Política de Comunicação do Benfica: Ideal ou Desajustada?

Salta à vista que Luis Felipe Vieira não é um líder natural, não tem o dom da palavra, não tem a capacidade de virar discussões a seu favor, chega até a parecer que é uma pessoa reservada, incomodada com a exposição mediática que o cargo que ocupa lhe dá. Não é um “pensador nato” mas um homem do povo com o coração ao pé da boca. Quantas vezes não se tornaram frases suas armas de arremesso dos adversários? A célebre frase da equipa maravilha que depois nem para a Taça UEFA se qualificou, a frase em que dizia que mais importante do que contratar bons jogadores era investir na Presidência da Liga de Clubes, a outra recente em que dizia que dos jogadores do Benfica só um sairia abaixo da cláusula de rescisão. São intervenções a quente, desnecessárias, têm o intuito de galvanizar as hostes mas muitas vezes acabam por se virar contra o próprio clube.

Luís Felipe Vieira é assim, não há volta a dar, a experiência permitiu-lhe disfarçar algumas insuficiências mas não lhe muda a natureza.

Dito isto, entendo também que não é por LFV ser um líder sem o dom da palavra que o seu trabalho à frente do Benfica fica diminuído nos seus enormes méritos. Considero que Luís Felipe Vieira tem realizado um grande trabalho à frente do clube e que a história há-de acabar por reconhecer a sua obra. Sou seu apoiante.

Mas isto para dizer o quê? Que mais uma vez não entendo o timing da entrevista de ontem na SIC. Tal como não entendi o timing da entrevista anterior, em concorrência directa com a de Pinto da Costa noutro canal televisivo, levando capote nas audiências como se imaginava. São erros primários, infantis, próprios de um iniciante.

Porque a sensação que tive ontem é que Luís Felipe vieira foi a uma entrevista muitíssimo mal conduzida por Rodrigo Guedes de Carvalho, para fazer o balanço de três semanas de Campeonato Nacional! Luís Felipe Vieira foi a um programa televisivo em horário nobre para responder a perguntas sobre duas derrotas no campeonato, Roberto, Simão, Eduardo, Mantorras, mercados da Russia, Laurentino, Queirós e insinuações sobre equipa de caceteiros?! Mas está tudo doido? Prestam-se assim a esse papel?!

Em primeiro lugar, LFV não tem de ir para a televisão à terceira jornada prestar contas de contratações consumadas nem por consumar. Não tem de responder a perguntas sobre Simão, sobre Aguero ou sobre nenhum outro que não esteja no clube.

Qual o objectivo do jornalista perguntar se foi Jorge Jesus a vetar Simão? Ainda que o tivesse sido, não estaria JJ no seu direito? Qual o objectivo de perguntas destas? Inventar mais guerras? E o Benfica deixa-se cair na ratoeira, e deixa que estes jornalistas e paineleiros continuem a escarafunchar, cada vez mais fundo até atingirem a alma do clube?!

Porque todos percebem que Luís Felipe Vieira não tem capacidade de responder a algumas perguntas incómodas, e pelos vistos ninguém o aconselha. Que raio faz o Director de Comunicação do Benfica? Não era mais do que óbvio que perguntas sobre Roberto iriam surgir na entrevista de ontem? E não se leva uma cábula? Uma resposta preparada para proteger o atleta?

O que LFV tinha de responder ontem às questões sobre Roberto seria algo como: “As contratações do Benfica somos nós quem as fazemos, e fazemo-las baseados em convicções que não se alteram ao fim de uma ou duas semanas. Roberto não é diferente nem do Gaitan, nem do Jara, nem do Coentrão, nem do Javi Garcia, nem do Saviola nem do Júlio César, nem do Ruben Amorim nem de todos os outros. Têm estatutos idênticos, fazem parte do plantel e têm de justificar o lugar no onze todas as semanas. Não nos escondemos, estaremos aqui para responder por todas as nossas decisões, as boas e as más mas, será no timing certo, no final da época quando se avaliarem os resultados, não será agora, não será quando vocês querem, não será com três jornadas de campeonato decorridas e muita água para correr debaixo da ponte. Continuamos convencidíssimos que a contratação do Roberto foi acertada e que o tempo mostrará isso.” E o assunto morria ali.

