Fernando Tavares é licenciado em gestão de empresas pelo ISE (atual ISEG - Universidade Técnica de Lisboa). MBA em Inglaterra e várias pós graduações de gestão em universidades europeias e americanas. Uma vida profissional com vários cargos de direção, de administração e de docência em Portugal, Espanha, Inglaterra, França, Bélgica e Estados Unidos.
Antes de abraçar o seu atual projeto profissional, como acionista e CEO da MAKEFOOT, uma empresa de Marketing e Comunicação no Desporto, o gestor que era estranhamente acusado por Domingos Soares de Oliveira de “não saber fazer contas”, foi com sucesso Administrador Financeiro para a Ibéria de uma empresa multinacional que faturava 12 biliões de euros por ano.
Gestor com formação desportiva.
Para além de ter estado envolvido na seção de basquetebol do Benfica durante 2 anos, impedindo o encerramento da modalidade, foi Vice-Presidente responsável pelas modalidades durante 5 anos e Vice-Presidente da Federação Portuguesa de Basquetebol durante 1 ano.
Atualmente, para além de CEO da MAKEFOOT, onde colabora com diversas organizações desportivas, preside ao Comité de Desporto do LIDE (Organização de Lideres Empresariais) e por convite do Secretário de Estado do Desporto e Juventude é embaixador da Ética no Desporto colaborando com o Plano Nacional de Ética no Desporto. Neste momento, prepara o processo de internacionalização da MAKEFOOT, assim como a seleção da universidade entre as diversas opções em Portugal e no estrangeiro para se lançar no próximo passo académico:
Doutoramento em Gestão Desportiva ou Marketing Desportivo. Com 52 anos, casado e com dois filhos é o sócio número 8396 do Sport Lisboa e Benfica. Sócio Fundador do novo estádio e o ADN do Benfica corre-lhe nas veias.
"Regresso ao Passado"
Comecemos pelo passado. Há quem diga que Fernando Tavares "virou as costas" ao SLBenfica. Era importante esclarecer, quais os motivos que levaram a que abandonasse a Direcção do Benfica?
Ao Benfica nunca se vira as costas. Quando saí, não meti o Benfica na gaveta. Saí por imperativos de consciência e por considerar que já não conseguia influenciar positivamente o presidente do Benfica em relação à minha intervenção no clube. Tinha ideias claras sobre o caminho que as modalidades em particular e o Benfica em geral deviam seguir. O presidente decidiu não me dar cobertura institucional e eu saí. O presidente tinha toda a legitimidade para o fazer e eu total legitimidade para entender que a demissão era, naquele momento, a melhor solução para o Benfica. Não tenho feitio para ser peça decorativa, só porque isso me dá um estatuto especial. Não fazia sentido continuar, já que as minhas decisões não se sobrepunham às decisões de membros não eleitos do Benfica. E isso, num clube como o Benfica, não me parece tolerável. Em rigor sinto que a minha saída permitiu uma maior proximidade do presidente à realidade das modalidades e isso no fundo beneficiou o Benfica. Tenho pena que essa proximidade não tenha existido durante a minha governação. Recuando no tempo considero que podia ter feito as coisas de forma diferente criando uma desejável plataforma de envolvimento por parte do presidente. No entanto, orgulho-me de ter servido o Benfica e depois da minha saída a militância continuou como um simples sócio que não exerce funções de governação.
Ponderou alguma vez aceitar a hipótese de rever o seu modelo de gestão e aceitar fazer as coisas como queriam que fizesse, ao invés de sair por não se rever?
O problema não teve a ver, em rigor, apenas com modelos de gestão. Teve igualmente a ver com a interferência de pessoas que atuam na área de influência do presidente e que, desde há muito tempo, têm uma estratégia clara de tomada de poder no clube e na SAD. Eu era um membro eleito pelos sócios, portanto, a minha soberania no clube devia ser total em relação a essas pessoas, que são profissionais do clube e que nunca se submeteram a sufrágio. Também não podiam, já que algumas delas nem sequer são benfiquistas.
Mas também teve a ver com modelos de gestão. Por exemplo no Benfica confunde-se instrumentos com finalidades. Em qualquer organização de excelência um orçamento é um instrumento ao serviço da gestão e não uma finalidade em si mesmo. Se para ganhar um campeonato de uma determinada modalidade necessito, a meio da época desportiva, de fazer a troca de um jogador que vai ter um impacto orçamental de 20,000 euros anuais e por questões orçamentais não posso fazê-lo então eu digo que o orçamento passou a ser a finalidade. Para mim a finalidade é ganhar. Apesar de tudo cabe-me a responsabilidade de tentar mitigar esse impacto criando receitas extraordinárias. Mas não posso, dentro dos limites da razoabilidade, estar condicionado até ao último euro por um orçamento de 700,000 euros alocado a uma modalidade e deixar de ser competitivo por causa de 20,000 euros. Estou a dar um exemplo real. Podia dar muitos mais. Isto é um problema de gestão após a aprovação de um orçamento e já com a época desportiva a decorrer. Podia dar outros exemplos que têm que ver com a fase de construção orçamental na pré-época. Os financeiros do Benfica não conhecem a noção de investimento marginal. Eu questiono o que será melhor: gastar X euros e correr o risco de perder ou gastar X mais 3% (o tal investimento marginal) criando mais opções na fase de construção de uma equipa e aumentar significativamente a probabilidade de ganhar?
