Neste texto vou falar um bocadinho do Sporting, pelo que
recomendo que os mais sensíveis a estas coisas virem a página e não leiam.
Então é assim:
Há algum tempo que não vivia um fim de janela de
transferências de forma tão intensa. Por causa de Rafa? Claro que sim. Mas não
só. Penso que eu, e a maior parte dos amantes do futebol, estava interessado em
ver o que fazia o Sporting em relação a inúmeros dossiers que tinha pendentes.
Eu, ao contrário de outros Benfiquistas cujas posições
respeito evidentemente, nunca vi crescer dentro de mim nenhum especial estigma
em relação a Bruno de Carvalho. Sou Benfiquista sim, quero sempre que o Benfica
ganhe e o Sporting perca, mas como pessoa atenta ao fenómeno desportivo (e não
só do meu clube), quando analiso o trabalho de Bruno de Carvalho, vejo os
podres sim, mas vejo também muita coisa bem feita. Não contem comigo para
discursos totalitários e redutores do género, “nós fazemos tudo bem e os outros tudo errado.”
Por exemplo, a
reestruturação financeira... Injusto para os outros clubes?
Totalmente de acordo. Mas que importa isso para os Sportinguistas? Foi um
acordo que salvou o Sporting, um acordo que permitiu ao Sporting competir ao
mais alto nível, mérito a quem conseguiu esse acordo...
O segundo
exemplo, o acordo televisivo... O Benfica celebrou o seu acordo com a NOS e
lançou os foguetes e fez a festa, e imediatamente usou esse acordo para fazer
troça dos “pequenotes” que não tinham estaleca nem dimensão para conseguir um
acordo sequer parecido. Bruno de Carvalho sentou-se à mesa poucos dias depois e
conseguiu o seu acordo, talvez um bocadinho melhor ou um bocadinho pior que o
nosso (depende das leituras), o que sei é que fez com que Vieira sentisse
imediatamente que talvez o seu negócio não fosse assim tão bom, daí ter
prometido aos Benfiquistas um novo “sentar à mesa” com a NOS, que até agora deu
bola!
O terceiro
exemplo, a contratação de Jorge Jesus... Enquanto os dirigentes do
Benfica e Rui Gomes da Silva por exemplo, gozavam e riam a bom rir com a
possibilidade sequer de Jorge Jesus ir para o Sporting, eis que Jorge Jesus foi
mesmo para o Sporting, jogada de mestre de Bruno de Carvalho que com isso deu
ao futebol do Sporting uma dimensão inquestionavelmente superior àquela que
seria possível imaginar há dois anos atrás.
O quarto
exemplo, o tal que faltava e que se viveu nos últimos dias, era
saber a forma como o Sporting conseguia vender os seus jogadores...
E é justo reconhecer, o Sporting fez excelentes negócios
neste defeso, ao ponto de fazer parecer hoje o negócio Renato Sanches um
negócio curto (tal como Gaitan hoje parece curto)... Daí claro a reação de muitos Benfiquistas algo "picados" sempre a dar enfase
ao, “alto lá, que não são 35 milhões, são
80, há para lá umas clausulas, tal como havia no contrato de Bernardo Silva.”
LFV não é
bruxo e o futebol é o momento? Totalmente de acordo mas, também aqui, a razão
pela qual Bruno de Carvalho conseguiu os negócios que conseguiu com João Mário
e Slimani foi porque realmente, e ao contrário de LFV, Bruno de Carvalho NÃO queria vender, tal como
não queria vender Adrien, Rui Patrício ou William.
LFV não vendeu
Renato por 70 milhões porque, ao ter um miúdo de 18 anos com um futuro incrível
no futebol, ao fim de sete meses de futebol sénior já o QUER vender e só espera
fazer um bom negócio... Arrisco-me a dizer que se Renato Sanches estivesse no Sporting,
provavelmente teria saído pela cláusula de rescisão, isto porque duvido MUITO que
Bruno de Carvalho fosse a correr vender um puto prodígio de 18 anos antes de um
Europeu, que garantiria sempre um encaixe financeiro extraordinário hoje,
amanhã ou daqui a três anos... Renato Sanches, ao contrário de Nélson Oliveira
por exemplo, já tinha uma carreira sólida no Benfica e era um valor seguro!
