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quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Neofascismo

. 14 comentários
Vivemos um tempo de mudança de paradigmas à escala global. Depois da implosão do socialismo soviético, assistimos hoje, à emergência, há muito esperada, dos novos potentados económicos constituídos pela China, Índia, Rússia, Brasil e outros países resultantes da fragmentação soviética. No médio oriente, as convulsões sociopolíticas sucedem-se imparavelmente libertando as respetivas sociedades civis de regimes ditatoriais, dinásticos e alguns teocráticos, rumo, presume-se, à emancipação política das populações, abrindo caminho à instauração de regimes democráticos. Tal realidade, associada à evolução regulamentar do comércio internacional, impõe gigantescos desafios de superação tecnológica e financeira ao mundo ocidental, cujos resultados tardam em surgir. A crise das dívidas soberanas na Europa confronta os respetivos líderes com a imperiosidade de novo salto na integração política europeia, não havendo mais lugar à feira de vaidades e nepotismo em que a europa se transformou nos últimos tempos. 

É neste contexto adverso que o nosso Portugal enfrenta a sua própria crise, consistindo, no curto prazo, no controle da dívida externa e na execução das reformas estruturais que hão-de conduzir, no médio prazo, à promoção do tão ansiado crescimento económico. No entanto, mudanças mais profundas e mediatas terão de ocorrer, sem as quais, eventuais êxitos próximos serão, inexoravelmente, comprometidos no futuro. Tais mudanças, deverão resultar no amadurecimento cívico e político da generalidade da população, com destaque para os nossos líderes; políticos, económicos, judiciais e policiais. Terminado o flagelo da tenebrosa guerra colonial, ultrapassados os excessos do PREC, que, irresponsavelmente, conduziram o País às portas de nova guerra civil e deixaram cicatrizes económicas e sociais que ainda perduram. Instituiu-se, finalmente, uma Democracia política que recolocou o País na rota de crescimento económico e progresso social, iniciado em 1950. 

Consagrou-se a liberdade de expressão, de associação, de ação política, a igualdade de género, de religião e de raça. Liberalizou-se condicionadamente o aborto, legalizou-se o casamento homossexual, massificou-se o ensino, instituiu-se o Serviço Nacional de Saúde, alargaram-se e diversificaram-se os apoios sociais, criaram-se as Regiões Autónomas, procedeu-se à adesão e integração na UE, etc. etc. Tudo isto é verdade, mas, tal como as límpidas águas dos rios arrastam o lixo e a lama das margens, também esta torrente de progresso está toldada de paradoxos e contradições que têm de ser ultrapassados, para que possamos ascender a novo patamar socioeconómico. Não há progresso, mas vergonha e indignação, perante cerca de dez mil pessoas sem-abrigo, perante cerca de dois milhões de pobres, perante uma das maiores assimetrias económicas do mundo, perante a inversão da pirâmide demográfica, perante a continuada desertificação e abandono do interior, perante a fragilidade dos nossos idosos e a impotência e desespero dos nossos jovens, perante o nepotismo que, alegadamente, corrompe, transversalmente, as estruturas do Estado, perante o jacobinismo, o egoísmo, a intolerância, a caça às bruxas, o ódio, que oportunisticamente se estabeleceram em mentes doentias, rancorosas, em permanente “acerto de contas” com o passado, incapazes de conviver com a sua própria incapacidade e com a dignidade alheia. E é neste âmbito que se insere o desporto em geral, o futebol em particular e o nosso Benfica em especial. O fim da “Primavera Marcelista” destapou a “caixa de pandora” e os hipócritas poderes de facto trataram de se vitimizar, espezinhando todos os outros. 

É a isto que eu chamo neofascismo; à semelhança do que se verifica noutros sectores, nomeadamente, religião e economia, também o Benfica e os Benfiquistas têm sido, crescentemente, alvo de intolerância social e institucional, com origem bem conhecida. Os episódios são já demasiados para serem ignorados. O mais recente, do miúdo Benfiquista “aconselhado” a desistir da sessão de autógrafos de atletas do Braga, é mais um episódio sórdido a juntar a tantos outros. Não vou aqui, agora, mencionar todos os que recordo, pois a crónica já vai longa e são mesmo muitos. Mas convido todos os leitores a darem o seu contributo reunindo, pacientemente, todos os episódios que recordem, sustentados em factos documentados ou testemunhados, de intolerância social e discriminação institucional exercida sobre os Benfiquistas ou o Benfica. Poderemos, eventualmente, elaborar um manifesto “antineofascista” ou um “livro negro do neofascismo”, detalhado, o qual poderia ser disseminado pela comunicação social.