Tem conhecimento de outros dirigentes ou ex-dirigentes cuja autonomia tivesse sido colocada em causa, mas que tenham optado por permanecer, mesmo contra os respectivos modelos de governação para o qual foram eleitos pelos sócios?
Não posso falar pelas as outras pessoas. Falo por mim. Se outras pessoas se sentiram alguma vez desautorizadas no Benfica e seguiram o caminho de se manterem é um problema que não me diz respeito. Pessoalmente no lugar do presidente valorizaria quem dentro do Benfica sempre atuou com a convicção das suas ideias do que em alternativa estar rodeado por quem sistematicamente me diz que eu tenho razão. Os projetos crescem e desenvolvem-se na diversidade e no debate de ideias. Enquanto responsável das modalidades sempre preferi estar rodeado por pessoas que, de uma forma aberta, questionavam as minhas posições.
Na equipa de gestão que integrou apareceram pela primeira vez os "profissionais". Aqueles que foram apresentados aos sócios como mais-valias profissionais, independentemente da sua afinidade clubistica. Alguma vez sentiu que eles estivessem a mais no SLBenfica ou que poderiam vir a tornar-se um problema?
Antes de mais afirmar que nunca fui contra a profissionalização do Benfica. Pelo contrário, tive oportunidade de profissionalizar as modalidades. Seria impossível governar o Benfica sem profissionais. Por outro lado, direi que é possível profissionalizar com benfiquistas. Outra questão é o modelo de governo, ou seja, que tipo de interação tem que ser criada entre os órgãos eleitos e os profissionais. Senti esse problema a partir do momento em que passaram a condicionar o presidente do Benfica nas suas decisões e sobretudo quando essas decisões não eram as que mais defendiam os interesses do clube. E repito, decisões tomadas por pessoas sem filiação ao clube, sem uma relação emocional com o Benfica e que passaram a ter uma influência decisiva na tomada de decisões no clube e na SAD.
Muitos lhe apontam algumas decisões polémicas e, á primeira vista prejudiciais, como o despedimento de dois treinadores campeões: Beto Aranha e Alexander Donner. Quer comentar?
Quando as pessoas, por má-fé ou desconhecimento, pretendem menosprezar o trabalho que deixei feito no Benfica, atiram-me com essas decisões de ter prescindido com dois treinadores campeões no clube. O que posso dizer, a esta distância, é que voltaria a fazer o mesmo. Em ambas as situações fui confrontado com situações muito difíceis de gerir, em que, de um lado está um plantel inteiro e do outro está o treinador. Perante situações semelhantes de radicalismo, tive de optar entre manter as equipas de andebol e de futsal ou manter os treinadores. Optei por manter as equipas. Especialmente no caso de Donner, porque se trata de uma pessoa com imenso prestígio nacional e internacional não direi nada que possa manchar esse prestígio. Fui responsável pela contratação do treinador e responsável por não ter renovado o seu contrato. Com a informação que tinha naquele momento senti que aquele ciclo tinha terminado e o Andebol do Benfica necessitava de uma mudança mais orientada para um modelo de construção onde a formação tivesse um papel crucial. Foram muitas as pessoas que tiveram igualmente responsabilidade na conquista daquele campeonato principalmente os jogadores que em momentos de grande dificuldade souberam superar os problemas. Isso aconteceu porque existia uma retaguarda por mim liderada que foi essencial para a conquista do campeonato. Essa retaguarda desapareceu com a minha saída e o Professor José António que sucedeu ao treinador campeão esteve sozinho no leme para além dos problemas profissionais que teve com a Universidade onde lecionava e que são do conhecimento público. Será que Rito, treinador atual de Andebol, não está à altura do Benfica? Claro que está pois trata-se de um dos melhores treinadores portugueses. Mas Rito não pode atuar sem uma estrutura que o apoie. Esse é um dos problemas atuais das modalidades. Apesar do elevadíssimo investimento não ganham mais porque esqueceram-se de profissionalizar a estrutura de apoio às equipas de alta competição. Sobre Beto Aranha foi tudo tão mau que me recuso a falar. A propósito ninguém questiona porque razão André Lima que tudo ganhou ao serviço do Benfica como jogador e treinador foi dispensado apesar de ter conquistado a mais importante competição de futsal (UEFA CUP)?
