Somos nós quem mata o Benfica a pouco e pouco

ROBERTO

O caso Roberto foi um abre olhos. Foi para mim a idade do fim da inocência. Aceitei a contratação, desculpei o fiasco desportivo, estranhei a venda com lucro de 100000 euros de um jogador que durante dois anos tinha sido uma desilusão completa. Nunca esqueci as palavras de Pinto da Costa, que logo a seguir à venda apelidou aqueles milhões como "milhões da treta". Hoje sabemos que o homem não era adivinho nem sócio da Maya no negócio do Bruxedo. Eram de facto milhões da treta. Coincidência?! Acredite quem quiser! Eu não! 

NOS

LFV assumir que em Janeiro voltava à NOS é obviamente assumir que se fez um mau contrato tendo em conta o que outros conseguiram. Não há outra leitura possível. Das duas uma: Ou se assume que se fez um mau contrato ou se assume que durante anos andámos a enganar o povão, que se ria de nós e afinal com toda a razão, porque afinal estes contratos televisivos acabaram por nivelar a “grandeza clubística” e fizeram perceber que afinal o mercado não tinha para nós assim tanto mais como tinha para os outros, como todos nós acreditámos que tinha e que merecíamos. Das duas uma: Ou foi um mau contrato ou temos de ser mais humildes.

PIZZI / JIMENEZ

Cheira-me mal, mas não posso provar de onde vem o cheiro evidentemente. Mas também aqui, das duas uma: Ou condenamos os negócios por acreditarmos que são negociatas e que os jogadores não chegam para servir os interesses do Benfica, ou então acreditamos na idoneidade dos negócios mas em contraponto temos de concluir que a política desportiva do Benfica é um desastre ainda maior do que já todos sabíamos, alguém achar que gastar 23 milhões de euros em apenas três pernas de um dueto que objetivamente e factualmente tinha falhado redondamente na sua passagem por Madrid, era um negócio que servia os nossos interesses e nos valorizava desportivamente. Repito, das duas uma: Ou é caso de polícia ou é a prova que quem lidera o futebol do Benfica não percebe patavina daquilo.

POLÍTICA DESPORTIVA

Todos conhecem aquilo que defendo há muito: Que política desportiva não existe e a tal Super-Estrutura é um mito... Alguns falam em ano de transição e coisa e tal... A mim poupem-me a este discurso. Andei 9 anos a levar (e a aceitar) o discurso da reestruturação. Há 5 anos assumiu-se os mandatos dos resultados desportivos. São vitórias pois aquilo que hoje exijo.

Não posso aceitar uma exigência desportiva menor neste momento, como se, ao fim de 5 anos em que o objetivo foi claramente ganhar, tenha de se regressar aos mandatos da pouca exigência desportiva e para mais reestruturação, com uma única diferença em relação ao passado: Não ganhar mas a gastar muito mais!

O mínimo que se exige a um presidente com 15 anos de casa e que teve tanto tempo para reestruturar, é que sem desculpas nenhumas assuma que o objetivo número 1 é ganhar dentro do campo e que a reestruturação há muito foi feita. Pelos vistos não foi, porque nada foi pago.

BENFICA MADE IN BENFICA

A bandeira do Presidente. Mas João Cancelo, Bernardo Silva e André Gomes foram vendidos por este Presidente. Jorge Jesus pode ser responsabilizado pela não utilização dos miúdos mas não pode ser responsabilizado pela sua venda, especialmente num ano em que como se dizia o objetivo era trocar de treinador.

André Gomes jogou pouco também, mas indiscutivelmente que os 5 meses em que joga mais foram os últimos em que cá esteve, quando se consuma a saída de Enzo e se abriu espaço para ele, onde todos recordamos o golaço que colocou o Porto fora da Taça e a final da Liga Europa onde jogou a titular. Quando começou a jogar foi quando saiu, pelo que, para mim não cola utilizar-se Jorge Jesus para justificar as vendas. Para os mais esquecidos, André Gomes é vendido no mesmo mês em que se vende Enzo Pérez, o que diz bem das possibilidades que LFV deu a Jorge Jesus de fazer do português o substituto do argentino. 

Se este trio estivesse ainda no Benfica, se tivesse havido capacidade/vontade de resistir aos milhões (sim, um projeto formação também passa muito por aí), o projeto desportivo de Luís Filipe Vieira mereceria da minha parte todo o crédito. Assim não, porque não há coerência e os atos não refletem os sonhos que se anunciam! E veremos quanto mais tempo cá fica o Renato.

ELEIÇÕES

Sim, estamos em ano de eleições, e aqui meus amigos, independentemente das minhas opiniões, respeito sempre as democracias.

Algumas notas no entanto: Os 50 votos das Casas do clube têm um peso brutal e são garantidos pelo Presidente em cada recital de prosa made by João gabriel, e aquilo a que chamo de golpe dos estatutos secou muitíssima concorrência que poderia aparecer. A Alteração dos estatutos serviu a quem? Ao Presidente, somente! Achar-se que é defender o Benfica impor-se como lei que alguém que seja sócio do clube desde o dia em que nasceu só possa ser Candidato a Presidente do Benfica aos 43 anos (!!), é na minha opinião medida de regimes totalitários, e os interesses do Benfica não serve certamente...

Não aos jovens?! Porque carga de água?! A título de exemplo, António Salvador chegou a Presidente do Braga aos 33 anos de idade e o seu trabalho fala por si. Mas no Benfica não podem haver Antónios Salvadores porque os estatutos não deixam! 

Juntamos a isto o jogo sujo em que cada vez mais o futebol se torna, gente credível e capaz que por muito que goste do Benfica se recusa a entrar no jogo e a colocar o seu nome na lama, juntamos a BTV a dar de comer a tanta gente e os Guerras desta vida e a máquina de propaganda tão bem montada, e todos percebemos que LFV pode ganhar desportivamente muito ou pouco, mas será Presidente do Benfica enquanto quiser, dando-se ao luxo até de se recusar a entrar em debates eleitorais, sabedor como é que há muita gente que pelo paleio têm possibilidade de o encostar à parede. Como? Contando o que sabem ou fazendo as perguntas incómodas que a imprensa não tem coragem de fazer.

Outros que querem concorrer mas não podem porque os estatutos não deixam, outros que podem mas não concorrem porque são os primeiros a reconhecer que a máquina foi montada e a sua vitória é impossível!

Culpados deste deserto de ideias em que se tornou o Benfica e quase desprovido do pluralismo que sempre nos caracterizou?

Todos nós! Aqueles que pelo silêncio, pela apatia, por ingenuidade, pelo desconhecimento ou pela conivência, deixaram as coisas chegar a este ponto.