em vender do que a dos jogadores em sair!

Bem, quem vai acompanhando aquilo que se escreve neste blogue vai sabendo a opinião que tenho sobre a formação, e como já aqui defendi mais do que uma vez, que a aposta que os Benfiquistas querem na formação não passa só por produzir talentos mas sim também por haver forma de manter esses talentos na Luz pelo menos três anos, a não ser, claro, que chegasse alguém e batesse a cláusula de rescisão.

Utopia?! Não creio! Basta lembrar que quando a bandeira da formação nos foi vendida, venderam-nos também a ideia de que dessa forma o Benfica baixaria drasticamente os custos, e que assim se punha fim à urgência de se vender todos os anos.

Ora, como se tem visto, essa urgência em vender continua bem viva! Uma coisa é termos na Luz um jogador apetecível que não precisamos de vender, e chegar ao nosso gabinete algum representante de um grande clube com uma proposta bem choruda que nos convença a fazer aquilo que não queremos fazer!

Outra bem diferente é ter um Presidente (e um empresário) que andam de catálogo da La Redoute na mão num inter-rail a nível mundial com paragem em todos os apeadeiros, com preço definido por cada cabeça e promoções para venda em pacote, à espera que alguém pegue em alguém...

E este alguém é mesmo um alguém qualquer, tanto dá ser um lateral direito como um esquerdo, como um ponta de lança, extremo ou até um centro campista que não temos. O que importa é que alguém vá à sua vidinha e nos cofres da Luz entre o dinheiro que tem de entrar e pelo qual não se pode esperar até ao final da época.

Bem, eu confesso que já fiz as pazes há muito tempo com a ideia de que no Benfica se montou um entreposto de jogadores com objetivos de lucro, em que se compra e vende muito artista que chegou à Luz sem haver qualquer plano de integração no plantel.

Mas ver esta política chegar ao coração do clube, a essa ideia da formação que nos venderam e pela qual era suposto apaixonar-nos, desses jogadores que sentiriam a nossa camisola de maneira tão intensa como nós adeptos, fruto dessa identificação com o símbolo da águia que poderíamos agora partilhar com jogadores da nossa casa, ao contrário de todos os outros estrangeiros que chegavam à Luz já com um pé no clube seguinte, desilude-me de facto. Ou talvez não me desiluda, porque nunca me iludi.

Está bem que o Menino Jesus deu um jeitaço tremendo para se poder ir despachando uns miúdos talentosos (com umas cláusulas que por lá havia), sob a desculpa de que, pois, os putos tinham de nascer dez vezes...

Mas Jesus há muito foi à sua vidinha, e o que se vê de facto é que aquilo que muitos suspeitavam se confirma: Está tudo à venda, novos velhos, do Seixal ou da China! E chegámos ao cúmulo de ser bem maior a vontade do clube vender do que dos jogadores saírem!

Agora já sem Jesus, sacode-se as poeiras que estas questões levantam sempre discretamente para cima do Renato Sanches, com uma tirada do género de: “Não podíamos estragar a vida ao miúdo”, isto para dar a ideia, claro, de que o miúdo que tinha acabado de fazer 19 anos é que é o causador disto tudo, o miúdo que supostamente sentia o Benfica com um fervor igual ao nosso, que forçou a saída e nunca ficaria de corpo e alma na Luz se lhe se fosse pedido para ficar, vá lá, mais um aninho que fosse! Não, Renato saiu porque aos 19 anos tinha de fazer o contrato da sua vida, e não o fazendo ficava com a vida estragada! Pois.

Renato Sanches, para os mais esquecidos, fez uns míseros 35 jogos com a camisola do Benfica. Tão poucos jogos que está agora na Alemanha a pagar a fatura da sua saída precoce. Até para o próprio Renato teria sido bom ficar na Luz e consolidar o seu estatuto, para sair depois com mais hipóteses de jogar, e digo eu, por mais dinheiro ainda!

Essa mesma falta de experiência que também se aplica ao Gonçalo Guedes, que ganhou espaço na Luz, como sabemos, devido a um festival de lesões como há muito não se via (e que ele tão bem aproveitou), mas ainda hoje um jogador MUITÍSSMO LONGE de ser um talento já consolidado!

E até se consolidar era na Luz que devia estar (até para o bem dele), e não ser mais um a ser obrigado a sair porque o catálogo da La Redoute não conseguiu despachar nenhum daqueles jogadores que estamos mortinhos para impingir a um trouxa qualquer, e que agora irá aterrar algures, e pagar (digo eu) o preço da sua ainda imaturidade e falta de consistência que até nos relvados da Luz faz eco!

Gonçalo Guedes fez pois até hoje 57 jogos pela equipa A do Benfica, muitos deles a vir do banco e a entrar 10 minutitos só para a estatística!

Claro que muitos continuarão a defender que assim é que está bem, que os tempos são outros, que os putos forçam a saída, que o Benfica nem sequer tem de vender e que só faz estes inter-rails pelo mundo de vendas a catálogo, porque aos miúdos não se pode estragar a vida.

Muitos desses que virão já a seguir defender acerrimamente esta política nem sequer se lembram do que diziam há 12 anos atrás quando o Sporting vendia os seus produtos ao fim de meia dúzia de jogos sem grande aproveitamento na equipa principal... Bardamerda pois se o Benfica hoje faz igualzinho... Se é o Benfica a fazer já deve estar bem!

Só para lembrar a esses que por exemplo um tal de Cristiano Ronaldo que tantas vezes nos faz fazer chacota sempre que algum Sportinguista vem reclamar os seus méritos na formação do miúdo, porque segundo nós, o que o tornou naquilo que é hoje foi o seu trabalho no Manchester United, fez 31 jogos pelo Sporting! Renato Sanches fez 35!

Hugo Viana fez 26 jogos pelo Sporting, Nani fez 58, Ricardo Quaresma fez 74 jogos e Simão Sabrosa fez 62 jogos!

Se estes, dizíamos nós na altura, nem tiveram tempo para assentar arraias no Sporting, será que aos nossos putos de hoje lhes é dado esse tempo? Ou a merda é basicamente a mesma?!

Contente como Benfiquista com o aparecimento de jogadores das escolas da Luz com talento para vingar com a camisola da Águia no plantel principal? Claro que sim! Mas bardamerda com as tretas que nos venderam, do orgulho que nos devolveriam de ver um Benfica ganhador com jogadores a fazerem da Luz a sua casa, capazes de nos dar mais em paixão e em mística do que nos daria qualquer estrangeiro!

O que a realidade mostra é que ter um Di Maria ou um Gonçalo Guedes na Luz, é para este Presidente, ao nível de política desportiva e financeira exatamente a mesma coisa! É a mesmíssima política das necessidades das vendas e dos milhões fáceis que entram por produtos da nossa Academia, tudo mascarado com a ilusão de que nos tínhamos virado para a política da mística!

E ainda há gente que se surpreende de haverem por aí uns treinadorzecos que nunca foram na cantiga e que nunca estiveram virados para esta fantochada de apostas em miúdos que ao fim de meia dúzia de jogos são imediatamente despachados, com laçarotes e tudo e escolta do país de origem até ao país de destino, não vá o miúdo mudar de ideias e descer do comboio a meio caminho, para voltar ao sítio onde jogar era o seu sonho de menino, e de onde sempre admitiria sair, mas se calhar não tão cedo!