Como chegou à Direcção do SLBenfica?
Cheguei à direção do Benfica, porque o presidente do clube conhece-me há mais de quarenta anos, porque havia uma cumplicidade muito grande entre nós e porque ele reconheceu que eu podia ajudar no seu projecto de tornar o Benfica, de novo, a maior potência desportiva do país. E depois do primeiro mandato, tudo levava a crer que iriamos conseguir o nosso objectivo.
Quais as decisões mais marcantes do seu percurso de dirigente do SLBenfica? Arrependeu-se de alguma?
Quando servimos o Benfica todas as decisões são marcantes. Todas as decisões que tomei foram no sentido de defender os superiores interesses do Benfica e com a informação que dispunha em cada momento. Não me arrependo de nada porque as mesmas foram tomadas com sentido de responsabilidade. No entanto, gostaria de referir uma das decisões mais críticas que foi a retirada do Benfica da Liga de Basquetebol. Na altura as pessoas não compreenderam – aliás, para surpresa minha, algumas pessoas continuam a não compreender – mas que se revelou decisiva para fazer implodir a Liga, que estava montada para prejudicar o Benfica. Eu sabia que o Benfica voltaria à principal competição da modalidade. Era uma questão de tempo conforme se provou. Lembro-me bem da conversa que tive na altura com alguns dos jogadores que optaram por ficar por terem a convicção que aquela era a estratégia correta e o Benfica voltaria rapidamente ao convívio dos grandes. Foi essa polémica decisão que permitiu que o Benfica tivesse ganho três campeonatos nas últimas quatro edições do campeonato nacional.
A propósito, acho caricato que os mesmos que me criticam não façam qualquer referência à minha intervenção para viabilizar na altura a Liga de Andebol e colocar o Benfica a jogar na principal competição. Lembro que quando fui eleito o Andebol do Benfica encontrava-se a disputar a segunda divisão do andebol português. Com a minha intervenção foi possível juntar à principal competição clubes como o Sporting Clube de Portugal, o Sporting da Horta e o São Bernardo em conjunto com o Benfica. A Liga de Andebol era dirigida por um grande homem (António Salvador) e não tinha “truques”. Ganhava-se e perdia-se competindo. O Benfica perdeu na primeira edição da “nova” Liga e teve a felicidade e a honra de ganhar a segunda edição contra um grande ABC, depois de 17 anos desde a conquista do último campeonato.
"As modalidades"
Que balanço faz do trabalho feito nas modalidades amadoras no Benfica desde a sua saída do clube?
Acho que o Benfica devia ter ganho mais do que ganhou com o investimento que tem feito nas modalidades. Ganhámos pouco para o que devíamos ganhar. E repare-se, nesta altura, é mais fácil fazê-lo, porque clubes que distorciam toda a lógica financeira do mercado desinvestiram nas respetivas modalidades. Clubes como Ovarense, Oliveirense, Hóquei de Barcelos, ABC, Espinho, Guimarães, Freixieiro e muitas outras operam com orçamentos muito mais baixos. Hoje, devia ser mais fácil ao Benfica ganhar nas modalidades do que era há alguns anos atrás. Há mais investimento do clube e, pelo contrário, mais desinvestimento dos outros.
Na sua opinião o que devia ser feito para terminar com a hegemonia do Porto no hóquei (conseguida com estratégias semelhantes ás usadas para conseguir hegemonia no futebol)? Concordaria com o terminar da modalidade, ou a descida da divisão durante os anos para estrangular financeiramente o "Sistema" estabelecido no hóquei tal como fez no básquete?
O caso do hóquei é diferente. Enquanto a decisão no basquetebol empurrou o principal quadro competitivo para a esfera da federação no hóquei isso não seria possível a não ser que a opção passasse pelo abandono definitivo o que eu não recomendaria. Quando fui eleito o hóquei do Benfica jogava para não descer. Optei por recrutar os jogadores que considerava representarem a próxima geração de vencedores. Apesar da primeira época ter dado excelentes indicações sobre o crescimento competitivo das jovens promessas o tempo veio a demonstrar que algumas das apostas não se afirmavam ao nível esperado. Com o regresso de Carlos Dantas ao Benfica tentámos em conjunto fazer os ajustamentos necessários que permitissem não desperdiçar o investimento anteriormente feito. O que se passou é que não tive a cobertura necessária do Benfica para o fazer. Com as decisões por mim e pelo Carlos Dantas preconizadas o Benfica teria recuperado a hegemonia da modalidade. Estranho que após a sua saída algumas dessas medidas tenham sido implementadas. Tenha que reconhecer que algo positivo foi feito nos últimos dois anos e neste momento o nível competitivo do Benfica equiparou-se claramente ao do Porto e o Benfica tem todas as condições para ganhar o campeonato nacional.
