Talvez não faça muito sentido comparar
Mourinho a Jorge Jesus. Por muito bom que Jorge Jesus se ache ser (e tem todo o
direito de achar – e de dizer – que é dos melhores), Mourinho tem a experiência
de ter treinado (e ganho) nos grandes clubes europeus.
Será o mesmo que comparar João Vieira Pinto
com Luís Figo. João Pinto será sempre um dos melhores jogadores portugueses,
mas Figo será sempre um dos melhores do mundo, figura principal do Barcelona e
depois do Real Madrid, com toda a carga e o mediatismo que o seu percurso no
futebol acarreta.
Triunfar lá fora, e isto nem é só no futebol,
é uma tarefa dificílima só por si. Eu que sou emigrante, à semelhança de outros
emigrantes que por aqui comentam, sabem que ser português no estrangeiro não é
fácil para ninguém. Um português no estrangeiro sabe que terá de ser sempre MUITO
melhor que os outros para merecer qualquer tipo de crédito e respeito.
Um português na Europa civilizada é uma
espécie de Ucraniano em Portugal, que aterra em Lisboa com Licenciatura e
Mestrado e acaba a lavar escadas. Pode, claro, chegar lá acima, mas tem de suar
mais do que os outros e não se deixar rebaixar por quem o tenta espezinhar
todos os dias.
E Mourinho preparou-se para essa batalha desde
cedo. O objetivo foi sempre o topo, lá fora, nos grandes clubes do futebol
europeu. Jorge Jesus não. Jorge Jesus é do tempo em que a Europa do futebol era
uma miragem, um paraíso restrito aos dois ou três estrangeiros autorizados a
jogar em cada equipa, e para ele o objetivo máximo de carreira foi sempre
chegar a um grande do futebol português.
Eventualmente terá percebido a meio do caminho
na Luz que seria possível mais qualquer coisa, sair da sua zona de conforto e
arriscar numa aventura lá fora, aventura com que nunca sonhou nem para a qual se
preparou devidamente. Mas talvez não tenha sido essa uma ambição tão grande ao
ponto de deixar o seu país e a sua família à qual parece ser tão chegado e
iniciar uma aventura lá fora já perto dos 60 anos.
Não creio que o problema seja, como alguns
dizem, o fraco domínio da língua inglesa. Um dos melhores treinadores da
Premier League, o treinador do Southampton Maurício Pochentino, e que agora
assinou pelo Tottenham, está em Inglaterra há dois anos e continua a só falar
espanhol nas conferências de imprensa.
E por isso percebo a necessidade que Jesus tem
em falar no FCP. Porque ele quer que se saiba que se o que o movesse fosse o
dinheiro, já hoje estaria a ganhar mais de 4 milhões a Norte do Douro. E percebo a
necessidade que Jesus tem em dizer que recusou o Milão. Porque ele sabe que um
dia eu vou estar numa esplanada a beber mínis e a comer caracóis com o Shadows,
e o Shadows (como muitos outros) vai dizer aquilo que muitos dizem em relação
ao Cardozo: “Se era assim tão bom porque é que nunca saiu?” Jorge Jesus faz por isso questão
que toda a gente saiba desde já que só não saiu porque não quis!
Mas também por isso Jorge Jesus nunca será dos
melhores, mesmo que se ache com potencial para ser o melhor de todos. João
Pinto também nunca poderá dizer que foi dos melhores, porque ser dos melhores é
ser o melhor nas melhores equipas e nas ligas mais mediáticas e medindo forças
contra os melhores jogadores do mundo. O futebol português, convenhamos, não
tem relevância nenhuma no panorama do futebol europeu.
Eu sempre achei Mourinho um dos melhores do
mundo. Achei e apoiei e fui sempre admirador, não esquecendo nunca o quanto ter
um Mourinho ou um Ronaldo portugueses me ajudou milhentas vezes a meter
conversa com desconhecidos em terra estranha. São figuras do mundo, gente sobre
a qual toda a gente tem algo a dizer... E Jorge Jesus? Jorge Jesus será sempre
uma espécie de Mourinho... Mas o Mourinho da Reboleira.
Jorge Jesus é convencido – dizem alguns.
