Esse “colinho” tão nosso que acaba por nos levar sempre até ao Marquês

Não vou dizer, obviamente, que é totalmente irrelevante se se é pelo Rui Vitória ou contra o Rui Vitória, pelo Sálvio ou pelo Zivkovic, pelo Vieira ou contra o Vieira, porque na verdade, independentemente dos gostos e das preferências, todos queremos que o Benfica vença sempre independentemente dos nossos gostos, dos momentos que o clube atravesse e dos seus protagonistas.

E não é irrelevante por um motivo: Porque a divergência opinativa é também o sal e a pimenta que mantém o bichinho vivo e nos mantém interessados e agarrados às TVs e aos blogues e a tudo o que diga respeito à vida do nosso clube. É difícil imaginar nos dias de hoje o futebol sem isso, sem os bate bocas que antes se esgrimiam apenas nos cafés e que hoje, a uma escala bem maior, foram transferidos para os blogs e para as TVs.

No que respeita a Rui Vitória por exemplo, aqueles que sempre o defenderam, que sempre viram nele as qualidades que outros não viram, podem pois agarrar-se a duas ou três semanas bem positivas para justificar o acerto das suas opiniões.

Aqueles que não gostarem de Rui Vitória como treinador do Benfica, podem agarrar-se ao resto, a uma equipa que entra em Janeiro arredada de três competições e em terceiro lugar no campeonato... Facto indesmentível também.

...E a verdade é que indo por um lado ou pelo outro, todos estarão certos e errados em certa medida, tal como é verdade que quem quiser ser fundamentalista e inflexível nas suas análises, pode continuar a dizer mal mesmo quando a equipa ganha ou bem quando a equipa perde, porque nestas coisas da bola ninguém ganha ou perde sempre, e é uma questão de tempo até a agulha voltar a girar e a razão voltar a estar do nosso lado.

A única forma de se ter alguma credibilidade neste “jogo” da opinião é pois não se ser fundamentalista nem ter agenda (isso, os leitores percebem), e olhar para estas coisas de uma forma dinâmica, mutável e da forma mais imparcial possível.

E ser justo nesta altura é dizer que Rui Vitória passou com distinção estas últimas três semanas que podiam ter ditado a sua morte no Benfica, mesmo apesar de um empate na Luz contra o Sporting que tem de se considerar um mau resultado.

Recuso-me, como me recusei sempre, a analisar o trabalho de um treinador só pelos resultados, e no caso do jogo na Luz contra o Sporting e depois daquela exibição de gala num jogo onde Rui Vitória arriscou absolutamente tudo, que mais poderia ele ter feito: entrado em campo e marcado um golo ou ter cortado a mão a algum dos jogadores do Sporting?

Seguindo-se a esse jogo da Luz contra o Sporting, dois testes fundamentais em que era imperioso não perder pontos. 6 pontos conquistados em Moreira de Cónegos e em Braga mas, mais do que os seis pontos, com mais duas exibições categóricas, mais duas exibições de garra e de brio, e com os adeptos hoje mais do que nunca na presente época, verdadeiramente unidos e a acreditar convictamente que, apesar das limitações óbvias de plantel, conquistar o Penta dentro de portas pode não ser uma miragem.

Mas falar de Rui Vitória nestas três semanas é também dizer que houve intervenções públicas de Rui Vitória à Benfica como se exige, daquelas de dar um murro na mesa e dizer claramente que no Benfica mandamos nós!

E há um 4-3-3 de Rui Vitória, uma ideia de jogo que se começa a poder dizer que é finalmente sua (ainda há poucos dias Rui Vitória admitiu na sua extensa entrevista ao Record que “Para quê mudar o 4-4-2 e aquilo que funcionava e que de bom já vinha de trás?” nos seus primeiros dois anos de Benfica).

Rui Vitória chega também a esta altura, parece-me, com muito menos equívocos, e a saber finalmente com quem pode contar daquele mar de 30 jogadores que começaram a trabalhar consigo este ano! Parece esclarecido em relação a Felipe Augusto ou Douglas por exemplo, ou a Seferovic se quiser ir mais longe, ou até a Svillar que claramente nunca deveria ter sido lançado às feras da forma que aconteceu.

Parece também esclarecido em relação a Rúben Dias que dificilmente voltará a sair da equipa, parece ter estabilizado Varela na baliza (do mal o menos, nem no ano de Roberto o Benfica sofreu tantos frangos como já sofreu este ano com dois guarda-redes), e fez de Krovinovic a sua marca neste “novo” Benfica!

Em suma, os erros de Rui Vitória não se apagam com alguns bons resultados e uma boa maré da equipa mas, os elogios também são merecidos numa altura em que tem forçosamente de se dizer que a equipa tem melhorado e parte dessa mudança se deve a alterações estratégicas do seu treinador.

Da minha parte, sabida que é a minha opinião e que não morro de amores por Rui Vitória como treinador (e isso não mudou), só posso dizer que quando vejo ataques baixos à sua pessoa como fez Jorge Jesus há dois anos ou como fez agora Sérgio Conceição, há este natural instinto de defendermos imediatamente o que é nosso e de quase o queremos levar em ombros até ao Marquês para o vermos erguer o punho em glória com os rufias a assistir.

Rui Vitória é daquelas pessoas que, de tão boa pessoa que é, tão diferente que é de tantas outras para quem para se vencer no futebol vale tudo até arrancar olhos, todos queríamos que o Benfica vencesse sempre e que fosse sempre com ele, mesmo que a tática até fosse dada pelo Vieira e o Rui Vitória só estivesse no Benfica para erguer o punho no final da época.

No entanto, é importante frisar que este Benfica começa a ter o cunho de Rui Vitória, e que esse mérito do treinador já começa a ser desvalorizado mais uma vez e de forma injusta até por aqueles que acham que o defendem sempre, nesta ideia de que os bons momentos do Benfica de Rui Vitória, esses momentos de união e transcendência, só surgem nos momentos em que algum treinador rival se lembra de atacar pessoalmente o nosso treinador, dando origem ao tal grito de revolta e a esse “colinho” tão nosso que acaba por nos levar sempre até ao Marquês.