Entrevista MARINHO NEVES
P: O
grande sucesso Golpe de Estádio é um romance ou uma comédia? O que
pretendia com a publicação desse livro, gozar ou informar?
MN:
Naquela altura era necessário dizer a verdade e não havia outra forma de
o fazer. Penso que consegui estabelecer um diálogo com o leitor,
espevitando-lhes a curiosidade. Mas, não conheço nenhum romance que não
seja baseado em histórias reais.
P:
Muitos dizem que esse livro ditou a sua reforma antecipada dos
principais meios de comunicação. Mas custou-lhe algo mais, como
perseguições, tentativas de envenenamento ou até mesmo de assassinato.
Sabe os nomes e os motivos de quem orquestrou esses actos?
MN: Fui de facto perseguido, muito perseguido, ameaçado e continuo a ser.
Mas, não é verdade que tenha sido a minha reforma antecipada. Depois da
publicação do livro trabalhei no programa da SIC "Os Donos da Bola" e
em vários jornais, não obstante me terem tentado boicotar todos os
trabalhos que iam aparecendo. Não o conseguiram porque Portugal não
se resume à cidade do Porto, e Lisboa nunca me fechou as portas. Cheguei
a estar contratado para o jornal "A Bola" e no dia em que devia entrar
inverteram a situação. Foi caso único na capital.
P: Qual foi o restaurante onde o drogaram? Para que os nossos leitores saibam antes de lá ir comer.
MN: Foi
exactamente no mesmo restaurante onde já foram apanhados alguns
árbitros portugueses e estrangeiros que foram cear com dirigentes (“Marisqueira de Matosinhos”).
Uma vez, vinha a sair desse restaurante em Matosinhos e à saída tinha
dois jagunços à minha espera. Só não me aconteceu nada porque ia muito
bem acompanhado.
P: Na
sua intervenção no Prós & Contras sobre corrupção no futebol,
pareceu bastante incomodado com a maneira jocosa com que Valentim
Loureiro se apresentou. O que lhe passou pela cabeça quando o viu a
“berrar” que ia ser absolvido porque nunca fez falcatrua no futebol?
MN:
Quando fui a esse programa foi-me prometido que teria linha aberta para
dizer o que quisesse. Mas, quando me estava a maquilhar, o Valentim
Loureiro estava ao meu lado e mostrou-se incomodado com a minha
presença. Quando me sentei, senti de imediato que nunca me dariam a
oportunidade de dizer o que sabia, não obstante o presidente do
Sporting, Dias da Cunha, ter dito nesse programa que tudo o que aprendeu
no futebol foi comigo. Depois… foi uma comédia.
P: Você tem alguma coisa a ver com o Polvo dos Papalvos, com o Blog da Bola ou com o Tripulha das escutas?
MN: Com
"O polvo dos papalvos e "Tripulha das escutas" não. Nem sequer conheço.
Já o Blog da Bola, foi com grande emoção que me vi obrigado a encerrar,
tantos eram os processos judiciais, todos arquivados porque apresentei
provas do que dizia. Mas não
deixei de gastar fortunas em advogados e
despesas judiciais. Em toda a minha carreira jornalística tive 35
processos judiciais, todos arquivados antes de julgamento com a excepção
de um, em que fui absolvido.
P: O que faria se lhe dessem a presidência de um dos clubes mais mediáticos de modo a "limpar" o futebol em Portugal?
MN:
Mesmo como presidente de um clube podia fazer muito pouco. Primeiro
tinha de conquistar a simpatia e a confiança da maior parte dos clubes e
só juntos podíamos normalizar o actual sistema. Pinto da Costa demorou 10 anos a montar a máquina enquanto os clubes da capital se degladiavam.
P: Que previsão faz para o Futebol Clube do Porto e para o futebol nacional, quando Pinto da Costa abandonar o cargo no clube?
MN: Esse vai ser o grande problema dos portistas. Quando Pinto da Costa acabar, o clube também acaba.
P: É do
foro público que o Marinho trabalhou para o Sporting contra o
“sistema”. Quem foi a primeira pessoa a iniciar essa luta contra o
“sistema” no futebol Português?
