Tanto como as vitórias, é imperioso voltar a sentir que os clubes ainda são dos sócios

Perceber hoje as razões pelas quais os Sportinguistas são tão devotos de um Presidente com tantos podres, com tantos momentos verdadeiramente abomináveis de desrespeito, má criadice e até traços de ditador, é facílimo de entender. No futebol os fins justificam quase sempre os meios, e uma massa adepta que em 40 anos foi ao Marquês 4 vezes, chega a um ponto tal de frustração em que já está por tudo.

Se for preciso dar o clube ao Bruno de Carvalho para que o Sporting seja realmente dele, a grande maioria dará sem pestanejar desde que lhes seja garantido que nos próximos 10 anos irão ao Marquês 8 vezes!

Mas não tenhamos ilusões, darão os Sportinguistas, como dariam os Portistas e os Benfiquistas na mesma circunstância. Ou alguém duvida que se chegar aqui um bilionário do Kuwait a querer fazer do Benfica o que o outro fez do PSG, a maioria não “caga” já na treta do clube dos sócios e o vende já de seguida? E agora pergunto, será assim tão diferente por um clube nas mãos de um gajo do Kuwait que nunca viu um jogo no Estádio da Luz ou nas mãos de um Bruno de Carvalho qualquer, tendo este a vantagem de ninguém por em causa o seu Sportinguismo e até já ter feito qualquer coisita pelo clube?!

Por isso meus amigos, a verdade é que os Sportinguistas estão, compreensivelmente, cegos neste momento, porque chegaram àquele ponto em que pressentem que se o Marquês não for uma realidade com o Bruno não o será com mais ninguém! E Bruno de Carvalho sabe que, goste-se ou não do seu estilo, os Sportinguistas estão se a “cagar” para o estilo se a alternativa for regressarem aos tempos em que não contavam para nada, que era o que acontecia antes da sua chegada.

Mas, se alguém ainda acredita neste discurso de vitimização de Bruno de Carvalho, do choradinho do ai que não tenho vida, isto é o mesmo que acreditar que LFV ainda está no Benfica ao fim de 20 anos em espírito de missão e com tanto prejuízo para a sua vida familiar e profissional, como sempre diz.

Não tenhamos portanto ilusões meus caros, de que esta gente PRECISA mesmo de se PERPETUAR nos clubes para legitimar os anseios das suas vidas pessoais e profissionais, e quer LFV antes com a sua “manobra” dos estatutos, quer Bruno de Carvalho agora com a o mesmo tipo de manobra, mais não são do que pequenos passos dados nesse sentido, passos dados por pessoas inteligentes que sabem aproveitar-se de uma massa adepta naturalmente cega, irracional e acrítica, disposta a colocar a cruz e a dar carta branca a quase tudo desde que cheire a vitórias desportivas!

Da minha parte, e no que ao Benfica diz respeito, e porque longe vão os tempos em que ser Presidente de um clube representava quase sempre um caso de amor e muitas vezes até com enorme sacrifício da vida pessoal de quem queria a honra de poder servir o seu clube de coração (lembro-me por exemplo de Jorge de Brito) há duas coisas que vejo como alternativa a este “sistema” atual no qual não me revejo, e que não afeta só o Benfica:

1. Que se vendam os clubes finalmente. Que tudo seja transparente como acontece em outros clubes-empresa de outros países. Que se acabe com a ilusão de que os sócios ainda mandam alguma coisa. Que o Benfica tenha um dono sim, mas um dono na verdadeira aceção da palavra, que chegou e pagou, e que se pagou deve ter todo o interesse em fazer o melhor pelo clube que comprou.  A termos dono que seja uma coisa em grande! E nós cá estaremos para nos sujeitar aos seus devaneios (como acontece hoje, ainda assim), mas pelo menos sem pesos na consciência, sem esta sensação de que os clubes são cada vez mais “propriedade” de uns quantos que pegaram neles sem gastar um tusto, aproveitando-se da mentalidade do adepto de que tudo vale a pena desde que a bola entre na baliza!

2. Que se mantenha tudo como está, o clube dos sócios, mas que se limitem pelos estatutos as Presidências a dois mandatos no máximo. Isso sim seria mostrar que não querem o clube para si. Que se candidatem, que venham com boas intenções, que sirvam o clube o melhor que sabem e voltem para as suas vidas passados 8 anos no máximo realizados no seu Benfiquismo, e deem o lugar a outro. E que deixem de tratar as pessoas por estúpidas, tentando convencer-nos que o melhor para nós é legitimar a vontade dos Presidentes de se perpetuarem lá dentro, tudo por causa desse velhinho fantasma Vale e Azevedo que chegará para nos atormentar já a seguir.

O BenficaByGb tocou neste último ponto no seu post de hoje, algo que eu também já tinha sugerido há algum tempo, mas revejo-me completamente nesta ideia:

Que o próximo candidato a Presidente do Benfica proponha a alteração de estatutos para limitação de Presidência a dois mandatos que terá imediatamente o meu voto... De momento preciso muito mais de sentir que o Benfica ainda é meu do que discutir se o próximo treinador é o Zidane ou o Pellegrini!

E já nem falo nos benefícios desta medida que deveria ser exigida por TODOS os adeptos de clubes em Portugal para o renovar do ar que se respira atualmente no futebol português: Mais caras novas, novas ideias, menos vícios, menos alianças,  mais auditorias a cada mandato, menos possibilidades de se corromper o sistema, menos favores de que se usufruiu um dia e que se ficam a dever para a vida toda!

Chegámos a um ponto tal de podridão no futebol português, em que um gajo até pode gostar muitíssimo de um clube, mas só alguém muito insano arrisca colocar o seu bom nome na lama, só pelo previlégio de o servir!