Na sua opinião, a que se devem os insucessos constantes no Andebol, com um orçamento galopante?
Este é um exemplo que conheço bem e tenho de reconhecer que o nosso adversário está muito adiantado ao Benfica no andebol. Têm um projecto de formação que será, talvez, o mais avançado de Portugal, em todas as modalidades, que os faz estar muito à frente do Benfica e do resto dos clubes. Aliás, todos os anos o FC Porto faz questão de libertar jogadores para o Benfica, que lhes paga muito bem, enquanto o nosso adversário os substitui por outros jogadores ainda melhores. Conclusão, o Benfica continua a investir e o FC Porto a ganhar. E eles divertem-se a fazer isto. O problema, no andebol, ataca-se com mais formação e menos investimento. Para além da questão da profissionalização da retaguarda desportiva anteriormente referida. O caso particular do andebol sofre igualmente com a interferência de alguns financeiros do Benfica que pensam tudo saber sobre a modalidade e nada sabem.
Qual a sua opinião sobre o João Coutinho, o seu sucessor, e sobre o seu trabalho?
Eu apenas o posso avaliar em função dos resultados. E os resultados do Benfica, nas modalidades estão aquém do que seria exigível para o nível de investimento. No entanto, esta época poderá ainda ser bastante positiva face à possível conquista dos campeonatos de hóquei e de futsal.
Fomos recentemente campeões nacionais de basquetebol, em mais um episódio lamentável com o FCPorto. Quer comentar esta conquista e os episódios que a envolveram?
A conquista foi mais do que merecida. Os acontecimentos foram lamentáveis, contudo e a bem da modalidade não deviam ter sido excessivamente dramatizados. E nestes episódios não há inocentes. Um clube que não assegura que o seu adversário consiga receber a taça de campeão no recinto de jogo, não tem moral para atacar a atitude que pode ser considerada irrefletida do nosso treinador mas que pode ser explicada pela carga emocional que sempre envolvem estes jogos. Conheço bem o Carlos Lisboa. Trata-se de um campeão e agora alguns mensageiros tentam destruir a sua imagem. Para mim, o que é mais grave de tudo, nesses episódios, é que aos campeões não lhes tenha sido dada a oportunidade de receber o troféu no recinto do jogo. Tudo o resto é folclore e mau perder. O presidente do Benfica, apesar do discurso inflamado, que era na minha opinião evitável, defendeu o nosso treinador e fez bem, mas, mesmo assim, se eu fosse vice-presidente já teria dado uma resposta cabal aos moralistas de algibeira que têm atacado o Carlos Lisboa.
"Estatutos e comunicação"
Segundo declarações prévias suas, considera que o clube atravessa um período de venezuelização. Pode explicar esta afirmação?
A expressão pode ser considerada excessiva. Não pretendi atacar pessoalmente o presidente do Benfica, mas tão só a estratégia vigente no clube de personalizar tudo na figura do presidente. Aliás, é rara a entrevista de um atleta ou de um treinador do Benfica que não elogie o presidente, porque, de facto, tornou-se um elemento central da comunicação do clube, o elogio do presidente, quer faça ou não sentido. Esta estratégia é redutora do próprio Benfica e perigosa para Luís Filipe Vieira, porque leva a uma situação de extremos. Quando o Benfica ganha, o mérito é de Vieira, quando o Benfica perde, a culpa é de Vieira. Não há debate sereno sobre o Benfica, porque o ruído à volta do presidente sobrepõe-se a tudo.
Qual a sua opinião sobre os estatutos do Benfica aprovados após as eleições de 2009? Considera que os novos estatutos contribuem para essa venezuelização do clube?
Foram um golpe institucional que prejudicou gravemente a imagem do Benfica, como clube democrático. Não se entende que a elegibilidade de uma candidatura a presidente do Benfica seja mais restritiva que a de Portugal em relação ao Presidente da República. Por outro lado, como assegurar que com esta restrição não afastamos do caminho figuras com capacidade para assumir a governação do Benfica?
Como se sente, na qualidade de ex-dirigente, um benfiquista que quando dá voz a um crítica ou desacordo face ao statu quo, é logo apelidado de abutre, papagaio, oportunista...? Como acha que foi possível chegar-se a este ponto de "com o Presidente ou contra o Benfica"?
Tem a ver com a excessiva personalização do poder em torno do presidente. É uma estratégia errada que divide os benfiquistas. Se o clube ganha, está tudo bem, mas se o clube atravessa dificuldades nos resultados, esta estratégia vira-se contra o presidente. É uma espécie de feitiço que se vira contra o feiticeiro e espanta-me como o presidente do Benfica ainda não percebeu que não ganha nada em hostilizar outros benfiquistas. É a estratégia dos não-benfiquistas da SAD, que encurralam o clube numa guerra sem sentido e impedem que se crie um ambiente de unidade e concórdia no clube. E sobretudo, impede que todos percebam que o verdadeiro adversário do Benfica não está entre os benfiquistas.