E sim, Slimani e João Mário foram excelentes negócios
para o Sporting, tal como a recusa de 25 milhões pelo Adrien é um sinal de que
para o presidente do Sporting a grande prioridade neste momento é o futebol
dentro das quatro linhas, que não quer saber de vender os seus melhores
jogadores a não ser por propostas verdadeiramente irrecusáveis! Ou pagam ou não
os levam! E como se viu, tanto os queriam que pagaram mesmo! E NÃO QUERER
vender (ou estar-se em condições de não vender), ao contrário de quando se QUER
vender, é o primeiro passo para se fazer um excelente negócio.
Por isso, estes quatro exemplos são méritos indiscutíveis
do Presidente do Sporting. Ponto. Independentemente das cores de cada um! E já
não falo das contratações de Campbell e Markovic que são sintomáticas da
ambição Sportinguista para a presente época!
Agora, onde é que tudo isto deixa o Benfica? É motivo de
preocupação tudo isto a que se tem assistido? Para mim não! Vamos lá a ver,
isto só preocupa a quem desenvolveu um ódio visceral contra alguém, cujo ódio
só permite ver a árvore e não deixa ver a floresta.
O Benfica teve
um “bom” defeso, reforçou-se (para as posições que entendeu necessárias) a
tempo e horas... Vendeu quem quis (ou tinha de) vender... Contratou Rafa no
fim, uma grande contratação na minha opinião... Depois de 60 (!!) milhões
investidos num plantel que já era Tri-Campeão, mal do Benfica se andasse a
queixar-se ou mergulhado em pessimismos.
Vai ter um
Sporting forte pela frente? Claro que vai! Será bom para o campeonato e nós só
temos de chegar em Maio na frente e fazer o Sporting mergulhar numa grande
crise!
Crise porquê? Porque claramente, isto é o All In de Bruno de Carvalho e também de...
Jorge Jesus! Nenhum clube português aguenta investimentos da dimensão do
Sporting este ano sem ter de vender pouco tempo depois! O Sporting, para os
mais distraídos, mais do que duplicou os custos com o futebol no espaço de dois
anos!
Nenhum dos
dois tem tempo a perder... Bruno de Carvalho tem de vencer as eleições este
ano... E Jorge Jesus quer ser campeão e... sair... e ir ainda a tempo de tentar
um grande clube lá fora ou então... ir treinar o FCP...
Arrisco-me a
dizer que esta “força aparente” do Sporting é do género, “vender para dar metade ao banco, prefiro manter os jogadores, ganhar
um título que preciso como de pão para a boca até mesmo para facilitar a
reeleição, e começar a pagar aos bancos depois.”
E é essa pressa que, acredito, acabará por matar o
Sporting, porque não acredito que, ao contrário do Benfica há seis anos atrás, o
Sporting tenha uma política desportiva sustentável a longo prazo...
O Benfica
tinha já com Jorge Jesus, uma politica de contratações bem definida... Comprar
jogadores novos e e promissores, valorizá-los
e vender mais caro, sustentado na experiencia acumulada de alguns
jogadores mais velhos, já campeões e com muitos anos de casa.
O Sporting não
tem isso. O Sporting era a equipa de miúdos, reforçada agora com graúdos com poucas
perspetivas de avultados encaixes financeiros no futuro. Os jogadores vendáveis
do Sporting são aqueles que já lá estavam antes de Jesus, dos quais, como tão
bem sabe fazer, Jesus soube tirar máximo rendimento.
Mas não se vê no Sporting a aposta em Javis Garcias, em
Witsels, em Rodrigos ou em Gaitans... Vê-se sim, apostas na urgência de ganhar
já, a aposta na maturidade (não significando isso falta de talento), os custos
com o futebol a disparar e, amanhã, é difícil vislumbrar onde andam essas jóias
vendáveis por muito milhão que manterão a roda a girar, tal como acontece no
Benfica ou FCPorto.
O Sporting até
pode vencer um campeonato, Jesus irá à sua vidinha, e a pergunta será: “E o que se segue depois?”
Nesse aspeto
pois, acho que o Benfica tem uma política desportiva muito mais bem sustentada,
com bem mais hipóteses de alcançar o sucesso já hoje mas também no futuro que
aí vem.