No fundo, acho que é isso...
Eu não considero Mário Wilson um dos GRANDES pelo que lhe
vi jogar ou treinar sequer... Sim, vi-o treinar o Benfica mas, não na época em
que o mundo do futebol ainda o considerava GRANDE... Vi-o treinar o Benfica
sim, na altura em que Mário Wilson já era passado e pó dos museus, a chegar ao
Benfica para apagar fogos ateados por outros, e sempre com estatuto assumido de
“treinador a prazo”, que era o mesmo
que dizer “treinador até encontrarmos um
treinador a sério.”
Ainda assim, recordo bem estas fases “passageiras” de
Mário Wilson no Benfica como “treinador
até encontrarmos um treinador a sério”, que se prolongaram sempre um pouco
mais do que inicialmente previsto, até porque os resultados alcançados pelo
Benfica sob a sua orientação também eram quase sempre, nestas fases de aperto e
de absoluto desalento, bem acima das expetativas iniciais dos adeptos.
Era assim por Mário Wilson ser um treinador excecional?
Não creio! O que Mário Wilson tinha era dons excecionais, o dom de chegar ao balneário
de um Benfica arrasado e transmitir aos seus jogadores tranquilidade e paz, trazê-los
de novo à terra confortáveis na sua pele, permitindo-lhes jogarem libertos dos
fantasmas que os tolhiam.
Mário Wilson era de facto um ser humano extraordinário...
Dito, claro, por mim, aqui à distância de alguém que nunca trocou uma palavra
com ele...
Mas isso é o que se percebia em cada intervenção sua... E
é por isso que Mário Wilson é dos poucos que no Benfica será sempre imortal...
É que são muitos aqueles que sobressaem nas suas carreiras como treinadores e
jogadores ao serviço de um qualquer clube... São muitos aqueles que em
determinado momento da sua vida servem os clubes com qualidade tal sem nunca lhe vestirem a pele, que
rapidamente se tornam ídolos das bancadas mas, também, e no fim de tudo,
rapidamente esquecidos...
Mas são muito poucos aqueles que conseguem tudo isso mas
tornarem-se ainda intemporais e, melhor que isto, reunir consensos e admiração
total, dos adeptos de todos os clubes, mesmo dos maiores rivais...
E estes meus amigos, estes é que são uma espécie bem
rara, e são estes que realmente me apaixonam e me fazem amar o desporto e o
Benfica de forma quase incondicional...
Estes são
aqueles que são capazes de tornar o clubismo e as cores de que gostamos quase
irrelevantes: O que nos apaixona mesmo são as pessoas, os baluartes da vida, aquilo
que trazem cá dentro, o exemplo que dão ao mundo e aquilo que representam...
...E depois,
abaixo disto tudo, vem o serem do Benfica, e aí a gente diz: “Dasse, eu ia gostar de ti de qualquer
maneira, mas seres das minhas cores torna todo o meu clubismo num orgulho ainda
mais imenso!”
E não têm de ser do Benfica sequer... Porque neste grupo,
desta espécie raríssima onde felizmente ainda cabem alguns Benfiquistas vivos,
também cabem grandes nomes como Moniz Pereira ou Bobby Robson por exemplo,
gente de outras cores que também quase venero...
Isto é gente que
“entrou” na minha vida por causa do desporto... Mas depois é também gente que
cabe nos dedos de uma só mão, daquela espécie rara que entrou e ficou e que
tornou o estádio quase irrelevante, gente que me faria mover
montanhas só para poder tomar um café com eles...
Há muitos que
no relvado fazem figura... Há poucos que consigam tornar-se verdadeiros monumentos
vivos da história dos clubes, e passar essa história para outros sempre sob a égide
dos mais nobres valores e de forma quase poética!
Havia Eusébio,
Mário Wilson... Sobra Toni e mais um ou outro desta preciosa estirpe... Mas
cada vez mais essa mística vai morrendo, esse sentimento de pertença tão raro
nos dias de hoje, essa paixão quase doentia, o ser-se do Benfica acima de
tudo...