Acredita que com os estatutos blindados como estão será possível o aparecimento de candidaturas alternativas a uma linha de continuidade? Seguramente que uma lista liderada por um benfiquista com mais de 25 anos de sócio e cujos membros de Direcção têm que ter mais de 15 anos de sócio será uma alternativa sólida.
Será sólida do ponto de vista do seu benfiquismo. Mas terá de ser escrutinada do ponto de vista da competência. Uma das coisas que acho horrível, hoje em dia, no Benfica é que se tenha estabelecido uma espécie de “ou eu ou o caos” à volta do atual presidente do Benfica, por causa do medo que os sócios do clube têm que apareça um novo Vale e Azevedo. Pois bem, isto é quase um ultraje à história do Benfica, porque o nosso clube tem mais de cem anos de história e Vale e Azevedo apenas houve um. Como todos sabemos, o presidente do Benfica não é eterno e ele próprio saberá reconhecer isso mesmo. E posso garantir, não será o caos no clube depois de Vieira. O Benfica continuará a ser o maior clube português, o clube que já teve presidentes como Borges Coutinho, Fezas Vital, Ferreira Queimado, Fernando Martins e João Santos.
Nunca teve receios de se afirmar defensor do projeto de José Veiga para o futebol. Talvez tenhamos oportunidade de o questionar um dia diretamente, mas até lá, o que o faz acreditar que José Veiga seria uma mais-valia para o SLBenfica?
O conhecimento que tem do futebol, das forças que o dominam, e que não deixam que o Benfica tenha maior protagonismo, pela liderança, pelo carisma, pela disciplina e, por fim, pelo seu benfiquismo. Continuo a pensar que seria a pessoa ideal para liderar o processo de transformação do futebol do clube e digo isso porque o conheço pessoalmente e porque o vi trabalhar no Benfica. Ao contrário da esmagadora maioria das pessoas que fala sobre José Veiga sem o conhecer, eu não. Conheço-o bem, vi-o trabalhar e vi sobretudo uma pessoa que se dedicava 24 horas por dia e sete dias por semana ao Benfica. Trabalhar com José Veiga no Benfica é desistir de ter vida própria e vida familiar, porque ele sacrifica tudo ao seu trabalho. Esta é a pessoa que o Benfica precisa de ter para liderar o futebol.
Se é para nós uma vergonha ter um Presidente com 24 anos de sócio do FCPorto, não considera que o passado de José Veiga ligado à Casa do Porto do Luxemburgo, as distinções que foi alvo, etc são igualmente pouco condizentes com o cargo de dirigente do SLBenfica?
Conheço há mais de quarenta anos o presidente do Benfica e posso garantir o seu benfiquismo. Conheço pessoalmente José Veiga e posso garantir, também, a sua predileção pelo Benfica. Aliás José Veiga é sócio do Benfica e não tenho conhecimento que seja ou tenha sido sócio do Porto ou do Sporting. O que move José Veiga no Benfica não é uma vingança pessoal contra Pinto da Costa. Pelo contrário, eu sei que o presidente do FC Porto ocupa uma parte irrelevante na vida de José Veiga. Eu sei que ambos são motivados pelo desejo de ver o Benfica a ganhar, tanto como qualquer outro sócio ou adepto do clube. Foi uma lástima que outras pessoas tivessem conseguido minar a relação entre Vieira e Veiga, porque a esta hora o Benfica já teria recuperado a hegemonia do futebol português. E não seria necessário desonrar o clube, como não foi necessário em 2005, quando vencemos o campeonato.
No nosso blog temos apontado várias vezes caminhos mal escolhidos, na nossa opinião, na comunicação do SLBenfica. Concorda que é uma das áreas onde o SLBenfica estará, possivelmente, mais desajustado dos desafios que se impõem?
Já disse e repito. O Benfica não tem comunicação, tem propaganda. E creio que o próprio presidente do clube já se começa a sentir incomodado com isso, porque essa estratégia não tem resolvido os problemas do clube, pelo contrário, arrasta mais problemas. Eu acredito que o presidente do Benfica se sinta, atualmente, cansado e uma das razões desse cansaço tem a ver com a desastrosa política de comunicação que tornou Vieira a sua peça central. Neste contexto torna-se urgente transformar a política editorial da Benfica TV. Uma plataforma de comunicação também usada para atacar benfiquistas. Existe um claro desalinhamento entre a política editorial e a grandeza do clube, com uma falta de elevação na abordagem dos conteúdos, uma linguagem pouco institucional e uma fraca expressão visual quando comparado com outros canais como o do Real Madrid ou o do Manchester United.