Acha-se o melhor de todos. Na minha opinião é genuíno e verdadeiro, e se
realmente é o que acha, eu prefiro que ele o assuma em vez de entrar no
politicamente correto e a dizer o que todos dizem, meia dúzia de balelas que só
os “gajos inteligentes” sabem dizer, balelas tipo aquela de estar na cadeira de
sonho e 15 dias depois ir embora.
Recordo que Mourinho chegou a Londres a primeira vez, e na primeira conferência de imprensa que deu disse logo que “era especial”. Nasceu ali o “Special One” e, claro, foi motivo de gozo na imprensa inglesa, um portuguesito acabado de chegar à maior liga do mundo e a reclamar estatuto entre os melhores. Caiu o Carmo e a Trindade! Caramba, de um português espera-se sempre que pense pequenino, que ambicione pouco, que fale baixinho e que seja modesto acima de tudo.
Mas ele era dos melhores e assumiu-o publicamente, e provou sê-lo dentro
do campo, e com o tempo, os tais defeitos como a arrogância e a vaidade transformaram-se
de repente em qualidades para a imprensa, o Self
Made Man, uma espécie de referência para todos aqueles que querem singrar
na vida.
Claro que é fácil ser-se vaidoso e arrogante
quando se ganha. Mourinho tem as vitórias do seu lado. Para Jorge Jesus é mais
difícil vencer essa batalha porque começou a vencer tarde demais. A fronteira
entre o reconhecimento do mérito e a exposição ao ridículo pode ser apenas uma
bola que acerta na trave. Mourinho por exemplo já começa a sentir dificuldades às
quais não estava habituado. Porque continua a comprar muitas guerras, e não tem
vitórias nos últimos dois anos para dar suporte às suas lutas.
Mas talvez seja nestes momentos em que as
coisas não correm tão bem que a auto-confiança tenha de ser mais vincada. Eu
não duvido que Jorge Jesus, à semelhança de Mourinho, acreditou sempre que iria
dar a volta por cima e não teve medo de subir a escada a pulso. E vai acabar
por cima, não duvidem, porque quando as pessoas são capazes e competentes,
quando acreditam e lutam pelos seus sonhos diariamente e nunca desistem, a qualidade
vem sempre ao de cima, mais cedo ou mais tarde.
É assim no futebol... E em tudo na vida...
P.S. Acabaram por se sobrepor dois posts extensos numa sexta-feira à noite. Sigam para baixo e não deixem de ler o excelente post do Benfica Eagle sobre as finanças dos três grandes do futebol português.
P.S. Acabaram por se sobrepor dois posts extensos numa sexta-feira à noite. Sigam para baixo e não deixem de ler o excelente post do Benfica Eagle sobre as finanças dos três grandes do futebol português.
Belo texto! Parabéns Red!
ResponderEliminarO futebol portugues nao tem relevancia no futebol do panorama europeu?
ResponderEliminarSomos melhores que a Albania,certo?
E essa comparacoes ao Mourinho podes faser mas cais no ridiculo.
Porque depois vou-te eu comparar a um emigrante milionario.
Tambem pensaste pequeno e onde estao os milhoes?
O que falhou contigo?
Porque nao estas milionario?
Tens que eesforcar assim tanto?
Nao es especial como o Mourinho?
No que podes melhorar?
Aqui, este imbecil está convencido que tu , lua vermelha escreveste o teu melhor post desta época ;)
ResponderEliminarBates umas teclas culturais e outras coisas mais ;)
nota: Talvez seja importante sentir o Eça de Queiroz ou os traços da Paula Rego, mas aquela afirmação que saiu na bola de hoje é Universal para as várias "teclas",
« Ou têm "ganda" equipe, ou não tem hipóteses »
Benfica Todos Tempos
Um comentário que eu gostaria de qualificar de muito bom, mas infelizmente entre muitas coisas correctas está muito disparate.
ResponderEliminar"Um português no estrangeiro sabe que terá de ser sempre MUITO melhor". Não generalizes e fala por ti. Inveja há em todo o lado mas a competência e qualidade acaba sempre por vir ao de cima. No estrangeiro. Eu vivo no estrangeiro, vivi em vários países europeus e nunca fui espezinhado. Mas também não faço como a maior parte dos portugueses no estrangeiro que se dão apenas com portugueses. Eu não me dou com portugueses no estrangeiro, só com os habitantes do país onde vivo. Em Roma sê Romano. O problema advém daí.