Gente como Toni, cujo sentimento do que é ser-se do
Benfica acima de tudo é descrito exemplarmente nesta entrevista a Daniel Oliveira, a qual,
tal como o brilhante discurso de Mário Wilson na gala de homenagem a Eusébio,
também não me canso de ouvir...
Diz o Shadows, no seu excelente texto esta manhã, que
Mário Wilson merecia a sua homenagem em vida... Compreendo a sua ideia e subscrevo, até porque eu próprio
também acho que Toni merece a sua MAS...
Também acho que o problema nestas alturas é o saber-se
que, quando se iniciam as homenagens a figuras singulares do clube, onde é que
paramos?
Com Eusébio era mais fácil, porque Eusébio era consensualmente
o maior de todos... Eusébio era como a Amália, mais do que um embaixador do
Benfica era um embaixador do próprio país... Mas quando se desce um pouquinho
mais, a querer homenagear outros que sabemos que também merecem mas que há
outros que também passariam a merecer por estarem ao mesmo nível, a coisa
torna-se complicada por não haver hipótese de homenagear todos...
Eusébio vai para o Panteão Nacional, outros reclamam ir
para o Panteão... Marcelo Rebelo de Sousa dá medalha aos campeões europeus de
futebol, e rapidamente o campeão europeu de corridas de caricas reclama das
razões pelas quais ainda não recebeu a sua... É essa a natureza humana...
Da minha parte, já me contentava com a repetição de
tempos a tempos, desse grande jogo no Verão de 2010 e que ainda hoje recordo
com saudade, dos amigos de Zidane contra os All Stars do Benfica, que foi capaz
de levar à Luz 50000 espetadores...
Também é
verdade que cada vez mais vão escasseando as figuras encarnadas ainda capazes
de dar um chute na bola, e que a grande maioria das tais figuras que ainda
seriam capazes de o fazer, não tiveram mais do que um ou dois anos de casa,
pelo que também este tipo de eventos começa a perder todo o sentido...
A verdade é
que a realidade vai mostrando que muitas coisas vão perdendo o sentido, e que
cada vez mais o Benfiquismo se vai fazendo dos golos de hoje, mas já quase
totalmente desprovido de memória e de símbolos...
...Mas depois
acontece a morte de gente como Mário Wilson... E somos confrontados com o
assombro da realidade, o saudosismo do passado, de uma forma bem própria de se ser
Benfiquista que sabemos que não volta mais...
Isso ainda é o
que dói mais nestes momentos!
O enorme (em vários sentidos) Mats Magnusson 😁
ResponderEliminar""Também acho que o problema nestas alturas é o saber-se que, quando se iniciam as homenagens a figuras singulares do clube, onde é que paramos?""
ResponderEliminarNão paramos, quem não gostou de rever o Magnusson e o Miccoli? Porque não uma vez por mês num jogo em casa, transformar no dia de "inserir antigo jogador". Mais um atrativo.
Nem com homenagens nem com ajuda. Gostei de ver o Isaias na festa do Corporate Club, espero que o estender de mão não tenha ficado por ai, quem diz Isaias diz Chalana, diz jogadores que tanto deram a receber uma miséria comparado com o que se ganha hoje.
Alías uma excelente ideia era ter alguem ou mesmo um pequeno departamento no clube, que ensinasse não só jogadores atuais mas tambem antigos a serem mais responsáveis com dinheiro, com ajuda e aconselhamento não só de investimentos mas tambem com a gestão do dia a dia. Horrível ver antigas glorias do Benfica a queixarem-se que estão na míseria.
O título do post é simplesmente genial e ilustra o actual Benfica. Não há nada mais a dizer.
ResponderEliminarPois é! Pois é!
ResponderEliminarQuem como eu nasceu nos anos 70, revê-se neste texto e .... chora...por aquilo que o fez do Benfica....e nunca mais vais ter!
ResponderEliminarSocio do SLB rumo ao #36