Porque o Seixal nunca será um projeto desportivo... Mesmo que LFV quisesse

Há uma realidade indesmentível: Uma boa Academia de jogadores, uma que forma Bernardos, Cancelos ou Félixes, uma que chega a finais da Youth League, seja ela qual for, tem muito clube de nomeada a seguir os seus miúdos, em tenra idade diga-se, antes até de atingirem a idade de se tornarem profissionais.

Muitos destes jogadores de 16, 17, 18 anos já têm empresários a receberem propostas de transferência, o que diga-se, nem é caso virgem do Benfica, onde poderia lembrar por exemplo a saída precoce dos jovens promissores Ronny Lopes e Fábio Silva, onde a vontade do jogador/empresário prevaleceu e o clube nada pôde fazer.

Como é que se seguram estes miúdos de 16/17 anos que se preparam para iniciar o seu caminho profissional? Desde logo com um contrato profissional e uma cláusula de rescisão de 35 ou 40 milhões de euros. Poderia ser uma cláusula de 80 ou 100 para estarmos mais precavidos? Poderia mas é impraticável, já que o Benfica não pode pagar a todos os miúdos ainda tão verdes um ordenado compatível com o valor dessa cláusula de rescisão. Nem os empresários aceitariam uma tão grande limitação dos seus direitos.

Vejamos o caso de João Félix: Muita gente se queixou da venda por 120 milhões de euros mas, há que dizer: o Benfica muito pouco poderia fazer para impedir esta transferência, MESMO QUE QUISESSE. Porque se o empresário QUISESSE, João Félix nem tinha renovado com o Benfica há um ano atrás subindo essa cláusula de 45 para 120 milhões . Já nessa altura Félix tinha mercado.

E aqui o vendedor de melões Jorge diz: “Ó Luís , tu até podes ser o dono da quinta mas quem manda aqui sou eu. Se queres subir a cláusula para 120 milhões, eu quero 5% ou 10% dessa venda, e comprometes-te a vender se surgir essa proposta. Senão vendo o melão já hoje por 45 milhões e é tudo o que te entra na conta.”

Esta é a realidade meus caros. E por isso entendo que neste contexto, num contexto em que os empresários são os INIMIGOS dos clubes haja a necessidade de tornar o inimigo numa espécie de PARCEIRO ESTRATÉGICO, onde os interesses de clubes e empresários possam andar (mais ou menos) lado a lado.

E por isso até entendo que um clube prefira trabalhar só com um empresário como faz o Benfica, que os jogadores da Academia sofram pressões para assinar por esse empresário se querem jogar e ser valorizados, porque se os empresários são e serão sempre o inimigo, é muito mais fácil “regulamentar” essa parceria estratégica com UM empresário apenas do que com vários ao mesmo tempo. É mais fácil que através dessa “regulamentação” da relação clube-empresário, os interesses do clube sejam mais bem defendidos, mesmo que os do empresário prevaleçam quase sempre.

Se o Benfica tivesse de lidar com 15 empresários ao mesmo tempo, seria muito mais difícil definir estratégias avulso e caso a caso, porque a urgência do empresário vender o único melão que tem da quinta é bem maior. A vantagem do Benfica ao lidar maioritariamente com um empresário apenas, é que a sua capacidade negocial é bem maior ao oferecer ao empresário toda a plantação da quinta, em vez de andar a negociar com vários empresários na base de um melão apenas.

Vamos agora relembrar e analisar duas ou três frases proferidas por LFV ao longo dos últimos dois anos para percebermos melhor o contexto que se vive:

Em Novembro de 2017 a promover o Seixal: “Estes miúdos sentem o Benfica de forma diferente.”

Também  em Novembro de 2017: “O Benfica deve isso (a equipa A do Benfica) aos pais dos miúdos que acompanham os seus filhos na sua caminhada no Benfica desde os 9 aos 18 anos!”

Mas já este ano LFV viu finalmente a luz (há luzes que lhe chegam tarde mas chegam), adaptando a primeira frase acima a algo bem mais verdadeiro: “Estes miúdos gostam do Benfica mas também gostam de dinheiro.”

Tardou mas LFV chegou lá. Aliás, eu diria mais: Diria que estes miúdos gostam muito de dinheiro mas também gostam do Benfica. Sim, o dinheiro em primeiro lugar, aliás como qualquer brasileiro ou argentino.