Ou alguém vê Pinto da Costa prestar contas, ou melhor, eu já nem digo prestar contas, alguém vê Pinto da Costa ser questionado sobre as caríssimas contratações de Tomás Costa, Mariano, Bolatti, João Moutinho, Valeri, Farias, etc? Ou Bettencourt sobre Pongolle que custou 6.5 milhões há 8 meses e já cá não esta?

Eu estou cansado deste tema Roberto. O Benfica nos últimos três anos contratou Fábio Coentrão, Sidnei, Maxi, Yebda, Di Maria, Ruben Amorim, Bynia, Felipe Bastos, Balboa, Aimar, Reyes, Cardozo, Urreta, Jorge Ribeiro, Carlos Martins, Patric, Shaffer, Júlio César, Ramirez, Weldon, Saviola, Javi Garcia, Peixoto, Menezes, Kardec, Éder Luís, Oblak, Gaitan, Roberto, Jara e Fábio Faria.

A maior parte destes jogadores faz parte do plantel, sinal que foram apostas na sua maioria acertadas! Pela primeira vez em muitos anos o Benfica tem uma política vencedora e de continuidade, que não passa por dispensar 20 jogadores e contratar outros 20 em cada final de época. Erros houve (como há sempre), sendo o mais dispendioso Balboa que custou 4 milhões. Não vou incluir Roberto dos falhanços porque para mim é ainda muito cedo para fazer tal avaliação.

Mas as pessoas só falam do Roberto?! Alguém fala do Coentrão que custou 1 milhão e vale 30? Alguém fala no David Luís que custou 1.5 milhões e vale 35? Que raio?! É a pergunta que gostava de fazer a alguns jornalistas e adeptos Benfiquistas: No Benfica, há alguma coisa que achem certo?!

Uma última palavra para Rui Costa. Vejo nele um excelente comunicador, um homem ponderado e de bom senso, as palavras saem sempre redondinhas da sua boca. Acho que o Benfica ficaria muito melhor servido se fosse ele a falar mais vezes em vez do presidente. O que acho é que não é esse o papel que lhe cabe.

Chateia-me ler tantos comentários de gente que, apenas baseado naquilo que julgam saber, continuam a insistir que Rui Costa perdeu preponderância no Benfica. Porquê? Porque aparece menos, fala menos, já não faz viagens triunfais a Saragoça para pescar Aimares com chegadas apoteóticas ao aeroporto. Os populistas julgam que esse é que é o papel do director desportivo, aparecer no aeroporto rodeado de craques com os flashes a baterem-lhes na cara todas as semanas.

O trabalho de Rui Costa revela-se essencialmente no que não se vê, nomeadamente nos dois anos em que não se ouviu um único caso de indisciplina no plantel, revela-se no título de Campeão Nacional, sinal de que o departamento está a ser bem gerido. O resto é folclore.

Ou será que Reinaldo Teles também anda a ser esvaziado por Pinto da Costa há 30 anos? Nunca se ouve falar nele mas todos sabem que está lá.

Mas voltando à razão deste post, se esse papel de voz do clube não cabe a Rui Costa, tem então urgentemente de se arranjar forma de contornar as insuficiências que se vêm. O triste da intervenção de LFV no dia de ontem, é que se percebeu no final da entrevista a razão pela qual Luís Felipe vieira lá foi: Foi lá para lembrar a todos que o Benfica tem sido prejudicado pelas arbitragens e está atento. Mas se era para isso, foi mais do mesmo, havia formas bem mais fáceis de passar a mensagem, sem ter de se prestar àquele papel.