Terceira época e muito pouco selo de Rui Vitória no atual Benfica

Assumidamente, Rui Vitória chegou ao Benfica sem me entusiasmar nada. Mas acabou a primeira época tendo em mim um dos seus maiores fãs. Aquele célebre dia em que Jorge Jesus deu uma conferência de imprensa desastrosa em que virou as contas do campeonato completamente ao desancar em Rui Vitória de alto a baixo, aglutinou até os adeptos do Benfica mais céticos 100% em redor da sua equipa e do seu treinador. Aquela vitória tinha de ser nossa, pela honra do Benfica mas também a de Rui Vitória que mereceu aquela vitória como ninguém.

Mas isto é a parte emocional da coisa. Não cheguei seguramente ao fim dessa época a achar que o Benfica venceu esse campeonato por causa do olho mágico do seu treinador. Acho que foi muito mais uma vitória dos jogadores, do seu brio, da sua honra que foi posta em causa em certo momento, uma vitória que teve algo obviamente de Rui Vitória mas que não teve no seu treinador o elemento decisivo (ou talvez também tenha tido, já que o Joker Renato Sanches foi uma cartada sua).

Na época passada a conquista do Campeonato Nacional repetiu-se. E com toda a justiça, diga-se. Mas também é justo dizer-se que o Benfica fez um campeonato mais fraco do que na época anterior, tal como também é justo dizer-se que o nosso maior adversário, o F.C.Porto desperdiçou inúmeros brindes em que facilmente podia ter passado para a nossa frente e não passou.

Cheguei a comentar aqui em OFF entre elementos do blog que a sorte do Benfica é que o treinador do Porto era o Nuno Espirito Santo e estava a enterrar aquilo tudo. E vê-se este ano, como um Porto que nada comprou e que vendeu alguns dos melhores (e um Porto que alguns até deram como morto), parece uma equipa bem melhor aproveitando apenas e só o que já tinha, mas com um treinador que claramente percebe bem mais da poda.

Serve este texto para desancar em Rui Vitória ou para colocar em causa o mérito das suas conquistas? De maneira nenhuma. Rui Vitória tem, é importante lembrar, uma carreira construída a partir de baixo e chega ao topo em Portugal com um caminho imaculado e sem qualquer despedimento. Alguma coisa andará seguramente a fazer bem feita. E mesmo no Benfica, mal ou bem ainda não parou de ganhar. Facto, MAS...

Há algo que, apesar de todos os méritos que seguramente também terá, sustentam as minhas dúvidas e fazem com que, mais de dois anos depois, este continue a ser um Benfica onde se torna difícil (para mim) encontrar o tal selo de Rui Vitória que permita uma análise mais objetiva do seu trabalho.

     1. Rui Vitória mudou o sistema de jogo que encontrou ou as pedras que o compunham? Quase nada. Se houve tentativa de mudar foi este ano ao optar por um jogador como Seferovic (mais móvel) em detrimento de Mitroglou. E há esta fórmula Filipe Augusto que até ver não convence ninguém.

     2. Depois de mais de 70 milhões de euros gastos em contratações, quem continuam a ser, mais de dois anos depois, as grandes traves mestres da equipa de Rui Vitória? São Luisão, Jardel, Fejsa, Jonas, Sálvio, Pizzi, Júlio César (que muito brevemente terá de regressar à baliza) tudo jogadores que já cá estavam quando ele chegou. Até Eliseu e André Almeida já foram promovidos a traves metres, e também já cá estavam!       

     3. Desses 70 milhões que se gastaram COM Rui Vitória, quantos desses milhões foram investidos em jogadores que se afirmassem como jogadores titulares do Benfica e que melhorassem o que já havia? Foram as pechinchas Ederson, eventualmente a outra pechincha Grimaldo (“eventualmente” porque passa mais tempo na enfermaria do que no relvado e já era assim antes de chegar ao Benfica, e tem ainda MUITO por provar), e Mitroglou (jogador de 7 milhões de euros e investimento que o grego fez por justificar).

Mas...

     4. Que se fizeram então aos outros 60 milhões de euros? Foram gastos em Jimenez, em Rafas, em Cervis, em Zivkovics, em Carcelas, em Celis, em Pedros Pereiras, em Hermes, em Felipes Augustos, em Hortas, em Taarabats, em Carrilhos e outros, tudo jogadores longe de se afirmarem como titulares da equipa.

Pegando naqueles que chegaram com “Nome”, Reforços com “R” maiúsculo, reforços com objetivo de se tornar em novas traves mestres da equipa, de se valorizarem e renderem muitos milhões no futuro próximo, quantos destes se valorizaram, ou se quisermos, quantos destes evoluíram sequer sob o comando de Rui Vitória, tecnicamente e taticamente, sendo hoje melhores jogadores do que quando chegaram?

Jimenez e Rafa continuam a parecer dois corpos estranhos na equipa, sem rotinas ou enquadramento no modelo de jogo. Carrilho nunca deu sumo nenhum. Cervi e Zivkovic continuam numa de hoje jogas tu hoje jogo eu, porque nenhum deles evolui o suficiente para níveis capazes de fazer dois bons jogos seguidos e pegar de estaca para nunca mais perder o lugar.

Olhando para aquilo que seria em teoria o ponto forte da equipa que são a qualidade (e quantidade) dos extremos que Rui Vitória sempre teve ao seu dispor, é engraçado constatar que o melhor de todos continua a ser a LARGA distância dos outros o ódio de estimação de alguns, Sálvio, que já cá estava.

Das duas uma, ou andamos a contratar gato por lebre ou alguma coisa anda a ser mal feita no aproveitamento do talento que se tem adquirido. Esta equipa tinha obrigação de ser hoje melhor do que era há três anos atrás e não é.

Claro que não vou ignorar que pelo meio de tanto dinheiro que até hoje não se traduziu em novas traves mestre para a equipa, também se lançaram alguns miúdos como Nélson Semedo, Renato Sanches e Lindelof, tudo isto a jogar em favor de Rui Vitória, sendo este um tema para desenvolver num post a sair brevemente, já que este, e para variar, já vai longo.

Este é pois o balanço que faço deste reinado de Rui Vitória, um balanço com algumas coisas positivas, outras negativas, e seguramente ainda hoje com muito mais dúvidas do que certezas.