Bom, vamos então juntar isto tudo e colocar-nos agora na pele dos miúdos: jogadores que aos 17 anos já têm propostas para sair. O que é que impede estes miúdos de 17 anos de saírem do Benfica? Duas coisas apenas:

a)  Conseguirem um contrato profissional com o Benfica (mas este factor não é assim tão decisivo já que muitos destes jogadores já são observados e conhecidos no estrangeiro e poderiam ter um contrato profissional com um clube europeu qualquer.

b)  A perspetiva de jogarem na equipa A do Benfica, de terem minutos de jogo, de crescerem lá dentro e saírem um dia mais bem preparados.

E este ponto B meus amigos, é a chave de tudo e a razão pela qual à medida que o Benfica Made in Seixal cresce, o projeto desportivo do Benfica definha:

É que para estes miúdos quererem ficar no Benfica, para estes miúdos aceitarem renovar pelo Benfica quando de lá de fora já os chamam, têm de ter perspetiva de encontrar espaço na equipa A. E para encontrarem espaço na equipa A, não podemos ter um Benfica muito forte cheio de internacionais a barrar-lhes o caminho.

Se o caminho do Benfica A estiver tapado, muitos destes jogadores preferem sair ainda mais cedo, porque se é para não jogarem mais vale já estarem lá fora num clube europeu a ganhar dinheiro que se veja.

Vejam Renato Sanches, não foi muito melhor para ele revelar-se um flop já com um contrato milionário de longa duração com o Bayern do que ter-se revelado um flop tendo ficado no Benfica?!

Mais, e se é para não jogarem, também o empresário prefere vender logo para garantir a sua primeira grande comissão desde logo de um melão que não tem mais de 15 anos de vida útil, já que não se sabe se esse melão ainda verde algum dia será maduro como se espera.

Resumindo isto tudo, chegamos pois a um ponto em que temos 125 jogadores com contrato profissional com o Benfica, muitos deles miúdos com tudo por provar, e onde sabemos que muitos desses miúdos nunca corresponderão àquilo que se espera deles.

Este ano por exemplo, três miúdos Tavares subiram à equipa A. Agora pergunto: Quantos destes 3 Tavares vocês acham que estarão no Benfica no próximo ano? Arrisco dizer: Provavelmente nenhum. Porque estes miúdos têm de agarrar o lugar logo à chegada para valerem logo muito dinheiro.

E se não agarrarem o lugar, e se continuar a existir dúvida quanto ao que valem no final desta época, têm de ser vendidos por 15 milhões cada um para dar lugar a outros miúdos que também sonham e vêm logo atrás: Repito, os que vêm atrás também precisam de encontrar espaço senão o ciclo quebra-se, logo alguns têm sempre de sair, e esses são os Diogos Gonçalves e os Joões Carvalhos que tiveram um ano para se mostrar e mostraram muito pouco.

E aí está a explicação do porquê dos 15 milhões por melão, que LFV disse que todos iriam perceber um dia... 15 milhões é o preço médio por melão para a quinta ter rentabilidade... É o preço (alto, diga-se), que se cobra pelos melões dispensados que não são ainda doces nem amargos e que queremos que sejam os outros clubes a abrir. Não importa se o Bernardo sai por 15 e amanhã vale 80, porque também há muitos que saíram por 15 e amanhã nem 5 valem... No fim, o preço médio tem é de dar lucro ao produtor de melões e seus amigos, sendo irrelevante se o lucro maior veio do melão A ou melão B...

Mas percebem a realidade meus amigos, a razão pela qual o Benfica Made in Seixal implica sempre ter um Benfica fraco?! É que sem espaço na equipa A, todo o projeto cai por terra, não há forma de convencer os miúdos a ficar no Benfica se lá de fora já há clubes a chamá-los... Mas para haver espaço na equipa A para eles todos sabemos que o nível não pode ser muito alto...

E agora pergunto: LFV quer ainda mais campos relvados, mais Universidades, mais cimento, mais miúdos a ser formados... Para onde irão esses miúdos?! Para o Benfica A também?! Vão começar a ser quantos a subir todos os anos? 10/12 por ano?! Vamos passar para 180/200/300 jogadores contratados?! Onde é que isto acaba?

Chegará a altura em que andaremos a formar para clubes rivais aproveitarem, porque de facto não há capacidade para escoar e dar palco a todos os jogadores que criamos, e o palco é a chave de tudo, o único cenário que pode demover jogadores e empresários de procurarem (ainda) mais cedo a única coisa que realmente lhes interessa no meio deste circo todo: Dinheiro e vidas boas...

Dinheiro e vidas boas... Dinheiro e vidas boas... O Seixal é um projeto financeiro, nunca foi um projeto desportivo... É o que sempre disse.... e mantenho.