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sábado, 14 de dezembro de 2024

Porque falha a militância nas AG

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Infelizmente, por motivos de familiares vi-me impossibilitado de estar na AG de hoje. A minha presença nas AG é um legado do meu pai que não falhava uma e me habituou que para ir a uma AG não é preciso que haja um motivo, nem nos cabe um papel específico.

Recordo ainda hoje como me ensinava as "movimentações" dos "notáveis" para tentarem que certas mensagens e acções concretas acontecessem e assim aprendi não só a respeitar que as AG são para estar presente (desde a maioridade falhei poucas e as que falhei foi sempre por motivos de força maior e nunca por escolher não ir). Ali - ainda jovem - muitos debates acessos, mas de gente que se respeitava e não se insultava, muitas vezes saidam dali para irem jantar, mesmo pensando de forma diferente e querendo coisas diferentes para o Clube.

Não obstante, houve um momento de viragem nas AG, com Luis Filipe Vieira: A postura de "ou estão comigo ou vou-me embora, ou é como dizemos ou pode ser o fim do Benfica" matou a militância. Muitos deixaram de ir às AG.

Socialmente, em Portugal não se gosta de desporto - e as novas gerações menos ainda, na verdade nem se gosta muito dos Clubes, acima de tudo gosta-se de ganhar. Isso justifica o caos instalado quando se perde onde tudo é colocado em causa... e a euforia desmedida quando se ganha, que leva muitos a idealizar realidades paralelas. Fazem-se comparações com Inglaterra ou Alemanha, quando na verdade nesses paises, clubes que nunca ganharam nada na vida metem 20 e 30.000 pessoas nos estádios a cada jogo. Em Portugal, mesmo os grandes, se perdem não conseguem isso.

Isto, desde logo, é o primeiro motivo para a ausência nas AG quando a equipa de futebol está em melhores momentos. Se a equipa está mal, os contestatários usam as AG para bater no peito e reclamar. Quando a equipa está bem... não se dão sequer ao trabalho de aparecer.

Mas esta parte é cultural e não há muito a fazer. O que realmente tem muito impacto são dois factores:

1. O Muro
2. As Ambições Individuais

O "Muro" é a nova versão da postura de Luis Filipe Vieira. Hoje em dia, dividiram-se os benfiquistas entre os "exigentes" e os "vieiristas" e entre ambos há um muro... e só se se pode estar num dos lados.

Quem ousar criticar a Direcção é porque está de um lado. Quem cometer a heresia de elogiar algo feito pela direcção é porque está do outro lado. Não há meio termo... os benfiquistas insultam-se, tentam denegrir-se uns aos outros... e pelo meio ambos os "lados" atacam aqueles que elogiam quando está mal, criticam quando está bem... estes são apelidados de estar "em cima do muro".

Ora, está bem ver que muita gente perde a paciência com isto e simplesmente afasta-se, porque querem discutir o Benfica e não as direcções, o Clube e não as pessoas, ideias e não ambições. Isto porque acaba-se a combater a postura de "comigo ou contra mim" de Luis Filipe Vieira, com exactamente a mesma postura.



Depois aparecem as ambições individuais. Os "influencers" do Benfiquismo. O pessoal que acha que tem um papel a desempenhar no futuro do clube, na defesa dos valores... como se uma organização desta dimensão fosse o resultado de individualidades.

Este problema começa dentro do próprio clube onde muitos não querem o bem do Clube, querem é ser eles a levar ao bem do Clube. O que são coisas muito diferentes. E cá fora, apesar de se criticar muitas destas posturas, adoptam-se posturas semelhantes na tentativa de combater as vigentes.

Na minha opinião estes são os dois grandes factores que levam ao afastamento das pessoas quando os resultados são menos positivos. Em termos de ilusão, muitos dirão que fizeram o seu papel ao estar e "lutar", como se isto fosse uma luta... partindo de um principio absurdo que há benfiquistas que querem o bem e outros o mal. Lá está o ponto 2.

Depois haverá sempre quem critque os votos contra algo como estando de um lado e os votos a favor como estando do outro... Lá vem o ponto 1.

Claro que muito disto é o resultado de uma sociedade actual onde todos se sentem justiceiros, influencers e activistas de algo. Onde todos acham que a sua voz é mais importante que a dos outros. Onde a tolerância desapareceu e o extremismo tomou conta. Talvez tenhamos que esperar que tudo se normalize para voltarmos a ser apenas benfiquistas, para derrubarmos os muros que nos separam.

Um dia vamos voltar a entender que podemos ter opiniões diferentes em alguns temas, estar de acordo noutros e ainda assim todos querermos o melhor para o Benfica. Vamos talvez um dia voltar a entender julgar acções e não pessoas, focar nos conteudos e não nos julgamentos. Talvez um dia!

Até lá, continuarei a fazer com os meus filhos o que o meu Pai me fez o favor de ensinar: nas AGs não se está para defender nada, está-se porque se deve estar sempre que se pode estar em Familia.




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