O que defende que deveria de ser feito de diferente na Comunicação do clube?
Quase tudo. A comunicação do Benfica é um desastre maior do que o seu futebol. Aliás, parece consensual que o Benfica começa a perder o campeonato após uma entrevista de Luis Filipe Vieira a um canal televisivo quando afirma que tudo está bem com a arbitragem. O presidente do Benfica devia ter sido aconselhado a não dar essa entrevista e a não ter dito algumas das coisas que disse e que o tornaram, mais tarde, refém de si próprio. É assim que a comunicação do Benfica tem tratado o seu presidente e o clube, por tabela. E principalmente todos percebem que muito do que diz o presidente do Benfica não é escrito pelo seu punho nem sai da sua cabeça. E isso traz um grande desconforto a Vieira e um prejuízo à imagem institucional do clube. E, claro, o Benfica é o único clube do Mundo onde o seu diretor de comunicação é protagonista, em vez de ser discreto. Por outro lado, esta forma evidente de pretender controlar as notícias que saem nos órgãos de comunicação social, próprio de políticas totalitaristas, não credibilizam nem honram o Benfica.
(CONTINUA DA PARTE DA TARDE) AQUI
Excelente primeira parte.
ResponderEliminarExcelentes perguntas e excelentes respostas.
Vénia para a forma como Fernando Tavares tem respondido sem atacar quem quer q seja, mostrando um profissionalismo e uma ética fabulosa. Vamos ver como corre a segunda parte mas, por agora, ganhou um admirador!!!
Excelente entrevista! Mesmo! Respondeu directamente às perguntas, expôs os pontos de vista, conseguindo ser elegante e de certa forma vai ao encontro do que muitos pensam: LFV anda muito mal aconselhado! Interessante a apologia da venezuelização do SLB, bem como a explicação das saídas de Aranha e Donner (útil esclarecimento).
ResponderEliminarSobre José Veiga, só fica demonstrado que este foi posto fora do SLB, pois deveria estar a estorvar alguém graças à sua postura de vitória! Muito melhor que a de RGS!
Parabéns por esta bela entrevista.
ResponderEliminarAqui está alguém que, contrariamente a RGS, falou abertamente, com muito benfiquismo, sem fugir às questões, reconhecendo o bom e atribuindo louros a quem merece e falando do mau sem mágoa, sem rancores, sem ódios, mas sempre, SEMPRE, com a alma e a defesa do Benfica.
Não se empertigou nem atacou ou denegriu a imagem de quem lhe foi hostil.
Isto sim, é discutir o Benfica, com serenidade, com respeito e com ideias que visam apenas e só o engrandecimento do nosso clube.
Gostei e sensibilizou-me esta forma de discutir o Benfica.
Que todos saibamos seguir este exemplo pois são atitudes destas que engrandecem as pessoas, as instituições e mesmo os países.
Gosto muito deste gajo!
ResponderEliminarMas gostava de saber o que aconteceu no caso André Lima. Fiquei com a pulga atrás da orelha.
Excelente trabalho NGB!
para já, cai com estrondo, a mentira da importancia que dão ao facto de LFV ter sido sócio do porto.
ResponderEliminare, o convite de LFV a veiga para o SLB...que considero ser das piores coisas que LFV fez.
Um benfiquista a defender oveiga, está tudo dito.
Ora explica lá isso se faz favor e aproveita para te identificares porque os comentários no blogue seguem certas regras.
EliminarAcho piada que quando Fernando Tavares defenda tanto o passado de Veiga como Vieira e explique porquê tu pegas nas palavras dele e dizes que são válidas para a defesa de Vieira mas não de Veiga. Se calhar isso reflecte mais os teus gostos que outra coisa.
apesar dos pesares. alguem ou alguma vez se pode comparar o benfiquismo de LFV com o de Veiga?
Eliminarpara informação,não me interessa o LFV, a não ser como Presidente do SLB, cargo que deve ser respeitado -e muitas vezes, não é- mas o Veiga?....
Ou seja, segundo o anónimo pode-se achincalhar qualquer cidadão português desde que não seja Presidente do Benfica. Claro, perfeitamente lógico.
EliminarOlhe, o Veiga deu mais ao Benfica que muita gente (e eu nem aprecio o personagem). O título de 2005 deve muito a ele.
Penso que os benficómetros já desapareceram há muito .. Veiga sempre foi benfiquista, apenas foi sócio da Casa do FCP no Luxemburgo. O Sr.º Vieira foi sócio do FCP até há pouco tempo. Situação inadmissível, na minha maneira de ver...