Já o teu exemplo dos ucranianos é verdade pois Portugal é o pais da inveja, da gente pequena, mesquinha, das cunhas e dos favores. A mediocridade nunca reconheceu o mérito dos outros.
"João Pinto também nunca poderá dizer que foi dos melhores, porque ser dos melhores é ser o melhor nas melhores equipas e nas ligas mais mediáticas e medindo forças contra os melhores jogadores do mundo."
Não estou mais uma vez de acordo. Então o Eusébio que nunca jogou fora é considerado como o jogador que foi em todo o mundo numa época em que não havia net, FaceBook ou Twitter. Porque será?
Estar a chamar ao JJ o Mourinho da Reboleira é desconsiderar JJ. Em que é que Setúbal é melhor do que a Reboleira? Só se fôr no peixe. A miséria é ainda maior. A educação formal é menos importante do que a formação e JJ é o melhor exemplo disso.
No resto estou de acordo.
Mário,
EliminarObrigado pelo teu comentário com o qual concordo em parte.
Discordo quando comparas Eusébio com os tempos de hoje. No tempo de Eusébio 99% dos jogadores de uma nacionalidade jogavam no seu próprio país. Bem diferente do que falar de tempos em que não ha limite de estrangeiros, e tens uma ou duas ligas que acolhem os melhores jogadores do mundo inteiro.
Quanto à questao de viver no estrangeiro. Concordo contigo quando dizes que nao é bom emigrar e rodearmo nos de portugueses. Nunca o fiz. Aliás, saí do país por razões amorosas e não profissionais.
Mas cheguei lá fora licenciado, e vi muito não licenciado (britânico) roubarem-me o lugar. Chegaram a ligar me para dizer "os seus testes foram excelentes" mas acabámos por escolher outro. Mas enfim, isto são contas de outro rosário e o propósito do texto não era esse.
O que aprendi no estrangeiro foi a virar-me sozinho, e encontrei aqui razões para seguir o meu sonho desde sempre: trabalhar por conta própria. Acabaram-se os patrões, e a mim ninguém mais espezinha :))))
RedMoon, foi o melhor que fizeste. Eu fiz o mesmo.
EliminarRespeito pela Reboleira.
ResponderEliminarO Mister Jorge Jesus nem é da Reboleira, mas sim da Venda Nova (Amadora) de ao pé do Rangel, o seu a seu dono.
E por cá estamos todos muito orgulhosos dele, smp...!!Quando perde, quando ganha...esta lá... No maior clube de Portugal, bem cotado e bem pago, devia ser sempre assim...e com muito merito!!
Subiu a pulso...Amora, Felgueiras, Estrela da Amadora, Guimarães, Braga...e agora esta lá em cima...
JJ não é "escorregadio", é sincero, autentico e genuino...gosto muito dele...é cá do bairro....!
Cumpts,
Mecca
Entao o Belem?
EliminarRedmoon, as minis e os caracóis são uma bela ideia!!! É quando quiseres...! Há caracóis e moelas em Londres? :)
ResponderEliminarO Jorge Jesus ficou só por uma razão: dinheiro. Mais nada que isso.
Os melhores caracóis e moelas são em Carnaxide. Cá vos espero.
EliminarShadows, muita coisa boa para ver e se fazer em Londres, mas please, não falemos dos conceitos gastronomicos :))
EliminarNão creio que tenha sido o dinheiro. Acho apenas que, como ele explicou na entrevista à BTV, não quis sair da sua zona de conforto. O que ele ganha dá-lhe para as suas ambições económicas. A família, o não saber línguas, a idade, tudo isso deve ter pesado na decisão. E ainda bem para o Benfica! ;-)
EliminarAlguem da holanda por aqui?
ResponderEliminarE se se deixassem de alimentar pasquins e seus lacaios, com especulações sobre JJ ???
ResponderEliminarE não nos venham dizer que é para bem do Glorioso.
Muito Bom.
ResponderEliminarSó uma nota:
O Jesus que conheço é da Amadora do
bairro das cruzes - Venda Nova.
Jesus crescido nas Cruzes só pode dar sucesso.