MN:
Quando Dias da Cunha foi eleito presidente do Sporting, depressa se
apercebeu da falcatrua que era o nosso futebol. Não sabia para que lado
se havia de virar. Fui então contactado pelo seu assessor, Carlos
Severino, para ver que disponibilidade tinha para trabalhar directamente
com o presidente com a função de o alertar dos perigos que o clube
corria. Inicialmente não me mostrei muito interessado, mas por outro
lado pensei que poderia lutar por dentro e combater a corrupção, até
porque a Polícia Judiciária já me tinha como consultor e não me pagava
nada. Aceitei, mediante um bom vencimento e com a condição, por mim
proposta, de que se não gostassem do meu trabalho despedia-me sem
qualquer tipo de indemnização. Fiquei por lá seis anos, mas no meu
segundo ano fomos campeões nacionais, principalmente porque o Sporting
sabia com 15 dias de antecedência as armadilhas que lhes estavam a
preparar. Um exemplo: 15 dias antes avisei o presidente que no jogo X
que antecipava um jogo com o Porto, o árbitro da partida seria fulano e
que Beto e Rui Jorge iriam ser espicaçados por esse árbitro durante o encontro para este encontrar motivos para os expulsar.
No dia do jogo confirmou-se a minha informação. Num outro caso, num
jogo decisivo para a conquista do campeonato, frente ao Boavista, soube
que o árbitro da partida tinha ido almoçar com Valentim Loureiro, que
era presidente da Liga. Avisei o presidente e todos ficaram em pânico.
Não sabiam o que fazer porque não havia provas. Disse-lhes que a única
coisa a fazer era Manolo Vidal, antes do jogo, quando fosse entregar as
fichas aos árbitros, deveria dizer: "Então o almoço de terça-feira foi bom?" Mais
nada. Quando o árbitro ouviu aquela pergunta associou de imediato a
intenção do delegado ao jogo e ficou em pânico, contou-me depois Manolo
Vidal. Durante esse jogo o árbitro até beneficiou o Sporting e fomos
campeões. O árbitro não sabia que provas tínhamos e como era internacional, não colocou a sua carreira em risco.
Mas a conquista do campeonato desencadeou uma série de invejas dentro
do próprio clube e quando dei por ela estava a lutar contra gente que
estava a ser paga pelo clube, mas que queria que este perdesse para conquistarem o poder e poderem fazer os seus negócios. Cheguei mesmo ao ponto de saber que os meus relatórios semanais eram entregues, por gente do Sporting, aos nosso principais inimigos, Porto e Boavista. Não sou nem nunca fui sportinguista e nunca escondi isso. Era apenas o meu trabalho.
P: As
acções do Sporting nessa luta contra o “sistema” tinham qual objectivo? E
as do Benfica? Os lutos pela arbitragem, levar DVD’s ao ministro ou
qualquer outro tipo de protesto surtem mesmo algum efeito? Amedrontam o
“sistema”?
MN: A primeira coisa que fiz, foi convencer Dias da Cunha de que devia fazer uma aliança com o Benfica se queriam conquistar o poder.
Sempre disse que o inimigo do Sporting não era o Benfica, mas o Porto e
o Boavista da altura. Consegui. Dias da Cunha fez uma aliança com Luís
Filipe Vieira e foi à televisão dizer que as cabeças do sistema eram
Pinto da Costa e Valentim Loureiro. Forneci documentos que provavam isso mesmo. O
Porto e o Boavista começaram a sentir-se ameaçados e começaram a
minar o
Sporting por dentro utilizando alguns elementos que hoje continuam no
clube. Dias da Cunha não aguentou a pressão e demitiu-se. Pedi a demissão com ele.
P: E
crê que Benfica e Sporting alguma vez vão lutar em igualdade de
circunstâncias com o Porto nos bastidores do futebol nacional? Essa
união entre os dois clubes poderia purificar o nosso futebol ou acha que
cada qual, à vez, preferem aproveitar o que podem do velho “sistema”
que se encontra ainda, residualmente, instalado para próprio benefício?
MN:
Para se ganhar e encontrar defesas para os mais diversos ataques, é
necessário ter poder. Disse isso muitas vezes a Dias da Cunha. Primeiro tinham de conquistar poder na AF de Lisboa, como fizeram os Dragões na sua cidade. Depois
encontrar aliados nas Associações mais poderosas para se chegar ao
poder na FPF, mais propriamente na disciplina e arbitragem. Não para
fazer o mesmo, mas para fiscalizar e enfraquecer o poder de manobra do seu mais directo opositor. É
necessário que os árbitros sintam que estão sob vigilância permanente.
Houve casos em que grandes árbitros eram promovidos e mostravam
qualidade, mas se não se adaptavam ao sistema, eram despromovidos. Muitos queriam ser honestos, mas o sistema não lhes permitia tal atitude. Os mais vigaristas eram sempre os primeiros a ser promovidos.
