O lugar era do Jonas... O Benfica dos lugares cativos

Convenhamos, hoje a malta está frustrada e é fácil bater em tudo o que mexe. Hoje o Benfica fez uma exibição de sacrifício e de garra, num jogo que todos sabíamos que ia ser difícil, em parte devido às características do terreno, que convida ao choque, aspeto em que estamos sempre em desvantagem.

Se o Benfica tem marcado, e julgo que merecia ter marcado pelo quanto tentou, estaríamos aqui a dizer que se tratou de uma vitória mais do que justa, e que o campeonato também se faz de jogos assim, especialmente em campos em que mais do que a nota artística, o importante é ser eficaz.

E houve raça de facto, tendo o exemplo sido dado pelos três que para muitos são os patinhos feios da equipa: Luisão, Samaris e Eliseu.

Samaris especialmente, teve de correr por dois. E correu. Ah e tal que não é nenhum Matic, pois não é, mas não há outro, e isso não é culpa dele. Mas correu por dois e correu o que tinha de correr, porque Pizzi, num campo pequeno que convida ao choque, defensivamente nunca meteu o pé por causa do amarelo que o podia tirar do próximo jogo.

Pizzi passou o jogo ali, a andar devagar, sem marcar ninguém em cima, a tentar ser o Iniesta da equipa mas, nem ele é nenhum Iniesta nem o jogo de hoje era para artistas. Hoje foi um daqueles jogos em que Pizzi esteve 90 minutos sem fazer nada de relevante!

Sálvio fraquíssimo, Zivkovic fraco, Jonas inexistente, ou seja, os artistas não estiveram presentes. Mas pior, em jogos a pedir capacidade de confronto físico, estes três são três a menos e cada bola dividida é bola dada ao adversário. A esta equipa falta peso, centímetros e especialmente forma física, e a bola só circula enquanto há capacidade dos nossos jogadores de receber a bola sem marcação direta, pois assim que alguém encosta aos nossos jogadores, existe uma grande probabilidade de a perdermos.

E é por isso que andamos ali na área adversária em rodriguinhos a tentar passar a bola num carrocel sem fim, porque não há um “gajo” que pegando na bola, se consiga libertar sozinho da marcação no corpo a corpo e fazer um remate à baliza.

E Rui Vitória? Bem, o jogo do Benfica é o que é, ponto! É aquilo e mais nada. Rui Vitória até pode ser feliz ao tirar um extremo e meter outro que entra em campo e resolve o jogo. Mas é tudo na base da capacidade individual do jogador. Do banco nunca vem nenhuma ideia nova para o coletivo, e isto não é de hoje, é assim desde sempre.

Mesmo a nível de 11, o ano passado, convenhamos, até foi fácil para Rui Vitória. De início ainda tentou alterar o modelo de jogo, não resultou e voltou àquele que estava já consolidado. A fartura a nível de plantel também não era muita. Digamos que haviam 13-14 jogadores para ir rodando entre si.

E as lesões ajudaram ao limitar as escolhas. Quem entrou entrou quase sempre bem, mas o 11 do Benfica o ano passado nunca teve grande coisa que saber a partir de certa altura. A única dúvida era saber se era Mitroglou ou Jimenez a ficar de fora.

Este ano não. Para o ataque existe fartura, existe muito por onde escolher, e caramba, existe matéria prima para jogarmos mais do que estamos a jogar há muito tempo.

E ironia das ironias, este ano, o período em que melhor jogámos, foi quando também havia lesões a rodos e muito pouco por onde escolher, e onde teve de surgir na frente a dupla Guedes e Rafa. Esta foi a dupla que acreditei que ia fazer furor na Liga dos Campeões este ano, juntando às setas Cervi e Sálvio (ou Zivkovic), presença no meio campo, velocidade e imprevisibilidade na frente.

Assim que os lesionados recuperaram começou a confusão. Com Cervi em grande e quando já se falava numa chamada à seleção da Argentina, Cervi sai da equipa, sem que ninguém tenha percebido porquê. Começou a insistir-se em Carrilho que quase nunca justificou a sua presença na equipa, nem em qualidade nem em entrega ao jogo. Deu logo a ideia que o campeonato já era favas contadas e que agora o que importava era reabilitar Carrilho!

Com Guedes em grande, assim que Jonas recupera, Guedes vai para o banco... Ficou de fora três jogos seguidos porque o objetivo era recuperar Jonas e o Jonas tinha de jogar, mesmo que fosse o Guedes a grande figura da equipa do momento.

E depois Vieira vende o Guedes, porque lá está, o Gudes não podia ficar na Luz mais seis meses que fosse... Lá está, o campeonato já eram favas contadas.

E depois o Vieira diz que, ah e tal, o Guedes tinha de sair, e chegou a dizer que “Agora com o regresso do Jonas, o Guedes arriscava-se a ficar sem jogar!” Bardamerda se era só o jogador do Benfica em melhor forma. O lugar era pois do Jonas... O Benfica dos lugares cativos.

Para não me alongar muito pois, este Benfica de Rui Vitória parece a prateleira do Supermercado, onde à mão do cliente estão os produtos já quase a acabar o prazo, e os bons estão atrás onde o cliente não chega.

E é por isso que no onze entrou o Jonas e saiu o Guedes, é por isso que o Sálvio joga sempre, é por isso que teve de se tirar o Cervi para por o Carrilho para ver se o Carrilho não apodrecia, e é por isso que o Jardel está no banco para jogar o Lindelof em sub rendimento.

E já nem falo na pobreza do nosso meio campo, com Samaris, Fesja a dar só para metade dos jogos, e onde Pizzi ganha estatuto de estrela! E mais não há! Como ninguém viu isto, não entendo sinceramente, porque é preciso ser muito cegueta para insistir numa fórmula já experimentada e que tão maus resultados deu o ano passado, antes de se ter apostado em Renato Sanches. Ah, e o Horta que começou a época a titular e com o Benfica a não passar sem ele, de repente sumiu... 

Sinceramente, a impressão que dá, é que Rui Vitória não está no Benfica para impor grande coisa para além claro, das instruções que vêm de cima, que parecem passar por tentar vender rapidamente os produtos da frente da prateleira para poder repor depois com os produtos melhores que estão atrás.

Obviamente, vai acabar por ser ele a pagar a fava, ou por incompetência técnica dele ou por incapacidade de impor as suas ideias.

A verdade porém, é que não importa muito de quem é a culpa, este Benfica tem obrigação de jogar muito mais!