A entrevista de Luís Filipe Vieira: preocupante!

A entrevista de Luis Filipe Vieira ao jornal Record foi mais um episódio no esforço de exorcizar a imagem de Jorge Jesus das costas de Vieira.

Foi também mais um exercício de vindicação da imagem de Luis Filipe Vieira.

Depois de ler várias vezes a entrevista integralmente fico com a sensação de que Luis Filipe Vieira está tão convencido de que será "eterno" na presidência do clube que acha que nada vai colocar em causa o seu auto-proclamado estatuto de "salvador" do clube.

Aliás, não faltou essa menção obrigatória ao "caos" que era o clube antes dele.

"A última grande crise do Benfica e que quase nos condenou ao desaparecimento teve a ver precisamente com o facto de querermos ir atrás dos outros clubes numa espiral de gastos que a nossa tesouraria não aguentava."

Curiosamente, Luis Filipe Vieira parece esquecer que o "caos" foi lançado pelo principal coveiro do clube chamado Manuel Damásio, membro da sua comissão de honra. É Damásio que entrega o controle do futebol português a Pinto da Costa e que mete no clube Artur Jorge que destrói um plantel campeão.

Mas Luis Filipe Vieira não pode saber destas coisas pois nessa altura estava a enterrar o Alverca e era "homem de confiança" de Jorge Nuno Pinto da Costa. O Estádio da Luz era uma coisa estranha para si antes do ano 2000.

A entrevista revela também que afinal a planificação desastrosa das pré-temporadas e contratações tem o seu cunho pessoal. Achar que é depois da pré-temporada que se vê o que é preciso em termos de reforços é de um amadorismo gigante. Ignorar que o plantel tem lacunas e que não é depois de começar a época que se dá ao treinador os jogadores de que precisa é revelador de uma ignorância brutal sobre o que é montar atempadamente uma equipa.

Também a forma como não fecha a porta a saídas de jogadores chave não surpreende. Um presidente que tenha como prioridade o sucesso desportivo pensaria de outra forma. Quantos jogadores têm saído pela clausula de rescisão, paga a pronto? Provavelmente nenhum. Negócios irrecusáveis ou para fazer o jeito a parceiros como a Doyen? Vieira continua sem responder. Como não responde como é que consegue vender miúdos sem experiência a 15M e não consegue vender Gaitan por pouco mais que isso.

A centralização dos direitos televisivos teve também mais uma clarificação, no mesmo sentido da que DSO já tinha dado no outro fim de semana. Estes recados cheiram a preparação. Os jogos do Benfica vão sair da BTV.

Quanto a isto, também o website do Benfica dá uma achega ao tema, afirmando que: "O debate sobre a centralização dos direitos televisivos no Campeonato Nacional poderá obrigar à perda de um dos conteúdos atuais da BTV, algo que não assusta o presidente benfiquista."

Joaquim Oliveira tem o caminho aberto.

Luis Filipe Vieira assume nesta entrevista também afinal aquilo que os papagaios de serviço andaram a negar tanto tempo, e que neste blogue sempre denunciamos: a aliança com o FC Porto. Assume que afinal foi ele e Pinto da Costa, como sempre afirmamos, que convidaram Luis Duque.

Ora, Luis Duque é um fantoche que é muito bom na arte de ser manobrado. É a sua grande virtude. Uma especie de Fernando Seara, mas do Sporting.

O que Vieira não explica é qual a razão de ter-se aliado a Pinto da Costa, o rosto do ódio ao Benfica e o líder de um bando de criminosos, como o Apito Dourado, a Noite Branca ou a Fénix têm provado.. Já o presidente do FCP  demonstrou porque aceitou apoiar Duque. Para correr com Mário Figueiredo. Agora que o conseguiu, já virou agulhas para quem até aos Dragões de Ouro já foi: Pedro Proença.

Como sempre Vieira não foi capaz de criar ou liderar uma opção de longo prazo. Apoiou uma opção fraca como Duque e agora é vê-los passar. 

Luis Filipe Vieira afirma que nunca será associado a um apoio a Proença. Também não tinha apoiado Seara e afinal os telefonemas a pedir votos para o ex-presidente da CM Sintra aconteceram. Ou disse sob palavra de honra aos deputados que não tinha ainda treinador para substituir JJ quando já todos sabiam que era Rui Vitória.

No que envolve o FCP, são várias as vezes que Luis Filipe Vieira fala no exemplo do clube do qual foi sócio 24 anos. Por exemplo, destacando a "estrutura competente" do FC Porto. A tal estrutura que, como o Apito Dourado demonstrou, era competente a condicionar árbitros. Competências dessas dispenso no Benfica. Aliás, a forma discreta como responde aos ataques no 'El País' são evidências dos problemas de Vieira em responder à letra ao FCP.

Falando no treinador, Luis Filipe Vieira deu aquela espécie de elogio que era dispensável.

"...mas sinceramente está num patamar acima daquilo que esperava...".

Para falar em Rui Vitória, era demonstrar confiança no seu trabalho e ponto final. Sem mais apreciações. Elogios do tipo "não é tão mau como julgava" são um atestado de poucas esperanças.

Nem sei como Vieira pode já tecer apreciações sobre o trabalho de Rui Vitória, pois o líder do futebol do Benfica não está a acompanhar a equipa na preparação da época. Deve ser tipo Lara Li: telepatia.

Esta entrevista vem numa altura que Vieira procura sossegar os adeptos pela ausência de contratações e pela aparente fragilidade financeira do clube. 

Da minha parte, confirmou algumas das coisas que por aqui escrevemos e que tantos procuraram desmentir. São preocupantes e revelam uma incapacidade enorme de Luis Filipe Vieira em romper com o seu passado ligado ao FC Porto, a Pinto da Costa e a Joaquim Oliveira.

Dizer que somos favoritos porque somos bicampeões, sem reforçar ou melhorar o que existe, é achar que todos são ceguinhos.

Preocupante. Sem dúvida.