Temos que fazer ouvir, a nossa voz perante a impotência ou passividade cúmplice das instituições democráticas. Nenhum progresso será possível tolerando a corrupção, a aldrabice, o chico-espertismo, o roubo do suor alheio, a negação dos direitos alheios e o falso sucesso de que, alegadamente, o futebol é exemplo, suscitando o afastamento inexorável do público. Quem está habituado a ver futebol não necessita de escutas nem de outros testemunhos, para perceber o que se passa num jogo ou nas instituições que o superintendem. Os preciosismos formais que, por vezes, propiciam “convenientemente” a não condenação de alguns arguidos, não impedem que a população formule o seu próprio juízo, quer destes, quer do sistema judicial, quer do próprio regime, sentindo-se defraudada perante a regressão aos métodos do castrante Estado Novo. Os valores Benfiquistas, da excelência, da lealdade, da bravura, da tolerância, da determinação, do respeito e do patriotismo, são os instrumentos do tão ansiado progresso económico e social. Em Portugal ou em qualquer outra parte. Não o ódio, o rancor, a intolerância, a inveja ou a violência. Sejamos, cada um de nós, todos os dias, em nossa casa, nas nossas empresas, com os nossos amigos e adversários, Benfiquistas. Questionemo-nos no final de cada dia, se merecemos o estatuto de Benfiquista.

Um abraço a todos,
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14 comentários

  1. Nao ha paragrafos.. doi me a vista de ler.

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  2. Excelente post e espero que todos aceitem este desafio de enumerar todos os atentados e ataques ao nosso Benfica.

    Claro que fazer ouvir a nossa vós nesta organização desorganisada que e a GLORIOSASFERA não é facil.

    Há algum tempo tive a ideia mais alguns Benfiquista que os bloguesse organizassem numa Associaçao ou coisa do genero, que se congressassem forças para em unissono defendermos o clube de todo o sistema mafioso que nos rodeia.

    A ideia não vingou, não sei se por alguns terem receio de perder protagonismo, se por comodidade e outra razão que não descortino.

    Em tempos a união das Casas do Benfica conseguiu levar a efeito algumas tomadas de posição que surtiram efeito e hoje na era da internet onde é possivel sem grandes custos organisar iniciativas a velocidade de um clique, nada se faz. É muito blablabla, cada um por si mas com efeitos nulos.

    Foi só uma ideia, e mesmo sem ter blogue acho que a união faz a força.

    Ainda vamos a tempo.

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  3. Excelente tema.

    E até vem mesmo na hora certa...para desanuviar e falarmos de outras coisas.

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  4. E nem um Post sobre a situação do Carlos Martins?? Um grande Abraço para ele!

    Será que não haverá guerra de empresários? quantos jogadores existem na selecção sem ser do Jorge Mendes??


    O Futebol Bipolar onde a análise da actualidade futebolística é feita por 2 amigos de Clubes Rivais e gostariamos de propor a troca de link.
    Fica o Link para partilha:

    http://futebolbipolar.blogspot.com/

    Os nossos cumprimentos,

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  5. "...instituiu-se o Serviço Nacional de Saúde, alargaram-se e diversificaram-se os apoios sociais, criaram-se as Regiões Autónomas, procedeu-se à adesão e integração na UE, etc. etc...."

    O grande problema é que tudo isso foi edificado sem sustentabilidade económica, sem criação de riqueza e sem produtividade do país. Um dia teria de estoirar.

    Quanto ao resto? São: 16 anos de Republica facínora; 48 de Republica de ditadura; 36 de republica democrática de LADRÕES!!!

    Almada-ZAu

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  6. bem visto, haveria tanto para dizer...
    morte ao neofascismo!

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  7. 4 séculos de uma monarquia decrépita, intolerante, provinciana, que perseguiu judeus e árabes, que ostentava com as riquezas exploradas no novo mundo e em vez de desenvolver o país nos condenava ao atraso sócio-económico

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  8. António Barreto17/11/11 18:42

    Obrigado a todos pelos comentários;

    Caro anónimo das 1001; Arrisquei, excepcionalmente, um texto extenso a troco de maior amplitude e extensão da contextualização do futebol. É que, anda por aí muita “gandulagem” que age como se o futebol fosse uma ilha de atrasados mentais.

    Caro Conde; Julgo que devemos insistir na denúncia do Neofascismo. Parecem-me boas as ideias que sugere; constituir, ainda que a título experimental, a União dos Blogues Benfiquistas ou, a União das Casas do Benfica. A questão seria a de como fazê-las funcionar com eficácia. Já em tempos propus na “Tertúlia” o Movimento de Cidadania Benfiquista, que poderia integrar tudo isso.

    Caro Viriato; obrigado.

    Caro Bruno; Carlos Martins merece toda a nossa solidariedade e apoio. Esta crónica foi iniciada anteriormente. Se não sair uma crónica a propósito, fá-la-ei eu. Quanto à “nossa” Seleção, gostei da vitória, apesar das trapalhadas que por lá se verificam. Parece-mo óbvio que há certos “figurões” que se apoderaram dela em seu próprio benefício razão pela qual muita gente está de “pé atrás”.