EliminarPor favor, não comparem esta entrevista com a do RGS. Este sr. não tem qualquer cargo no Benfica, por isso não tem que ter qualquer cuidado com o que diz, ao contrário de RGS que é vice do Benfica, logo, teve de ter algum cuidado com o que respondeu, mas mesmo assim deu para ler muita coisa nas entrelinhas...
ResponderEliminarpjsimoes, o RGS foi claro quando disse que queria dar a entrevista na qualidade de sócio.
EliminarCom sinceridade, penso que a dele soube a muito pouco, como em privado tive oportunidade de te dizer.
O Tavares não fez mais do que o RGS poderia ter feito, mesmo falando como vice.
Uma grande entrevista, e para mim Fernando Tavares demonstra uma elevação e um conhecimento sobre o Benfica acima da média. SObre o que o Benfica foi, o que é actualmente e o que deve ser.
ResponderEliminarParabéns pela entrevista. Um must.
ResponderEliminarO Senhor Fernando Tavares sempre foi um consistente candidato a candidato à presidência do SLB. Tem curriculum para isso e um passado que o atesta.
É uma pessoa inteligente, que soube escolher, nesta entrevista, as mensagens a passar - não achincalha Vieira (que sabe que ainda tem muitos apoiantes) e de passagem acaba por metê-lo no mesmo saco de Veiga, matando dois coelhos...
Ataque, ataque, só mesmo aos funcionários não benfiquistas, o que jamais levantará qualquer anticorpo no eleitorado. Só fica por saber qual o papel que reserva aos profissionais (não estes, mas os que escolheria) na estrutura que defende. Aqui, levou a coisa para o lado da eterna questão dos tecnocratas agarrados ao orçamento vs gurus da gestão desportiva, para quem o orçamento será pouco mais que um documento abstrato, vá lá, uma coisa séria mas que se pode ultrapassar desde que seja para ganhar, dentro de limites de evidente razoabilidade, claro...
É uma entrevista muito bem conseguida, eleitoralista mas conseguindo evitar o resvalar para o populismo barato, enfim, um elemento de elevada qualidade, do tipo que faz falta ao Benfica.
Tratando-se de um tema recorrente no Blog, espero que o NGB não deixe, na segunda parte da entrevista, de explorar a fundo a questão dos direitos de transmissão dos jogos. Espero que consigam obter uma posição inequívoca de FT. Estou, confesso, bastante curioso...
Cumprimentos
"e de passagem acaba por metê-lo no mesmo saco de Veiga, matando dois coelhos..."
EliminarRi-me mt!
espetáculo de entrevista! Boas perguntas e respostas
ResponderEliminarEste senhor tem um curriculo invejável ao nível dos TACHOS, como foi na federação de basquett... Só fez porcaria no benfica ele é que destruiu muitas modalidades, mas para provar que o benfica não sofre é ingrato o seu filho é um bom profissional e ainda continua no clube.
ResponderEliminarHélder Alves, você tem noção das aberrações que acabou de escrever? Foi da sua pena ou foi alguém que lhe pediu que fizesse esta triste figura? O Fernando Tavares destruiu que modalidades? Sabe o que se passou no Benfica, enquanto o Fernando Tavares esteve lá, ou andou distraído a pisar a lua? Homem, tenha vergonha do que escreveu e peça desculpa. E desapareça, de fininho, para nos esquecermos que você existe e que veio a este espaço, não discutir um tema importante, que é uma das mais notáveis entrevistas que já vi sobre o Benfica, mas sim mentir, abusar da nossa paciência e trazer a voz do seu dono. Tenha juizo, cresça e apareça. É isto que me irrita no Benfica, estes papagaios, que não tendo nada de importante para dizer, por desconhecimento ou incompetência, apenas insultam os outros. E principalmente pessoas que lhes dão dez a zero. Que estupidez.
ResponderEliminarPele Vermelha, o problema do Helder Alves chama-se literacia. O homem pode ler a entrevista e não saber interpretar. Enfim, a democracia só é possível onde o nível de literacia é elevado.
Eliminar“Em rigor sinto que a minha saída permitiu uma maior proximidade do presidente à realidade das modalidades e isso no fundo beneficiou o Benfica. Tenho pena que essa proximidade não tenha existido durante a minha governação.” – Foi da forma que as coisas melhoraram depois do Sr. Tavares ter saído do clube.
ResponderEliminarDemitiu-se porque o LFV não lhe dava autoridade, depois de tantos erros cometidos por este homem, como demitir dois treinadores campeões.
Este senhor acha-se o melhor do mundo, e que os erros são sempre dos outros. Não é com pessoas deste género que o Benfica vai para a frente. Saudações Benfiquistas
Esse senhor é Um fugitivo
ResponderEliminarFugiu do SL Benfica quando foi confrontado com as suas práticas irresponsáveis e mentiras repetidas.