Para travar tudo isto era necessário ter poder e Benfica e Sporting não
tinham um único dirigente na FPF ou na Liga para fiscalizarem a
situação ou impor a sua vontade. Vejam o exemplo desta época: O Porto
está zangado com o Sporting e Benfica e a época deles tem sido um
desastre, imaginem o que seria se Sporting e Benfica fossem aliados. Tem
sido assim ao longos dos 20 anos e os clubes de Lisboa não aprendem. Pinto da Costa é um mestre na acção de dividir para reinar.
P: Falou nos árbitros. É possível, a um qualquer árbitro, chegar a internacional sem essa tal “bênção” do “sistema”?
MN: Nem pensar. O
próprio Vitor Pereira sabe que só está naquele lugar porque tem uma
grande flexibilidade de coluna. Quando não for assim acontece-lhe como
aos outros. É despedido ou criam-lhe situações que o obriguem a
demitir-se.
P: O
que aconteceu a quem lutou contra isso? Que outras protagonistas do
Futebol, para além do Marinho, foram afastadas da ribalta do futebol?
MN: Infelizmente não há muitos mais. Lembram-se
do árbitro José Leirós? Denunciou uma tentativa de corrupção por parte
do Braga. Nesse dia era pré-internacional e a quem todos apontavam como
internacional, mas no final da época, acabou por ser despromovido para a
2ª categoria e depois desistiu. Mas houve muitos mais, mesmo em
termos de comunicação social. No programa "Donos da Bola" da SIC,
tínhamos 52% de share, ou seja, o programa mais visto desta estação e de
um dia para o outro acabaram com ele. Nós estávamos sempre à frente
da polícia. A PJ tinha um plantão a ver o programa e com base nas nossas
informações fazia buscas à segunda-feira. Nesse tempo o futebol tremeu,
mas quem caiu fomos nós.
P:
Sabemos que se tem dedicado a outras artes, com bastante sucesso até.
Pensa ainda voltar a exercer a sua profissão, após ter sido um dos
primeiros jornalistas de investigação desportiva ou será que esta nova
geração de directores nas publicações continuam a não ter “tomates” para
contrariar o poder?
MN:
Para mim o jornalismo acabou, mas acabou porque eu quis. Os novos
jornais não querem gente com coragem e integra. Querem moços de recados.
Serviçais do poder. É como disse Sócrates: "Não me preocupo com jornalistas. Prefiro controlar os seus patrões." Hoje já não é uma questão de tomates, mas sim de atitude. Se tens tomates não tens onde escrever. Eu mesmo tenho o Golpe de Estádio 2 já escrito há mais de 6 meses e quando se soube disso desapertaram-me as rodas do meu jeep. Também sei que a maior parte das editoras estão controladas, assim como livrarias, vejam o que aconteceu ao livro do Octávio. Alguém falou disso??? Quase passou despercebido. É assim que o poder joga.
P: Por
fim, gostaria de deixar alguma mensagem aos milhares de leitores
"anónimos" que este e outros blogs de futebol congregam que repudiam a
maior parte dos jornalistas pela falta de isenção inerente?
MN: Entendam melhor os jornalistas. Conheço muitos que gostariam de mostrar coragem, mas ela morre logo na marcação dos serviços."
- retirado daqui.
Ao ponto que chegámos,com tantas provas, tantos depoimentos, tantos casos desmascarados, e continuam os mesmos personagens nos mesmos lugares de poder.
ResponderEliminarOf topic! Que terá acontecido na RTP Informação, que o programa "Trio d'Ataque" foi interrompido antes das 23 horas para intervalo - o que não é normal - e não retomou? Algo de anormal (e quiçá de grave) se terá passado... Aguardemos pelas informações!
ResponderEliminarParece que o programa vai retomar - mais de 30 minutos depois - e depois da transmissão de outros programas neste entretanto! Hum! Cheira a gato!
ResponderEliminarBom! +- 40 minutos depois, recomeçou. Justificação: Motivos de força maior???????
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ResponderEliminarÉ bom que se saiba o que quer dizer, ""motivos de força maior""".
Terá sido ameaça de bomba?????????????
ResponderEliminarGrande Marinho
Abraço
E ainda temos, de quando em vez, adeptos do FCPutedo a escrever neste blogue, armados em santanários, a tentarem pregar moral, como se não soubessem de todas as trapaças e roubos de sacristia perpetradas pelo grande consumidor de Biagra! Por mim, não entraria aqui um! Essa gentalha fede!
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