Eleições SL Benfica 2020: Um golpe profundo no futuro do clube

Fez ontem uma semana que o clube viveu um dia muito feliz de envolvimento dos sócios por todo o mundo. Com pontos de voto por todo o país, mais de 38 mil sócios disseram presente e votaram, com horas de espera. 

Como sublinhei no dia a seguir aqui no NGB, essa participação é sinal de que os sócios querem ser escutados como donos do clube e não apenas considerados clientes. 

Infelizmente, uma semana depois e já a frio, fica a sensação de que o SL Benfica afinal já não é dos sócios mas de uma elite que se apoderou do clube e que contribui, directa ou indirectamente, para manter os mesmos no poder. 

Essa elite de notáveis desfilou pelas várias candidaturas, falando em “benfiquismo” e em “valores”, quando afinal o que fazem desde quarta-feira passada é cuspir na tradição democrática do SL Benfica e, afinal, são cúmplices da vergonha que foi a eleição de Luis Filipe Vieira. 

Porquê? 

Vamos recapitular o que saiu da reunião das candidaturas com o Presidente da Mesa da Assembleia Geral, na segunda-feira anterior às eleições, acerca do método de votação e das regras que regulariam o dia das eleições: 

- Voto electrónico + voto em papel 

⁃ Após votar electronicamente o sistema imprime talão que é colocado numa urna 

⁃ Quem fez e gere o sistema de voto é a “Estrutura” do Benfica, e não nenhuma empresa independente 

⁃ Sistema não foi auditado por nenhuma entidade externa isenta e imparcial, nem é aprovado ou certificado pela CNE 

⁃ Quem estaria nas mesas de voto seriam funcionários do SL Benfica 

⁃ As urnas seriam levadas para os locais de voto já seladas e após o acto eleitoral não seriam abertas. Seriam recolhidas por uma empresa contratada pelo Benfica e vão para um local desconhecido. Na verdade, na maioria dos casos, foram enfiadas em carros particulares e levadas para local desconhecido 

⁃ Urnas só seriam abertas para se contarem os votos no caso de existir uma diferença mínima entre listas, não sendo sequer definido qual seria essa diferença mínima. Quem toma a decisão de abrir ou não as urnas seria o Presidente da Mesa da Assembleia Geral. 

⁃ O sistema de voto não garantia a confidencialidade do voto, nem garantia a impossibilidade de manipulação dos resultados 

⁃ Foi pedida uma auditoria prévia ao sistema e o PMAG recusou tal acção por “falta de tempo útil” para ser realizada. 

Ora, isto só é aceitável num regime não democrático ou num regime podre em que todos estejam em conluio para manter um regime/poder obscuro a controlar as coisas. 

O que fizeram as candidaturas? 

Segundo o que apuramos, a candidatura de Rui Gomes da Silva propôs um comunicado conjunto sobre “fraude eleitoral” ao representante da candidatura de João Noronha Lopes, que era Pedro Adão e Silva. Foi recusada. 

Também apuramos junto dos presentes na reunião que foi proposta a possibilidade da não nomeação de delegados às mesas como protesto pelo sistema apresentado. Também foi recusado por Pedro Adão e Silva, com o pretexto de que daria a ideia de que estariam com medo de ir a eleições. 

Portanto, não existiu qualquer acção que visasse impedir o SL Benfica de utilizar um sistema duvidoso, não seguro, não certificado e que ninguém poderia controlar. 

Assistimos ao levantamento de várias suspeitas durante o dia das eleições por parte da candidatura de Noronha Lopes mas nada mais aconteceu. 

Os resultados foram anunciados de madrugada e os resultados foram “aceites”. 

O que é mais grave nisto? É que entre juras que se contariam os votos físicos e outras promessas, João Noronha Lopes, que seria o eventual beneficiado por uma contagem física, estranhamente aceitou os resultados de uma votação com um sistema vergonhoso como este. 

Aliás, Pedro Adão e Silva escreveu ontem no Record, fingindo indignação com o sistema de votação mas escrevendo o que todos podem ler abaixo. 

Quem gastou mais de um milhão de euros numa campanha de 3 meses, finge indignação mas depois remete-se ao silêncio, evidencia bem que não tem qualquer interesse no apuramento da verdade. Quanto mais não fosse para garantir perante quem votou na sua candidatura que o voto em Vieira é real e não decidido por um computador.

Ou para tentar ter, no mínimo, a mesma percentagem de votos que João Vale e Azevedo teve quando foi derrotado por Vilarinho.

E já agora, onde estão os “notáveis” como Bagão Félix, Ribeiro e Castro, Brás Frade ou tantos outros que gostam de aparecer como reservas morais do SL Benfica? 

Onde estão os "senadores" do benfiquismo, que nunca fizeram nada pelo clube mas gostam de se pavonear como "anciãos" do SL Benfica?

Perante o desaparecimento de urnas com votos por contar para local incerto, com um sistema que não garante que os funcionários do clube tenham o seu voto garantido como confidencial, com um apuramento de resultados que ninguém acompanhou ou conhece como foi obtido, com um sistema que nem informação sobre quem o criou e como criou é conhecida, como podem os “notáveis” que usam o SL Benfica para se pavonear ficar calados? 

Como é que até hoje, uma semana decorrida, nenhuma das candidaturas ou seus apoiantes entrou com uma acção que obrigue, no mínimo, à contagem do voto físico? 

Ou será que não há coragem (ou vontade) de desafiar Luis Filipe Vieira? E porquê? 

Os Bagões da vida devem envergonhar-se por validarem esta lamentável vergonha. A conivência com Luis Filipe Vieira e os interesses que dominam o SL Benfica há muitos anos é por demais evidente.

Daí que até o chefe de gabinete de Vieira vem hoje gozar o prato no Record.

O SL Benfica já não existe. Sem a contagem do voto físico destas eleições, existe o SL Vieira, certificado não por qualquer entidade independente, mas por uma elite podre, corrupta e a quem interessa um SL Benfica amordaçado, controlado e submisso.