    Caro Almada; Até 2000, os ganhos de produtividade mantiveram-se em linha com a média geral. O que falhou foi a competitividade devido ao maior aumento relativo dos encargos correntes. E os Governantes não foram os únicos responsáveis; sobretudo, as corporações que detêm algum poder de rotura não hesitaram em garantir para si regalias incomportáveis, e injustas face aos restantes trabalhadores. Quanto aos “ladrões”, a nossa justiça está totalmente descredibilizada, na opinião dos Portugueses.

    Caro António Maia: Fim do neofascismo.

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  9. Red Sniper17/11/11 19:46

    Este autẽntico manifesto de cidadania,tem muito que se lhe diga,e sobretudo serviria como um excelente motivo para uma discussão muito mais abrangente !

    Sinceros parabens pela clareza e lucidez como expós uma matéria tão sensível mas que carece cada vez mais de ser discuta com verdade!

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  10. As novas vestes do fascismo já circulam e... há muito.

    Aliás nunca sairam do guarda-fato.

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  11. Excelente artigo de opinião que resume com grande factualidade a história recente do mundo e do nosso país. A conclusão que envolve o Benfica, é de elevado nível analitico, pois é uma realidade que se constata a olhos vistos.

    Contudo não vejo o problema apenas fora do Benfica. Entendo que qualquer instituição, agremiação, associação etc, para se respeitar, tem de se dar ao respeito. O que as pessoas que mandam no Benfica têm feito é precisamente o contrário.

    E como não quero manchar pelo debate, a excelência do texto, fico-me por aqui, pois sei que iria ferir muitas sensibilidades. Mas repito, parabéns ao autor de tão eloquente e de fácil leitura, texto.

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  12. Ainda em relação a este excelente artigo do António Barreto, e no sentido de complementar o mesmo, gostaria de partilhar convosco um excelente comentário do enorme bernfiquista Pedro Ribeiro que numa crónica muita assertiva retrata-nos uma Europa,que está no seu "Final Countdown".

    Um dia, contaremos aos netos histórias do tempo em que a Europa tinha uma moeda única, e não era preciso passaporte para viajar de Portugal até à Ucrânia, atravessando toda uma Europa Única.
    Essa Europa faleceu, paz à sua alma.
    Eu, que sempre acreditei no projecto europeu, com respeito pela idiossincrasias de cada país, claro, mas também com uma noção vasta de pertença, tenho pena É uma tragédia. Faz-me alguma impressão concordar com Sarkozy, mas ele dizia, um destes dias, que a União Europeia é antes de mais uma garantia da Paz no Velho Continente, e eu acho isso também. Claro que ele disse isto no intervalo de mais uma conversa com a Sra. Merkl, a combinar as regras de uma Europa de 1ª,classe clube privado, no eixo Paris-Berlim.
    Penso que os cientistas políticos, sociólogos, historiadores, jornalistas, economistas e filósofos têm muito para estudar, daquilo que esta Europa foi, sonhou ser e afinal será, daqui para a frente; quando deixar de ser esta coisa nenhuma que agoniza a cada dia.
    Impressiona que, por essa Europa fora, não haja um Líder politico que inspire, mobilize, tenha uma visão humanista e ao mesmo tempo realista, para salvar a ideia da União Europeia. Só temos, em Estrasburgo, Bruxelas e por toda a Europa, políticos amorfos, cinzentos, todos uns iguais aos outros, com um pé na política e outro na alta finança; cada um com o seu altar de adoração à entidade "mercados", politicos que, na sua esmagadora maioria, parecem viver a sonhar com o que vão fazer quando deixarem de ser só políticos. E neste marasmo não vejo nem direita nem esquerda, só uma enorme massa de gente conformada demais. No fundo só há ou espertalhões ou ingénuos.
    E depois há os próprios cidadãos. Impassíveis. Numa Europa que nos deu a cultura, a arte, o conhecimento, séculos a fio, agora não há ninguém ao nível dos chefes europeus, que se distinga pela inteligência, capacidade de acção em tempo de crise, rasgo. Não há ninguém que "vire a mesa".
    A Europa como a conhecíamos já morreu e ninguém lhe disse.

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  13. António Barreto18/11/11 18:27

    Caro Red: Importa não perder a perspetiva da floresta. O descalabro a que o país chegou já se anunciava, há muito, no futebol. Não partilho da visão do nosso Pedro Ribeiro sobre a Europa. A integração Europeia e a moeda única colocaram novos problemas para os quais se procuram soluções, que acabarão por chegar, propiciando novo salto qualitativo. É próprio do progresso das sociedades humanas. O grande salto a dar é a integração política. Mais tarde ou mais cedo terá que ocorrer. Quanto a Portugal, venceremos mais esta crise, saindo dela com maior maturidade política. Importa minimizar os danos sociais.

    Caro maltês: Tais protagonistas saíram do guarda-fato logo em 74 e andam por aí travestidas de democratas, como é o caso do Costa.

    Caro eagle: Obrigado. Não se coíba de criticar o nosso Benfica. É com ela que se evolui desde que inteligente e construtiva.

    Um abraço a todos

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