Enquanto Vice-Presidente do Benfica para as modalidades despediu Alexander Donner, campeão nacional de andebol pelo Benfica, depois disso nunca mais fomos campeões
Despediu Beto Aranha, campeão Nacional de Futsal. E ao contrário do que diz os jogadores não queriam a sua saída.
Contratou a equipa toda de Hóquei do Paço de Arcos, num acto de gestão completamente autista. Esta é a visão de um grande estratega? Contratar toda uma equipa a espera que o Benfica fosse campeão? Se assim fosse o paço de Arcos tinha alcançado esse feito.
Fugiu da Federação Portuguesa de Basquetebol. Primeiro apoiou a lista de Mário Saldanha, contrária á lista que o SLB apoiava (José Curado, antigo treinador do SLB), a troco de um “tacho” como Vice da FPB. Depois saiu e a primeira coisa que fez foi dar uma entrevista em que atacou de alto a baixo o Mário Saldanha, pouco ético e profundamente hipócrita e cheio de falsidade.
Mas mais, a prova de que o SLB não sofre de venezualização é que ele saiu há mais de três anos do Clube e o filho continua cá como treinador na formação.
É este visionário e má-língua que agora quer ser alternativa? Poupem me mas isto agora como se criaram os movimentos anti vieira, qualquer uma já quer o lugar de sonho, é por causa destes abutres que se alteraram os Estatutos, que os sócios aprovaram em maioria.
Um diz que trás o Van gaal para treinador, este Sr. acho mais ambicioso estou a vê lo prometer Pep Guardiola… Os Benfiquistas não acreditam nem se deixaram voltar a enterrar por Presidentes que apenas se querem aproveitar do Lugar.
Neste Sr.º Fernando Tavares, não percebo certas coisas. Ora critica a actual cultura derrotista existente no clube, ora não explica suficientemente bem porque manda embora treinadores vencedores nas modalidades. Este é um problema antigo no Benfica. Se for "eu" a fazer as coisas, está tudo justificado. Se forem "outros" a fazer o mesmo, já está tudo mal.
ResponderEliminarHaja lógica e sensatez, haja equilíbrio e respeito pelos sócios e por toda a diversidade de pensamento. Ele errou ao despedir, pelo menos o Donner, e devia admitir isso. Dizer que fazia o mesmo outra vez, é continuar no autismo que nos afunda ano após ano, em qualquer modalidade.
O FCP vai muito à frente no Andebol? Ele que diga quantas exclusões leva o FCP em toda a época e depois compare com as exclusões que os nossos jogadores sofrem. No Andebol, no Hóquei, no Futebol, o FCP de facto preocupa-se em ocupar os lugares de controlo da arbitragem. Enquanto isso nós temos de levar com as teorias do "rolo compressor" que estes românticos defendem, não querendo ver que a personalidade de uma equipa se define quando o árbitro marca falta atacante quando o Aimar leva um pontapé nas pernas, dentro da área adversária ...
O Benfica sempre foi uma feira de vaidades, porque há estes e outros que pensam ser donos dos lugares, porque não pensam que há milhares, milhões de adeptos do Benfica que querem o clube campeão, e esperam que quem lá trabalha faça o melhor, com respeito pela cultura do clube e por esse sagrado principio "et pluribus unum" (de todos um, o Benfica).
Mas no fim é só isto: eu fiz tudo bem, quem veio a seguir falhou aqui e ali ...
PS: também é lamentável que uma pessoa com tamanhas habilitações, não tenha ainda percebido que o Benfica é hoje especialmente um projecto empresarial em que o futebol é apenas o "core business" .. isto é, o clube Benfica como sempre o conhecemos, kapput, acabou com a demolição do antigo estádio .. e não venham dizer que a culpa foi de Vale e Azevedo ...
O Senhor Fernando Tavares é um Grande Homem, fez tudo de bom pelo Benfica e para os Benfiquistas, tenho um grande apreço por ele e conheço bem, nada tenho a dizer de mal, só acho uma coisa que deveria fazer, voltar para a direção do clube como Vice - Presidente das Modalidades, restabelecer a ordem, em todos os sentidos nas Modalidades, seja em que desporto for e tirar de lá alguns indivíduos que estão no seu lugar a fazer tudo ao contrário e mal para o clube, enchendo só para o bolso deles e não beneficiarem pouco ou nada para o clube.
ResponderEliminarO seu filho JT é uma pessoa com que eu admiro e tenho um grande respeito por ele, um grande treinador de basquetebol com a idade que tem já ganhou vários Campeonatos Distritais e Nacionais e tem feito um trabalho incansável e benéfico para o clube, o melhor treinador com que já tive o prazer de trabalhar.
Defenderei sempre estes 2 Senhores pelo trabalho que fizeram e fazem pelo nosso Benfica.
E PLURIBUS UNUM.
RN