Acusem-no de tudo, mas não de não ser o último a deitar a toalha ao chão

O que Jorge Jesus disse ontem à noite foi de grande treinador… E não, o facto de ser um grande treinador não significa que esteja a fazer uma grande época! Não está, bem pelo contrário. 

Esta época está a ser má, com vários erros próprios mas, muitos erros também que não foram dele, erros que lhe foram impostos, mas que ele nunca irá desmascarar... para já, pelo menos.

Mas como já aqui escrevi várias vezes, não há treinador no mundo que ganhe sempre, nem metade das vezes. Nem o Jesus, nem o Mourinho, nem o Pepa, nem o Klopp, nem o Guardiola, nem aquele que virá a seguir a JJ!! Não há um!

E as pessoas que não se esqueçam de uma coisa: No dia em que despedirmos JJ por falta de competência, haverá imediatamente outro  clube qualquer que o contratará por muito dinheiro e o achará muito competente. Da mesma forma, no dia que despedirmos JJ por falta de competência, o mesmo será substituído por outro incompetente que também já terá sido despedido de outro lado  qualquer depois de trabalhos péssimos. Despedir treinadores é muitas vezes unicamente a forma mais fácil de encontrar um culpado!

Sinceramente, prefiro muitíssimo mais pegar nos 8 milhões que custa despedir JJ e ir contratar o número 6 que não temos, do que gastar os 8 para despedir JJ, continuar a pagar ao Lage para estar em casa, gastar mais 4 para contratar o próximo treinador, e continuarmos sem número 6 e o próximo treinador que chegar vir sofrer dos mesmos problemas.

Mas porque é que o que JJ disse ontem à noite foi de grande treinador? É porque se desculpou com o Covid, porque quase chorou, e porque me convenceu que não fosse o Covid e estávamos na frente do campeonato e a jogar os 1/8 da Champions?

Evidentemente que não! O Covid explica de facto parte da má época, mas está LONGE de explicar tudo! Mas aquilo que o discurso de ontem de JJ permitiu fazer e teve nele o seu grande objetivo, foi  fazer nos seus jogadores o tal “reset mental” que é imperativo fazer nesta altura!

E é esse “reset mental” que era de facto imperativo fazer, uma espécie de chicotada psicológica sem ter de despedir nenhum treinador (para já), dar a ideia aos seus jogadores de que a época (re)começa agora, que amanhã começamos do zero e com a cabeça limpa e que vamos ainda tentar salvar aquilo que pode ser salvo.

Logicamente, esse novo balão de oxigénio que JJ conseguiu ontem não durará para sempre... JJ conseguiu ganhar algum tempo, conseguiu provavelmente trazer os jogadores para o seu lado, mas sabe que esse tempo só durará até à próxima derrota...

Mas a vida dos treinadores é isto mesmo, a dos bons e a dos maus, com a malinha sempre feita à porta... Para já, JJ fez aquilo que tinha de ser feito, com a energia e a convicção que não lhe víamos há muito.

Por muitas críticas que lhe possam fazer (e muitas justas) há uma coisa que eu sei: JJ já tem idade, dinheiro e estatuto para não precisar do Benfica para nada. A seguir ao Benfica virá para si outro clube de igual ou parecida dimensão... JJ não irá seguramente fazer companhia ao Lage nem ao Vitória e passar a ver futebol pela televisão.

E eu respeito muito aqueles que, sabendo disto, sabendo que são eles quem tem a faca e o queijo na mão, sabendo que bastava eles mesmo fazerem o mais fácil e desistirem como tantos adeptos fazem, receberem os 8 milhões da rescisão aqui e amanhã irem receber outro igual no Brasil, lutam sempre até à sua última gota de suor e são os últimos a deitar a toalha ao chão.

Pensem nisso, porque no dia em que cada treinador é despedido (e já são muitos), quem fica mal não são os treinadores que saem. É o Presidente que os contratou e o Sport Lisboa e Benfica.